
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM
Em nossa vida sempre existe adversários que são aquelas pessoas que têm interesses diferentes de nossos. São adversários justamente porque tem projetos contrários e se enfrentam com objetivos opostos para garantir a realização do projeto que defende. Podemos citar vários exemplos: no esporte, os dois times no campo são adversários e os interesses são exatamente contrários, pois cada time quer ganhar o jogo, mas somente um vai conseguir. No trabalho, existem adversários pois tem pessoas que querem derrubar os outros para ganhar alguma vantagem e justamente colocar em prática seu próprio projeto. Até na família pode ter adversários, marido e mulher, que devem ser companheiros, podem se tornar adversários no pensamento, colocando o interesse pessoal acima do amor.
Jesus também enfrentou um grande adversário. Depois de ser batizado, foi ao deserto onde foi tentado por Satanás. A palavra Satanás significa adversário! No evangelho de hoje, no confronto entre Jesus e Satanás, há também o confronto de dois projetos. O projeto de Jesus é bem claro: “O Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no evangelho” (Mc 1, 15).
O plano do adversário de Jesus era justamente a destruição e a morte, manifestada na primeira leitura pelo dilúvio. As águas representam as forças do mal com o objetivo de separar a humanidade do plano de Deus, mergulhando-a nas águas da morte. Assim, podemos dizer que o adversário quer desviar a humanidade do caminho e do plano de Deus.
Mas Deus quer a vida, Ele não é nosso adversário, mas está do nosso lado, fato simbolizado pelo arco-íris. Deus quer uma aliança com toda a criação para realizar o plano de amor e justiça. E nós como cristãos, temos as águas do batismo que significam que estamos purificados do mal, temos a força de vencer o adversário e estamos do lado de Deus. É justamente isto que escutamos na carta de São Pedro quando diz que o batismo “é um pedido a Deus para obter uma boa consciência, em virtude da ressurreição de Jesus Cristo” (1Pd 3, 21).
Este adversário da nossa fé continua se manifestando na sociedade hoje e a Campanha da Fraternidade quer nos alertar sobre esta situação quando propõe para nossa reflexão o tema da Fraternidade e Amizade Social e o lema: “Vós sois todos irmãos e irmãs”. O Texto-Base da CF-24 quer nos chamar a atenção e lembra que a nossa sociedade de hoje precisa fazer um exame médico, pois são muitos os males que vivemos atualmente. São doenças, provocadas pelos nossos pecados e que nos afetam todos os dias: intolerância, discriminação e preconceito, mentiras divulgadas na internet, diálogo raro e escasso, racismo e o diferente ou oponente que se tornam inimigos. Com certeza, nosso adversário fica muito satisfeito em ver todas essas doenças que geram divisão, ódio e morte. São os dilúvios de todos os tempos que querem destruir a humanidade. Como Jesus no deserto, nós, como cristãos, queremos resistir às tentações para poder lutar contra o adversário.
Para que isto aconteça, a Campanha nos lembra que o remédio é justamente a amizade social. O lema, do evangelho de São Mateus, já nos ensina que não somos adversários, mas irmãos e irmãs e temos o mesmo objetivo de construir a paz. Amizade Social significa que procuramos construir um projeto de fraternidade, tendo o diálogo e a aceitação do diferente para construir uma cultura de encontro.
Lembramos durante esta Quaresma que a manifestação de nossa fé em Jesus não pode ser reduzida a algumas práticas religiosas – rezas, procissões e devoções – é preciso também um compromisso social nos nossos atos de reconciliação, de verdadeira caridade e solidariedade, na defesa das pessoas e da natureza muitas vezes violados pela violência e falta de respeito. Em pequenos atos podemos manifestar nosso compromisso com a paz: no diálogo com as pessoas promovendo a união na diversidade, no respeito entre as religiões, no cuidado com o lixo, na honestidade com as pessoas e nos negócios e na partilha com os mais necessitados e fragilizados.
Como Jesus somos tentados pelo adversário para desviar do caminho do amor, mas confiamos na aliança de Deus, confirmada em Jesus. Por isso rezamos como o salmista: “Mostrai-me Senhor vossos caminhos, fazei-me conhecer vossa estrada” (Sl 24,4). Nesta Quaresma que possamos resistir a cilada do adversário para crer no evangelho e viver o ensinamento de Jesus, pois o Reino de Deus está próximo.
Por: Frei Gregório Joerigth, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo