Deus é o nosso aliado! Aliado é aquele que está do lado, e, na guerra, aquele que se junta a nós para combater um inimigo comum. Dizer que Deus é o nosso aliado significa que Ele se junta a nós para lutar contra o mal e garantir a vitória da vida sobre a morte. Jesus é o grande sinal de que Deus está conosco para que “tenhamos vida e vida em abundância”.
Se Deus se aliou a nós para nos livrar de todo mal e sofrimento, nós que somos fiéis, precisamos nos aliar a Deus na mesma luta contra o mal. Alguns dos males que nos afligem e causam muito sofrimento é justamente o rancor, o ódio e a vingança. É este o entendimento do autor do livro de Eclesiástico: “Se alguém guarda a raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura… Se ele, que é um mortal, guarda o rancor, quem é que vai alcançar o perdão para os seus pecados?” (Eclo 28, 4-5). Assim, o rancor e a raiva são coisas detestáveis, pois o ódio para com as pessoas é ruptura com Deus, e Ele dará a cada um de nós segunda a maneira que nós tratamos os outros. Por isso, a melhor coisa a ser feita é perdoar as faltas cometidas contra nós, pois se alguém “não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus próprios pecados?” (Eclo 28,4).
Esta atitude no livro de Eclesiástico já prevê o que Jesus ensina no Evangelho de hoje. Inicialmente, a vingança era aceita e a lei dizia “dente por dente”, isto é, podia retribuir ao outro de acordo com a ofensa recebida. O pensamento era se vingar para compensar as injustiças recebidas e desencorajar que alguém fizesse novamente as mesmas ofensas. No domingo passado, Jesus nos ensinou sobre a correção fraterna, agora nos lembra do perdão fraterno. Pedro achava que o perdão tinha limites: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18, 21). Para Jesus não existe limites para o perdão: “Não digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22), e Jesus ilustra seu ensinamento com a parábola do rei que acertou as contas com seus empregados. A parábola nos ensina não somente como o rei foi capaz de perdoar o empregado que devia uma fortuna, mas também que nós não devemos somente pensar em nós quando sentimos a necessidade de receber o perdão, pois devemos ter os mesmos sentimentos com nossos irmãos que nos ofendem. O ensinamento de Jesus é que Deus é misericordioso e nós devemos analisar nossas atitudes diante das ofensas dos outros e das nossas próprias ofensas. Se não somos capazes de perdoar os outros como podemos esperar o perdão de Deus!
Este ensinamento de Jesus é muito claro e cada vez que rezamos o Pai Nosso estamos expressando nosso desejo de segui-lo. Mas, perdoar não é fácil, pelo contrário, é difícil. Primeiramente, porque a ofensa machuca e quanto maior a ofensa tanto maior a dor que sentimos. Ninguém quer sentir a dor da ofensa, pois ser machucado dói. Segundo, porque temos medo. Pensamos que ao perdoar alguém, esta pessoa vai cometer novamente a ofensa e a lembrança da dor nos dá o medo de perdoar.
Mas, devemos lembrar que o maior efeito do perdão não é a transformação da pessoa que ofendeu, mas nós, que perdoamos, somos transformados. Primeiro, porque o rancor é uma doença que nos corrói e consome. Cultivar o rancor traz muitos prejuízos para a saúde do corpo e da mente e prejudica nossas relações interpessoais e nos priva de gozar plenamente da vida. Alguém uma vez disse: “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.” Segundo o perdão nos faz humildes, isto é, nos lembra que também nós ofendemos os outros e a consciência das nossa faltas nos leva a reconhecer que nós também precisamos pedir o perdão. Finalmente, é o perdão que recria as relações fraternas e reforça o espírito comunitário. Assim, o perdão ajudar a reconhecer que é preciso viver o amor e é isto que São Paulo nos afirma quando diz que a comunidade cristã deve ser o lugar do amor, do respeito pelo outro, da aceitação das diferenças e do perdão.
Perdoar significa não entrar na lógica do mundo que é do rancor, do ódio e da vingança, mas na lógica do Reino, onde Deus se torna nosso aliado na luta contra o mal e nós, aliados de Deus, vivemos o perdão e a reconciliação. Assim, temos também a certeza de que Deus perdoa as nossas faltas como reza o salmista: “Quanto os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem; quanto dista o nascente do poente, tanto afasta para longe os nossos crimes” (Sl 102, 11). Por isso, pedimos um coração manso e compassivo e, como aliados a Deus, que sejamos transformados pelo perdão.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo