12365549

23º Domingo do Tempo Comum

Celebramos neste mês o mês da Bíblia, é a Palavra de Deus que nos orienta e guia e é luz para todo aquele que quer viver a fé em Deus. Como ouvimos semana passada: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes” (Tg 1, 22). Para que sejamos praticantes da Palavra, é preciso duas atitudes fundamentais: olhos abertos para enxergar a realidade de sofrimento dos irmãos e ouvidos atentos para ouvir os apelos de Deus diante desta realidade.

No livro do profeta Isaias, escutamos a promessa de Deus: “É vosso Deus que vem para vos salvar. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 35, 4-5). Deus quer que o povo seja capaz de enxergar e escutar a sua palavra, pois assim: “terra árida se transformará em lago e a região sedenta, em fontes de água” (Is 35, 7a).

Mas, muitas vezes, diante da palavra, somos cegos e surdos. É o nosso próprio pecado e egoísmo que não nos permitem enxergar o sofrimento dos outros e nem escutar os apelos de Deus. Quem se deixa dominar pelo mal vive fechado no seu próprio mundo, surdo diante da proposta de Deus e de coração duro diante dos irmãos e do mundo.

Ao mesmo tempo, é a maneira como a sociedade está organizada. No mundo onde o lucro e o crescimento econômico se tornam o valor maior, a vida e a própria criação são simplesmente instrumentos a serem explorados.  É uma atitude que gera riqueza e poder para alguns enquanto uma maioria continua na exclusão. Os olhos ficam fechados e os ouvidos cerrados das pessoas que só visam a ganância e o lucro.

No Evangelho Jesus está diante de um mutilado na sociedade. É um surdo e mudo que representa os excluídos de ontem e de hoje e que tem dificuldade em falar, pois a sua voz não é ouvida e nem escutado. Diante desta situação, a atitude de Jesus não é só curar o homem, mas recuperar a sua dignidade e o reconhecimento do seu valor e da sua missão. Jesus leva o homem para longe da multidão e lá com gestos, ele toca nos ouvidos e na língua, mas somente depois de dizer “Efatá”, que seus ouvidos se abrem e a sua língua se solta. É a mesma palavra que é usada na cerimônia do Batismo, para dizer que o cristão precisa abrir os ouvidos para ouvir e solta a língua para falar. Quer dizer que a cura de Jesus é para todo o cristão batizado pela água e pelo Espírito Santo.

Foi depois da cura que o surdo mudo começou a divulgar o fato, mesmo diante de muita insistência de Jesus que não o fizesse. Foi justamente na escuta da palavra e no testemunho da vida do homem curado que todos podiam reconhecer: “Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” (Mc. 7, 37).

Esta frase lembra da ação de Deus na criação quando contemplava a sua obra e viu que “tudo era bom”. Falar da criação é também lembrar da Amazônia, pois no dia 05 de setembro celebramos o dia da Amazônia. Nossa região é abençoada por Deus, mas, ao mesmo tempo, uma região que é mutilada pela ganância, pelo desrespeito e pela violência. Amazônia é o surdo e mudo que quer gritar, ser ouvido, é o excluído que grita: “A vida em primeiro lugar”.

Diante desta realidade, queremos ser curados por Jesus. Primeiramente, para enxergar esta realidade mutilado e depois para ouvir os apelos de Deus diante da realidade. É preciso também proclamar que toda a criação é obra de Deus, pois Ele fez bem todas as coisas. O reconhecimento das maravilhas de Deus é fundamental para manifestar nossa gratidão a Deus pela vida e pelas maravilhas da criação, especialmente aqui na Amazônia.

É somente através da nossa conversão e da cura da nossa cegueira e surdez que nós também podemos proclamar a Boa Nova de Jesus e assim vamos compreender as palavras do profeta Isaias: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta em fontes de água”.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

WhatsApp Image 2024-09-06 at 10.45.03

As marcas de Cristo e Francisco em nós: Retiro e Assembleia Anual da Custódia

O retiro anual é uma oportunidade dos frades se encontrarem para um “tempo de parada” em suas atividades e refletirem sobre temas da sua espiritualidade. O retiro deste ano ocorreu entre os dias 02 e 07 de setembro. Os últimos dois dias foram dedicados à Assembleia que é um momento em que os membros da Custódia discutem alguns assuntos da sua vida e missão. 

A Casa de Acolhida São José, local que pertence às Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus (SMIC), sediou estes dias de encontro. O retiro foi compartilhado com algumas irmãs da congregação SMIC e teve como assessor Frei Vitório Mazzuco, OFM, da Província Imaculada Conceição, frade que se dedica aos estudos da espiritualidade franciscana e facilita retiros em diversas partes do país. O cronograma do retiro previu, além das pregações, momentos de celebrações, recolhimento e contemplação. Entre frades, irmãs e postulantes,  participaram cerca de 40 pessoas. 

O tema que norteou o retiro foi o oitavo centenário dos estigmas de São Francisco à luz do oitavo centenário da recepção das chagas de Cristo no corpo do pobrezinho de Assis. Da primeira reflexão podemos destacar que as marcas no corpo de Francisco partiram do seu coração marcado por Deus. Frei Vitório introduziu o tema e apresentou um pouco do percurso reflexivo destes dias. As meditações preparadas para estes dias foram baseadas nas sagradas escrituras e nas fontes franciscanas. O fim do primeiro dia foi marcado ainda pela celebração eucarística e pelo sacramento da reconciliação, a cada dia uma fraternidade assumiu a liturgia que foi organizada pela fraternidade São Boaventura. 

O pregador abordou ainda as chaves que o franciscanismo tem para a abrir portas no mundo contemporâneo. Frei Vitório conduziu um bonito caminho inspirador vendo Francisco de Assis, não como um santo do passado, mas como alguém que nos inspira a seguir na caminhada deixando marcas de amor. Os dias que seguiram foram intercalados entre alocuções e recolhimentos para pensar nos temas suscitados. Para muitos frades e irmãs foi uma retomada e aprofundamento sobre o evento celebrado neste jubileu franciscano.   

O dia 05 foi o último dia de retiro.  VI e VII conferências foram conduzidas por Frei Elder Almeida dando prosseguimento a reflexão feita por Frei Vitório. O frade tratou a parte histórica que envolve a recepção dos estigmas. O frade conduziu uma ressonância do retiro até agora. Algumas pessoas partilharam suas impressões pessoais das falas do assessor e também os frutos das suas reflexões nestes dias. 

 Em seguida o frade apresentou uma síntese do episódio dos estigmas a partir das pesquisas de Grado Giovanni Merlo. As crises que estiveram presentes no itinerário de Francisco, um percurso de muitas rupturas. O texto exposto tentou apontar um pouco dos sentimentos que poderiam estar presentes no coração de Francisco naqueles momentos que precederam a subida ao Alverne.

Os dias seguintes, 06 e 07, são destinados para Assembleia Custodial. O balanço destes dias de intensa oração e convívio fraterno normalmente são muito positivos na avaliação dos frades participantes. Após o almoço do sábado (07) todos devem retornar para suas fraternidades e para o ritmo cotidiano de suas vidas.   

Por: Frei Fábio Vasconcelos, OFM
Fotos: Frei Felip Luz, OFM