A nossa vida tem limites. Limites são balizas que não podemos ou não devemos atravessar. Precisamos pôr limites e é fundamental ensinar limites para os filhos. Isto significa que é preciso ensinar o que se pode fazer sem prejudicar a si mesmo e os outros. A melhor maneira de ensinar limites é por limites em nossa própria vida e os limites colocados são para o nosso bem. Mas também tem limites pela natureza das coisas. Não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, ou correr mais rápido que um carro ou voar. Também, tem os limites pessoais, as fraquezas, os pecados, o comodismo, todos são limites. Mas é interessante como o ser humano quer superar os limites: inventou o avião para voar e o carro para correr. O atleta por exemplo treina para superar os limites, quer correr mais rápido ou pular mais alto ou nadar mais longe. Assim também deve ser a nossa vida cristã. Devemos passar dos limites das nossas fraquezas para alcançar vida nova e o motor que nos impulsiona para passar dos próprios limites, é a fé.
Na segunda leitura da carta aos Hebreus, escutamos que foi pela fé que Abraão obedeceu a Deus e partiu para o desconhecido. Pela fé, acreditou em ter um filho apesar da idade avançada e, ao mesmo tempo, pela fé, aceitou a ordem divina de sacrificar Isaac. Pela fé caminhou como peregrino, sem desanimar e sempre de olhos postos na pátria definitivo. Foi a fé que fez com que Abraão superasse os próprios limites para buscar uma pátria melhor, a pátria celeste, isto é o Reino de Deus. Pela fé, nós também queremos superar nossos limites, pois desejamos e buscamos o mesmo ideal de uma pátria melhor, o próprio Reino de Deus entre nós.
Mas para alcançar a pátria celeste, o Reino, é preciso uma atitude fundamental: a vigilância. No evangelho, Jesus continua a sua caminhada com os discípulos rumo a Jerusalém. Se antes as atitudes exigidas foram o desapego e o abandono, agora são a vigilância e a prontidão, diante da necessidade de estar atento e acordado para perceber e interpretar os sinais da presença de Jesus entre nós. No caminho, os apóstolos estavam com medo, eram poucos e fracos com limitações, num mundo de violência e hostilidade, mas é justamente nesta hora que Jesus exige de seus discípulos fidelidade e responsabilidade para corresponder aos seus apelos. Jesus lhes garante: “Não tenhais medo pequeno rebanho, porque foi do agrado do Pai dar a vós o Reino” (Lc 12, 32). E para que isto aconteça, convida a uma vigilância constante: “Vós também ficai preparados! Porque o Filho do Homem vai chegar na hora que menos esperardes” (Lc 12, 40). Justamente como o atleta que espera o apito para iniciar a corrida, é preciso muita atenção e vigilância. Então Jesus usa três parábolas: os servos que esperam o Senhor voltar do casamento, o ladrão que chega de surpresa e o administrador fiel. Em outras palavras, apesar do medo e da falta de compreensão, Jesus pede aos discípulos que supere os próprios limites para estar disponíveis e prontos para a chegada do Reino.
Mas, diante disto, Pedro pergunta: “Senhor, tu contas esta parábola para nós ou para todos?” Ao responder à pergunta de Pedro, Jesus afirma que todos devem vigiar. Esta resposta é também para nós e significa que todos os cristãos devem estar em constante vigilância, pois a vida cristã e a própria comunidade são pequenas e frágeis diante dos desafios do mundo. A vigilância é dar prioridade aos valores cristãos e do Reino, justamente como Abraão agiu por causa da fé.
Então, a grande lição é que, apesar dos nossos limites e fraquezas, a nossa fé deve nos levar para passar dos nossos limites pessoais e superar as nossas fraquezas. A tarefa do cristão é viver a fé e enxergar mais longe que o nariz. Deus nos dá o provisório para produzir o que ultrapassa a vida e a história, e a vigilância é passar dos limites para viver vida nova em Deus.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo