
12º domingo do Tempo Comum
A cada domingo, da mesa da Palavra, Jesus nos provoca e nos instiga com perguntas que nos desafiam a dar respostas não apenas feitas de palavras, mas com atitudes e compromissos de vida. Neste domingo, por exemplo, sua pergunta direta, instigante, desafiante é: “E vós, quem dizeis que eu sou?”. Em seu método de formação dos discípulos e discípulas, Jesus parte de uma realidade mais ampla: “Quem diz o povo que eu sou?”, povo que ele sabia não ter uma visão clara de quem ele era realmente, para a realidade mais próxima de si, o que lhe interessava de fato, que eram os seus discípulos e discípulas mais achegados a ele e destinatários imediatos de seus ensinamentos e da formação no discipulado. O povão, como se fala hoje, apenas suspeitava ou acreditava estar diante de um “profeta poderoso em obras e palavras…”, na expressão da dupla de discípulos decepcionados, no caminho de Emaús, na tarde da ressurreição (Lc 24: 19).
Jesus provoca os seus discípulos e discípulas para propor-lhes coisas mais desafiantes ainda. Prepara-os para enfrentar, entender e superar o escândalo da humilhação, da cruz e da morte ignominiosa, com a promessa da ressurreição. E muito mais. Não basta crer superficialmente e confessar com as palavras, que frequentemente são levadas pelo vento… Pedro, inspirado pelo Espírito de Deus, como confirmam todos os Evangelhos, confessa a verdade sobre Jesus: “(Tu) És o Cristo de Deus” (Lc 9: 20). Diante desta confissão verdadeira e inspirada, vem o maior desafio: renunciar a si mesmo, tomar a cruz cada dia e seguir a Jesus com todas as consequências do seguimento. Ser discípulo, discípula, de Jesus implica em perder a vida por causa d’Ele. Salvará a sua vida quem a ela renunciar e colocá-la totalmente a serviço de Jesus, o que significa, sabemos, jogá-la totalmente no projeto do Reino de Deus, anunciado e inaugurado por Jesus. E isso não pode ficar somente na retórica, em palavras fáceis de falar e depois esquecer, no redemoinho dos próprios interesses e na busca egoística de realizar as ambições pessoais, que assumem a prioridade absoluta na vida. Diante da provocação da Palavra de Jesus, do desafio de responder quem é ele na prática da vida cotidiana, podemos assumir um compromisso “light”, permanecendo numa retórica bonita, mas sem conteúdo real.
Somos desafiados a não ser ouvintes surdos, mas praticantes da Palavra de Deus, fazendo um esforço de encarná-la, buscando superar o abismo que a separa da nossa vida. As outras leituras e o salmo responsorial falam do derramamento de um espírito de graça, de uma fonte transformadora, acessível ao povo de Deus, para ablução e purificação. Falam de sede de Deus, de mergulho restaurador e unificador em Jesus Cristo, do qual nos revestimos e somos de novo unificados. Este tema da sede me lembra de pessoas cuja fé ou religião nem conhecemos, mas que manifestam a busca da vida plena para as pessoas mais ameaçadas, mais vulneráveis e mais fragilizadas, como os mais pobres e abandonados da sociedade, e que saciam sua sede colocando-se a serviço da defesa da vida ameaçada, sendo capazes de perder a própria vida para fazer triunfar a vida dos pequenos e vulneráveis. No final desta reflexão, provocada pela Palavra de Deus deste décimo-segundo domingo do tempo comum, quero fazer uma singela homenagem aos dois homens que nesta semana se tornaram gigantes no mundo por sua defesa da verdade e da vida dos povos indígenas, bem como da Floresta Amazônica, feroz e perversamente devastada pela ambição desmedida de criminosos de todo tipo, que se sentem mais livres hoje para invadir as terras indígenas e eliminar impunemente as pessoas que colocam suas vidas a serviço da causa indígena e da defesa do meio-ambiente. O Jornalista Dom Philips e o indigenista Bruno Pereira, são buscadores do Deus da Vida, sedentos com certeza por vida plena para os povos indígenas e para todos nós. Eles entram, com certeza, para o rol dos mártires da causa indígena e da defesa da floresta Amazônica. E nos provocam a superar as nossas respostas retóricas aos mesmos desafios.
Frei Edilson Rocha, OFM – 17 de junho de 2022.