Todos nós gostamos de uma fotografia. Tiramos uma foto para marcar um momento na vida que pode ser uma festa, uma viagem, um encontro com um amigo ou para registrar uma situação de sofrimento, alegria, violência ou até de morte. Faz pouco tempo que inventaram o selfie que nos dá a possibilidade de tirar uma foto de nós mesmos. Quando olhamos para uma foto, procuramos ver os detalhes: as pessoas presentes, o cenário, a paisagem e o que está acontecendo naquele momento. Uma foto pode contar toda uma estória de pessoas ou de acontecimentos.
A leitura do evangelho de hoje, a estória da travessia para o outro lado do mar é como uma foto da primeira comunidade cristã. Podemos dizer que a própria comunidade tirou um selfie de si mesma. Vamos então contemplar o cenário desta foto.
Jesus tinha ensinado a multidão usando parábolas sobre o Reino de Deus e depois convidou os discípulos a sair, ir para a outra margem do mar. Na travessia começou uma grande ventania com ondas que afundavam o barco. Apesar da tempestade, Jesus estava dormindo e os discípulos ficaram apavorados: “Mestre estamos perecendo e tu não te importas?” (Mc 4, 38b). Jesus levantou e mandou que o mar e o vento se calassem. Depois perguntou: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé? Eles sentiram um grande medo e dizia uns aos outros: Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?” (Mc 4, 40-410.
Este retrato da comunidade mostra algumas coisas importantes. O outro lado do mar representa o Reino de Deus, o destino da comunidade. Jesus ensinava sobre este Reino que deve ser também o objetivo a ser alcançado por todos os cristãos. O barco é a própria comunidade que está atravessando o mar, que representa o mundo, para alcançar o Reino. Os discípulos são os cristãos que enfrentam todo tipo de dificuldade, são as tempestades e ventos contrários diante do grande desafio de construir o Reino. Para eles os ventos contrários eram as perseguições, o medo, os conflitos internos na comunidade e a própria falta de fé. Diante das tempestades, sentiram que a comunidade estava mergulhada nas ondas do mundo e começaram a duvidar e perguntar: quem é este Jesus que foi um condenado à morte de cruz, uma pena de escravo e dum maldito nos olhos dos Judeus? Este retrato era justamente para mostrar que Jesus tem o poder sobre as forças do mal deste mundo e que a sua ressurreição é prova que não está ausente, mas presente na caminhada da comunidade que tem a missão de atravessar o mar em direção ao Reino.
Diante deste retrato da primeira comunidade, nós também podemos tirar um selfie. Primeiro, tiramos um selfie de nós mesmos. Será que somos mergulhamos o mar das maldades? É necessário confiar em Jesus para vivermos unidos, sem preconceito e discriminação, no barco da comunidade. Podemos também tirar um selfie da nossa cidade e, ao examinar a foto, o cenário ainda é de desvalorização da vida da criação e da falta de dignidade nas questões de saúde, educação, alimentação e moradia. O selfie das nossas famílias revela situações de drogas, desentendimentos e separações. E a nossa comunidade, muitas vezes enfrenta o desânimo e está mergulhada nas divisões, fofocas e interesses particulares. O selfie do mundo atual está muito triste, pois é um cenário de guerras, mentiras, crise climática e falsas notícias. Quando olhamos para todas estas situações, perguntamos onde está Jesus, será que está presente?
Jesus questionou a falta de fé dos discípulos: “Por que duvidaram, homens de pouca fé?” A nossa fé deve ser o motor para nos ajudar a superar as tempestades que enfrentamos neste mundo. Ao mesmo tempo, Jesus é aquele que tem o poder de dominar as ondas do mar: “Quem é este homem a quem até o vento e o mar obedecem?” O evangelho de hoje quer mostrar quem é Jesus e que em Jesus se revela a mesma força de Deus. É uma profissão de fé que nos dá a coragem de enfrentar todas as tempestades, pois continuamos neste mesmo barco rumo ao Reino de Deus.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM