17º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasceoncelos, OFM

“As melhores coisas da vida não são coisas!” É um ditado que parece óbvio e pela experiência sabemos que há muita coisa na vida que não são coisas: amor, amizade, gratuidade, solidariedade, perdão. Mas, na sociedade de hoje, parece que esta frase precisa ser dita. Isso porque hoje tudo tem seu preço. Coisas que no passado eram gratuitos, hoje são pagas. Existem empresas que só visam o lucro e, portanto, fazem o desmatamento e a exploram recursos naturais sem considerar os impactos ambientais e sociais negativos. Outro aspecto é consumismo extremo em que pessoas acreditam que podem resolver todos os seus problemas e encontrar a felicidade através do consumo excessivo de bens materiais, pois pensam que podem comprar felicidade ou status social com dinheiro. Há empresas que vendem os dados pessoais dos usuários sem o consentimento adequado, desconsiderando a privacidade das pessoas em troca de ganhos financeiros. Pior ainda são os políticos que compram votos e eleitores que vendem seu voto. Tudo isto mostra que há pessoas que pensam que pode comprar tudo e é só ter o dinheiro para ser feliz. E quando tudo tem seu preço há consequências negativas tanto para o indivíduo como para a sociedade em geral e não existe mais a ética, a moral e a justiça.

É claro que estas atitudes são muito presentes na sociedade, mas a questão de usar riqueza e poder para alcançar aquilo que se quer não é só de hoje. Salomão se tornou rei e pensou em usar o poder em benefício próprio, mas ele sonhou com Deus, e descobriu que quem sonha com Deus reconhece a necessidade de algo diferente, não para si, mas para o bem de todos. Ele não quis a realização do seu próprio sonho, mas do sonho de Deus. Pediu então um coração compreensivo e a capacidade de discernir entre o bem e o mal – a sabedoria para praticar a justiça. Salomão foi capaz de compreender que é preciso defender certas coisas que não podem ser vendidas e compradas e esta atitude agradou a Deus: “Já que pediste esses dons e não pediste para ti longos anos de vida, nem riquezas, nem a morte dos teus inimigos, mas sim sabedoria para praticar a justiça, vou satisfazer teu pedido; dou-te um coração sábio e inteligente…” (1Rs 3, 12).

No Evangelho, Jesus conta várias parábolas, comparando o Reino de Deus com o tesouro escondido e a pérola preciosa. É claro que o tesouro e a pérola representam os valores deste Reino, valores que não tem preço e são inestimáveis. A parábola não diz que a pessoa que os encontra é rico ou pobre, só diz que a pessoa é capaz de sacrificar tudo para alcançar. E os valores deste Reino são justamente as melhores coisas da vida que não são coisas: o amor, a gratuidade, o perdão, a justiça, partilha e solidariedade.

Mais para alcançar isto é preciso investir tudo, cortar tudo que nos impede e fazer opção de vida. Na leitura da carta de Paulo aos Romanos, Deus é apresentado como arquiteto que contemplou e projetou sua obra que é o seu projeto de amor. Para isto Ele enviou o seu Filho e nos chamou para que sejamos justos, isto é que sejamos obras de acordo com seu projeto de amor e justiça: “E aqueles que Deus predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos, também os glorificou” (Rm 8 30).

Então, precisamos ser como o mestre da lei que se tornou discípulo do reino e o pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas. As coisas velhas são os valores que Deus tem projetado para toda a humanidade, que estão no coração humano, mas muitas vezes esquecidos por causa de uma sociedade que tem preço para tudo.  As coisas novas são o ensinamento de Jesus que nos lembra que o verdadeiro tesouro e a verdadeira pérola preciosa são o Reino de Deus e para conseguir é preciso investir tudo que temos. Os valores deste Reino não têm preço, pois são inestimáveis e trazem a verdadeira felicidade não só para nós, mas para toda a humanidade. É esta a novidade do Reino que nos ensina que de fato as melhores coisas da vida não são coisas.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM


BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

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