Celebramos neste mês o mês da Bíblia, é a Palavra de Deus que nos orienta e guia e é luz para todo aquele que quer viver a fé em Deus. Como ouvimos semana passada: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes” (Tg 1, 22). Para que sejamos praticantes da Palavra, é preciso duas atitudes fundamentais: olhos abertos para enxergar a realidade de sofrimento dos irmãos e ouvidos atentos para ouvir os apelos de Deus diante desta realidade.
No livro do profeta Isaias, escutamos a promessa de Deus: “É vosso Deus que vem para vos salvar. Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos” (Is 35, 4-5). Deus quer que o povo seja capaz de enxergar e escutar a sua palavra, pois assim: “terra árida se transformará em lago e a região sedenta, em fontes de água” (Is 35, 7a).
Mas, muitas vezes, diante da palavra, somos cegos e surdos. É o nosso próprio pecado e egoísmo que não nos permitem enxergar o sofrimento dos outros e nem escutar os apelos de Deus. Quem se deixa dominar pelo mal vive fechado no seu próprio mundo, surdo diante da proposta de Deus e de coração duro diante dos irmãos e do mundo.
Ao mesmo tempo, é a maneira como a sociedade está organizada. No mundo onde o lucro e o crescimento econômico se tornam o valor maior, a vida e a própria criação são simplesmente instrumentos a serem explorados. É uma atitude que gera riqueza e poder para alguns enquanto uma maioria continua na exclusão. Os olhos ficam fechados e os ouvidos cerrados das pessoas que só visam a ganância e o lucro.
No Evangelho Jesus está diante de um mutilado na sociedade. É um surdo e mudo que representa os excluídos de ontem e de hoje e que tem dificuldade em falar, pois a sua voz não é ouvida e nem escutado. Diante desta situação, a atitude de Jesus não é só curar o homem, mas recuperar a sua dignidade e o reconhecimento do seu valor e da sua missão. Jesus leva o homem para longe da multidão e lá com gestos, ele toca nos ouvidos e na língua, mas somente depois de dizer “Efatá”, que seus ouvidos se abrem e a sua língua se solta. É a mesma palavra que é usada na cerimônia do Batismo, para dizer que o cristão precisa abrir os ouvidos para ouvir e solta a língua para falar. Quer dizer que a cura de Jesus é para todo o cristão batizado pela água e pelo Espírito Santo.
Foi depois da cura que o surdo mudo começou a divulgar o fato, mesmo diante de muita insistência de Jesus que não o fizesse. Foi justamente na escuta da palavra e no testemunho da vida do homem curado que todos podiam reconhecer: “Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” (Mc. 7, 37).
Esta frase lembra da ação de Deus na criação quando contemplava a sua obra e viu que “tudo era bom”. Falar da criação é também lembrar da Amazônia, pois no dia 05 de setembro celebramos o dia da Amazônia. Nossa região é abençoada por Deus, mas, ao mesmo tempo, uma região que é mutilada pela ganância, pelo desrespeito e pela violência. Amazônia é o surdo e mudo que quer gritar, ser ouvido, é o excluído que grita: “A vida em primeiro lugar”.
Diante desta realidade, queremos ser curados por Jesus. Primeiramente, para enxergar esta realidade mutilado e depois para ouvir os apelos de Deus diante da realidade. É preciso também proclamar que toda a criação é obra de Deus, pois Ele fez bem todas as coisas. O reconhecimento das maravilhas de Deus é fundamental para manifestar nossa gratidão a Deus pela vida e pelas maravilhas da criação, especialmente aqui na Amazônia.
É somente através da nossa conversão e da cura da nossa cegueira e surdez que nós também podemos proclamar a Boa Nova de Jesus e assim vamos compreender as palavras do profeta Isaias: “A terra árida se transformará em lago, e a região sedenta em fontes de água”.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM