23º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

“Brasil, um sonho intenso, um raio vívido. De amor e de esperança à terra desce, se em teu formoso céu risonho e límpido a imagem do Cruzeiro resplandece!” Ao longo desta semana da pátria, esta frase foi cantada muitas vezes pelo povo brasileiro e muitas pessoas ficaram até emocionadas ao cantar: “Ó Pátria amada, idolatrada. Salve! Salve!” Se a gente fosse dizer a frase de outro jeito poderíamos dizer: o Brasil é como um sonho intenso, e já que em nosso céu, limpa e clara, a cruz de Cristo resplandece e desta cruz desce um raio brilhante que ilumina Brasil, ou seja, o Brasil está sob o amparo e a proteção de Cristo. Podemos até dizer de outro jeito, Jesus está vigiando o nosso país. Vigia é aquele que não dorme e percebe qualquer perigo que possa chegar. Assim, é como sentinela que sempre está no alto e em prontidão para alertar sobre qualquer perigo ou desgraça.

Na primeira leitura de hoje, escutamos que o profeta Ezequiel recebeu, como missão, ser sentinela: “Quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci como vigia para a casa de Israel” (Ez 33, 7).  A ação de ser sentinela é advertir o povo a respeito de sua conduta – deve dizer ao ímpio que vai morrer se continua no seu caminho do mal, se não advertir, o vigia mesmo vai precisar prestar contas da sua morte. A responsabilidade é muito grande para aquele que é sentinela.

Também no evangelho, é a própria comunidade que se torna sentinela para conduzir o irmão que erra de volta para dentro da comunidade. A preocupação não é tanto apontar o erro, mas conduzir o irmão faltoso de volta para o convívio fraterno. Para isto são três passos: primeiro o encontro só com ele para corrigir; depois diante de uma ou duas testemunhas e finalmente diante de toda a comunidade. Se depois disto, ele não ouvir, deve ser considerado como pagão. Neste caso, não é a comunidade que exclui, mas é ele que recusa a proposta de amor vivido na comunidade e ele mesmo se coloca à margem da comunidade.

São duas lições: a comunidade deve ficar sempre atento como vigia para evitar qualquer desvio da vivência dos valores cristãos. São Paulo também nos diz que é o amor que deve ser colocado em primeiro lugar como cumprimento da lei. A segunda lição é a responsabilidade da comunidade. Ser sentinela é guardar a fidelidade no seguimento de Jesus sem desviar do caminho. Para isto é preciso não somente ajudar com misericórdia os que erram, mas também ser capaz de aceitar com humildade as correções que os outros fazem de nós.

Voltando para o nosso Brasil, como estamos debaixo da imagem do Cruzeiro resplendente, isto é, sob a proteção de Jesus, nós também podemos dizer que somos todos sentinelas do nosso país, não só como cidadãos, mas principalmente como cristãos. O que significa isto na prática?

Amar a pátria idolatrada é não ser omisso. Diante de tantas injustiças, maldades e desigualdades sociais, precisamos alertar para os perigos de desviar do caminho de Jesus. Isto não significa que não deve existir a separação do estado e da religião, mas que a vivência dos valores cristãos possa brilhar como um “sonho intenso, um raio vívido”.

Se como cidadãos e cristãos somos sentinelas do nosso país, devemos ficar muito atentos diante dos meios de comunicação e das redes sociais. Nos tempos atuais, há muitas notícias falsas que escondem os interesses de corrupção e o abuso do poder. Não devemos cair na armadilha da mentira e da desonestidade das pessoas que fazem falsas promessas e que pensam somente nos seus próprios projetos. Devemos sempre buscar a verdade, a honestidade e políticas púbicas que visam o bem de todos e não vantagens pessoais. Assim, nosso “formoso céu será risonho e límpido”.

Enquanto uma coisa é corrigir aquele que está errado, outra é também ficarmos atentos para a nossa própria conduta. Ficar firme no caminho de Jesus é também ser sentinela de nós mesmos. São Paulo nos adverte que não devemos ficar devendo nada a ninguém a não ser o amor mútuo. Quando amamos também nos corrigimos e quando nos corrigimos estamos sob a proteção de Jesus. Se queremos um Brasil onde “seu futuro espelha a grandeza”, é porque temos a capacidade de sermos sentinelas de nós mesmos na prática da cidadania, no respeito para com os outros, na ética nos negócios, na obediência às leis do trânsito, na dedicação dos estudos, no cuidado com o meio ambiente e no tratamento do lixo. Assim, visamos o bem de todos e aceitamos com humildade a correção dos nossos próprios erros.

“És tu Brasil a terra adorada. Ó Pátria amada, és a mãe gentil e carinhosa dos filhos deste solo”. Ao final desta semana da Pátria, queremos lembrar que cantamos várias vezes estas palavras e ficamos até emocionados diante do hino nacional, mas que sejam palavras vividas por todos os brasileiros e brasileiras como sentinelas do nosso país.

Por: Frei Gregório Joerigth, OFM


BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

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