Hoje, a liturgia nos fala de um tema muito importante: a nossa vocação e missão de cristãos no mundo. Como pessoas de fé e seguidores, podemos dizer que nossa missão é a mesma de Jesus. Mas, falar de missão é também falar de dois aspectos fundamentais: visão e valores. A visão é para contemplar a realidade que nos cerca e os valores são o que devem orientar nossa prática de vida. Podemos dizer que estas duas palavras são o fio condutor das leituras na liturgia de hoje.
O evangelho inicia dizendo: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque eram cansadas e abatidas, como ovelhas que não tem pastor” (Mt 9, 36). Jesus olhava e enxergava o povo sofrido e foi esta visão que serviu como bússola de sua missão e ação. Era um povo doente, cansado, abatido e abandonado, como ovelhas sem pastor. Jesus não somente se identificava com este povo, mas também teve compaixão. Foi a compaixão que serviu como motor para realizar sua missão. Em outras palavras, seguindo o exemplo de Jesus, a visão que temos da realidade provoca a compaixão e orienta para a missão. Esta visão de Jesus diante das multidões, é também a mesma do Pai do qual Ele recebeu a missão.
Na primeira leitura do livro de Êxodo, Moisés recebeu a missão de conduzir o povo pelo caminho da libertação. Deus, ao fazer aliança com este povo que passou pelo sofrimento e escravidão no Egito, acordou a memória que foi Ele, o Deus Javé Libertador, que resgatou este povo das garras da opressão: “Assim deverás falar à casa de Jacó e anunciar aos filhos de Israel: Vistes o que fiz aos Egípcios, e como vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a mim” (Ex 19, 4). A memória da ação de Deus faz com que o povo reconhecesse sua missão de ser um povo escolhido. Por isso, foi preciso lembrar que foi a partir de uma realidade de sofrimento que Deus se manifestou e fez a aliança de fidelidade e compromisso de sempre caminhar com este povo: “Vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa” (Ex 19, 6a).
Mas não é somente a partir da visão de uma realidade de sofrimento que a missão se realiza. É também necessário vivenciar certos valores para que a missão seja de acordo com o projeto do Pai. Por causa disto, Jesus, no primeiro momento, não somente reconheceu a necessidade de ter trabalhadores para a missão, mas também realizar ações que vão transformar a vida. São valores essenciais que se tornam prioridades para a chegada do Reino: “Em vosso caminho, anunciai: `O Reino dos Céus está próximo´. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebeste, de graça deveis dar!” (Mt 9, 8). Jesus deu estas instruções para os apóstolos, pois a missão dos discípulos é a continuação da prática libertadora de Jesus. E esta prática é ancorada na esperança de que a luta pela justiça, garantida pelo dono da plantação, irá produzir frutos de vida para todos. É justamente estes valores de justiça, fraternidade e vida que orientam a missão de Jesus e de seus seguidores.
Podemos dizer que a relação entre visão e valores é de fundamental importância também para os nossos dias. Um dos aspectos que afeta todos nós é a questão do meio ambiente. É claro que a visão que temos do mundo é moldado pelos valores que praticamos. Uma pessoa que valoriza a sustentabilidade e a preservação do meio ambiente pode ter uma visão de futuro em que o planeta é limpo e saudável, e as gerações futuras podem desfrutar de um ambiente sustentável. A forma como uma pessoa enxerga o mundo e as escolhas que ela faz têm como base suas crenças e princípios fundamentais. Seguir Jesus e realizar a missão de anunciar o Reino, tanto ontem como nos dias de hoje, precisa de uma visão que enxerga o sofrimento e as desigualdades, que é orientado por valores que transformam a vida e que se tornam como prioridades de ação. Assim, a missão é o foco de atuação, a visão é uma bússola que norteia a vida e o compromisso dos seguidores e os valores são as prioridades na construção de um mundo melhor onde se crê que “O Reino de Deus está próximo”.
Moisés, ao subir a alta montanha, acordou na memória do povo sobre a atuação de Deus como libertador da escravidão e ainda lembrou os apelos de Deus: “Se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos” (Ex 19, 5). Que todos nós como cristãos no mundo e seguidores de Jesus sejamos a nação santa na realização da nossa missão de fazer acontecer o Reino de Deus entre nós onde os valores de justiça, igualdade e fraternidade sejam vividos.
Por Frei Gregório Joeright, OFM
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo