
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM
Será que um pássaro cansa de voar ou um peixe de nadar? Parece que não, mas nós como seres humanos, cansamos. Pode ser o cansaço físico, pois quando fazemos exercício ou muita força física naturalmente cansamos. Mas, existe outros tipos de cansaço. Uma tarefa difícil de realizar pode facilmente nos cansar, pois muitas vezes não conseguimos superar as dificuldades enfrentadas. As críticas ou falta de compreensão dos outros também nos cansam porque sentimos o peso da rejeição e da perseguição. Emocionalmente, podemos ficar cansados quando todos os dias precisamos enfrentar situações que parecem sem solução: um filho viciado em drogas, um casal que não supera a divisão, uma intriga entre pessoas… O cansaço faz parte da vida todos os dias e quando cansamos ficamos desanimados ao ponto de querer desistir. É justamente nesta hora que precisamos tomar uma injeção de ânimo, retomar o caminho e descobrir a razão da nossa existência.
O profeta Elias cansou na missão. Por causa da sua missão profética e da sua fidelidade ao projeto de Deus, Elias foi perseguido pela rainha Jezebel que decretou a sua morte. Ele fugiu da perseguição e caminhou longos dias e noites e, durante a caminhada, cansou. Estava exausto pelo calor do sol, pela fome e sede e a solidão do deserto. Desanimado não dava mais para aguentar e procurou um lugar para reavaliar sua missão. Ele foi atraído para o Monte Horeb, o lugar onde Deus selou a aliança com seu povo. Lá ele pensou que Deus ia se manifestar de uma forma violento, no vento, no terremoto e no fogo, mas não foi assim, foi numa brisa leve quase imperceptível. Foi na brisa suave e leve que Deus fez Elias sair da sua caverna de solidão e cansaço para descobrir que é preciso escutar sua voz, superar o medo, retomar o caminho e continuar na missão.
No evangelho, Jesus mandou que seus discípulos seguissem na barca para o outro lado do mar. Jesus havia despedido a multidão depois de saciá-la com os pães e os peixes. Jesus tinha dado uma grande lição de compaixão e, através do milagre da partilha, ensinou que é possível fazer a multiplicação. A barca representa a comunidade dos primeiros cristãos que estavam tentando viver uma nova proposta do Reino que Jesus ensinava pela sua palavra e prática. Mas, os discípulos enfrentavam a tempestade e o vento contrário de uma sociedade hostil que não somente rejeitava, mas também perseguia. Estavam cansados e abatidos, sem forças para continuar e começaram a duvidar se de fato Jesus ressuscitado estava presente entre eles. Será que Ele não seria simplesmente um fantasma? Jesus então se aproximou andando sobre o mar, sinal de que Jesus venceu o mundo, estava presente entre eles e mostrava que era preciso continuar apesar do cansaço: “Coragem, sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14, 27). Quando Pedro enfrentou também o mar não conseguiu superar o medo e o cansaço e afundou nas dúvidas e dificuldades. É justamente nesta hora do vento contrário e do cansaço que é preciso professar a fé: “Verdadeiramente, tu és o Filho de Deus” (Mt 14, 33).
Podemos aprender várias lições da Palavra de Deus nesta liturgia de hoje. Em primeiro lugar, muitas vezes é o medo que causa nosso cansaço diante dos desafios que enfrentamos. Individualmente sentimos o peso de viver de uma maneira coerente a nossa fé de cristãos. O medo está dentro de nós, pois não queremos perder o prestígio ou ser rejeitado pelos outros por causa do nosso compromisso de fé. São as tempestades e os ventos contrários que parecem nos afogar no mar do mundo provocando o cansaço e desanimo.
A comunidade também tem que ser sinal de vida e de compromisso no seguimento de Jesus. Nossas lideranças não podem ceder às tentações de desistir diante do cansaço. Estamos todos no mesmo barco com a missão de alcançar o outro lado do mar e não podemos esquecer da nossa responsabilidade de construir a comunidade baseada na prática dos valores do Reino: a justiça, a fraternidade, solidariedade e partilha.
Uma coisa é certa, nós podemos vencer o cansaço, o medo e o desanimo pela nossa participação ativa na comunidade e na Eucaristia. A voz de Deus está na brisa leve e imperceptível e não podemos deixar de ouvir.
Para vencermos as tempestades precisamos ficar atentos a mensagem de Deus que não vem no fogo e no terremoto, mas na brisa leve e suave. Elias escutou esta palavra e retomou o caminho da sua missão profética. As palavras de Jesus: “Coragem! Sou eu! Não tenham medo” são para nós hoje, pois Jesus continua presente nos dando força para vencer os ventos contrários e retomar o caminho da fé e do nosso compromisso de cristãos.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo