22º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Seduzir é a capacidade de encantar uma outra pessoa para alcançar um determinado objetivo. Pode seduzir uma pessoa ou também pode usar a expressão no terreno de objetos. A propaganda, por exemplo, utiliza muito a arma da sedução para convencer uma pessoa a comprar um certo produto. Mas, normalmente quando pensamos em sedução, é usado para conquistar alguém, pode ser por interesses sexuais ou para conseguir certos objetivos como poder, influência ou dinheiro. Também pode seduzir alguém por uma causa ou um objetivo nobre. Há pessoas que foram seduzidas e ficaram apaixonadas em defender a natureza, a igualdade racial ou a paz e a justiça diante da violência e corrupção. Enquanto uma pessoa pode seduzir alguém, a pessoa também pode se deixar seduzir.

O profeta Jeremias fala desta sedução: “Seduziste-me, Senhor e deixei-me seduzir; foste mais forte, tiveste mais poder” (Jr 20,7). Jeremias não somente reconheceu que foi seduzido, mas ele deixou que Deus o seduzisse. Qual foi o objetivo da sedução de Deus? Com certeza o interesse de Deus não era simplesmente para conquistar o profeta, mas para que Jeremias reconhecesse o seu amor. E o amor de Deus é como um fogo que devora que o próprio Jeremias sentiu: “Senti, então dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar” (Jr 20,9). Deus seduziu Jeremias para ser profeta, anunciar a sua palavra e realizasse a sua vontade. E Jeremias se deixou seduzir para ser fiel a esta missão.

Jesus também foi seduzido por Deus com a finalidade de doar a vida pela salvação da humanidade. Semana passada, no evangelho, Jesus perguntou aos discípulos: “Quem vocês dizem que eu sou?” Ao responder, Pedro fez uma profissão de fé: “Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo”.  Jesus, como Jeremias, reconheceu que foi seduzido por Deus e os próprios discípulos reconheceram a força do Espírito na pessoa de Jesus que veio para fazer a vontade de Deus. Jesus falou também das consequências desta missão: “Jesus começou a mostrar a seus discípulos que devia ir a Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sumos sacerdotes e dos mestres da Lei, e que devia ser morto e ressuscitar no terceiro dia” (Mt 16, 21).

Podemos dizer que Pedro também foi seduzido por Jesus. A ação de Jesus, sua palavra e seus gestos deixaram uma marca em Pedro e, por isso, foi capaz de fazer a profissão de fé.  Mas Pedro não compreendeu todas as consequências desta sedução e começou a questionar e a repreender Jesus: “que isso nunca aconteça”. Diante desta incompreensão de Pedro, Jesus diz: “Vai para longe satanás! Tu és uma pedra de tropeço para mim, porque não pensas as coisas de Deus, mas sim as coisas dos homens” (Mt 16,23). Satanás, que significa sedutor, na pessoa de Pedro, estava tentando Jesus para seguir outro caminho e não o da cruz. Pedro pensava num Messias de poder, sucesso e prestígio, mas Jesus mostrou o rosto do Messias como o Servo Sofredor de Deus.

Então existe dois sistemas: o de Deus e o do adversário, o sedutor. O sistema do adversário é desviar do caminho da cruz, mas o Reino de Deus é diferente da lógica do mundo. São Paulo mesmo diz: “Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e julgar, para que possais distinguir o que é a vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito” (Rm 12,2). Ser seduzidos por Deus é mudar nossa maneira de pensar e agir de acordo com a vontade de Deus. Todos nós, como seguidores de Jesus, devemos nos deixar ser seduzidos por Deus.

Em primeiro lugar, isto significa deixar, como Jeremias, o fogo ardente de Deus nos penetrar. É este fogo que nos transforma para rejeitar o caminho do sedutor. Não queremos ser uma pedra de tropeço, mas, pela fé, seguir Jesus no caminho da cruz. Para isto o fogo ardente de Deus deve penetrar na vida, na ação e na palavra de cada um de nós.

Ao mesmo tempo, toda a comunidade precisa ser seduzida por uma renovação no compromisso da vida cristã. Domingo passado, lembramos a vocação do catequista com a sua missão de fazer ecoar a Palavra de Deus. Nos últimos anos, temos trabalhado a Catequese de Inspiração Catecumenal com seus cinco passos que são o roteiro na vivência da fé: encontro com Jesus, a conversão, o discipulado, a comunhão fraterna e a missão de construir o Reino. Seguindo este caminho, seremos conduzidos por Jesus e sua palavra para sermos discípulos e discípulas e viver em comunidade. É este o caminho do cristão e de toda a comunidade diante da lógica da sedução para ganhar vantagem e conquistar os interesses próprios.

Ser seduzidos por Deus é reconhecer que o que vale mais é o amor e a doação. É olhar a cruz e lembrar que como cristãos não devemos seguir o caminho do mundo, mas seguir o caminho de Deus que significa entrar na lógica do Reino, pois Jesus nos diz: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua crua e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; mas quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (Mt 16, 24).

Por: Frei Gregório Joeright, OFM


BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

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