1º Domingo da Quaresma

nossa vida sempre existe adversários. Adversários são aqueles que tem interesses e projetos contrários aos nossos. Por isso, os adversários se enfrentam com objetivo oposto, pois cada uma quer defender e garantir a realização do seu próprio projeto. Podemos citar exemplos de adversários:

  • No esporte, os dois times que entram no campo são adversários e os interesses são exatamente contrários, pois cada time quer ganhar o jogo, mas somente um vai conseguir;
  • No trabalho, existem adversários pois têm pessoas que querem derrubar os outros para ganhar alguma vantagem e justamente alcançar seu próprio projeto e objetivos;
  • Até na família pode ter adversários, marido e mulher que devem ser companheiros, mas podem se tornar adversários no pensamento e na ação, colocando o interesse pessoal acima do amor. Muitas vezes, os filhos querem seguir seu próprio caminho enquanto os pais têm outro plano e assim se tornam adversários.

Jesus também enfrentou um grande adversário! Ao ser batizado Jesus recebeu o Espírito Santo, e depois, foi ao deserto onde foi tentado por Satanás. A palavra Satanás significa adversário. No evangelho de hoje, no confronto entre Jesus e Satanás, há também o confronto de dois projetos. O projeto de Jesus é bem claro: “O Reino de Deus está próximo, convertei-vos e crede no evangelho” (Mc 1, 15).

O adversário de Jesus tinha outro plano, a destruição, manifestada nas três tentações, que são um resumo de tudo o que poderia desviá-lo de sua missão. São também um retrato das tentações que devemos vencer para não nos desviar do projeto de Deus. Jesus recusa o caminho do materialismo, do poder e do prestígio.

A primeira tentação do adversário é: “Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão” (Lc 4, 3).  Diante da tentação, Jesus respondeu: “A Escritura diz: não só de pão vive o homem.” (Lc 4, 3). É a tentação do materialismo e do consumismo, que leva a perder a sensibilidade humana e espiritual, favorecendo a ganância pelos bens materiais.  Para Jesus não é o acúmulo dos bens que deve guiar a vida das pessoas, mas a partilha que é o sinal da presença do Reino.

Na segunda tentação, o adversário disse a Jesus: “Eu te darei todo este poder e toda a sua glória…se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isso será teu” (Lc 4, 6-7). É a tentação do poder. Todos nós temos sede de domínio sobre os outros e frequentemente somos tentados a nos tornar mais poderosos e donos dos outros e, assim, adversários uns dos outros. Na família, o pai e a mãe querem ser donos dos filhos, ou da esposa ou esposo. Na comunidade tem gente quer ser dono da comunidade, ser mais importante que o outro e mandar nos outros. Assim existem adversários na comunidade na disputa pelo poder. Na sociedade, queremos dominar os outros com nossos interesses, assim a disputa pelo poder leva para a corrupção e injustiça. Diante da tentação do adversário, Jesus respondeu: “A Escritura diz: Adorarás o Senhor teu Deus e só a ele servirás” (Lc 4, 8).  Para Jesus não é o poder que é o mais importante, mas o servir, que significa não buscar nossos interesses, mas nos colocar a serviço dos outros em busca de um mundo melhor.

A terceira tentação é do prestígio ou da fama. O adversário levou Jesus para a parte mais alta do Templo e disse: “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! Porque a Escritura diz: Deus ordenará aos seus anjos a teu respeito, que te guardem com cuidado!” (Lc 4, 9-10).  Mas Jesus resistiu às ciladas do adversário: “A Escritura diz: não tentarás o Senhor teu Deus” (Lc 4, 12).  Ainda hoje tem pessoas que buscam o prestígio e a fama. Pode ser através de uma religião mais fácil, sem compromisso, que promete milagres, salvação, dinheiro, emprego, saúde. Pode ser através de elogios, colocando pessoas no pedestal, dando prestígio e fama. Para Jesus o que importa não é o prestígio, mas fazer a vontade de Deus e agir de uma maneira digna de nosso nome de cristãos.

O adversário da nossa fé continua se manifestando na sociedade hoje: na violência e vingança que geram insegurança e medo, no consumismo exagerado, na corrupção, na mentira e na falsidade, na ganância e prepotência e na destruição e desrespeito pela vida. São as tentações de todos os tempos que querem destruir a humanidade e nos desviar do caminho da fé. Por isso precisamos lutar contra o adversário, através de três práticas recomendadas para nós na Quaresma:  oração que nos leva a entrar em sintonia com Deus e sua vontade; jejum que é fazer sacrifício em vista do nosso objetivo que é construir o Reino; a caridade que é praticar o bem e amar o outro na partilha, no serviço desinteressado e na humildade.

A Campanha da Fraternidade este ano com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, é também uma maneira de vencer as tentações do adversário. Assim, quando promovemos a vida das pessoas e de toda a criação, estamos nos esforçando para viver de acordo com o plano de Deus e lutando contra o adversário que quer ver seu projeto de injustiça e divisão vencer pela ignorância e desinformação. Por isso, precisamos lembrar que nosso adversário é perigoso, mas, como Jesus, podemos vencê-lo para continuar o nosso caminho de fé e renovar o compromisso de servir uns aos outros em vista de uma sociedade que promova o diálogo, a solidariedade e a paz.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

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