
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM
Hoje em dia, tem muitas pessoas que gostam de fazer uma caminhada. Todos os dias, pela manhã e no fim da tarde, podemos ver muitas pessoas que estão nas estradas e praças andando sozinhas ou em grupos. Sabemos que uma caminhada tem muitos benefícios para a saúde. Uma caminhada faz bem, mas existe outros tipos de caminhadas que não sejam simplesmente por causa da saúde. Há caminhadas de busca, isto é, que procuram alcançar algum objetivo, ou também de fé e devoção em busca de uma espiritualidade mais profunda. Estas caminhadas manifestam o desejo de conversão e de uma nova vida de acordo com a vontade do Pai. Lembramos o canto: “O povo de Deus no deserto andava. Mas à sua frente, alguém caminhava. Também sou teu povo, Senhor, e estou nessa estrada, cada dia mais perto da terra esperada!”.
De fato, a primeira leitura de hoje fala desta caminhada do povo no deserto. O povo tinha feito uma dura caminhada, saindo da escravidão no Egito rumo à Terra Prometida, mas no caminho encontraram grandes obstáculos: o cansaço, o desanimo e a vontade de voltar para trás, isto é, de volta para o Egito onde viviam na escravidão. Assim foram desviados do caminho e caíram na tentação de adorar um outro deus. A Terra Prometida ficou para trás e o projeto de Deus parecia um sonho difícil para alcançar. Precisava de firmeza e foi Moisés que pediu a misericórdia e a paciência de Deus diante do pecado. Deus se acalmou e a promessa foi renovada: “Tornarei vossos descendentes tão numerosos como as estrelas do céu; e toda esta terra de que vos falei, eu a darei aos vossos descendentes como herança para sempre, e o Senhor desistiu do mal que havia ameaçado fazer ao seu povo” (Ex 32, 13-14). A partir desta promessa de Deus, o povo foi capaz de retomar o caminho.
São Paulo tinha colocado como sentido da vida dele a prática da Lei, e, por isso, blasfemava, insultava, perseguia e agia com a ignorância de quem não tem fé. Foi no caminho quando ele estava para perseguir os cristãos que ele encontrou a misericórdia de Deus e, pela confiança que foi colocado nele por Jesus que ele se dedicou para o serviço no evangelho.
Também a lição do evangelho é sobre dois caminhos. O filho mais novo queria trilhar seu próprio caminho. Ele pensou em alcançar sua própria vontade e sua felicidade, mas deu tudo errado. Sua caminhada deu em fome e desespero e foi justamente neste momento que caiu em si e reconheceu a necessidade de fazer uma nova caminhada, de volta para seu pai. Neste novo caminhar encontrou a misericórdia de pai que fez uma grande festa e celebrou: “Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver, estava perdido e foi encontrado” (Lc 15, 32). O filho mais velho não sabia o que era misericórdia, nunca fez uma caminhada a procura de um sonho. Apesar de sempre estar com o pai, ele não sabia que era preciso fazer uma caminhada em busca da Terra Prometida e não entrou para a festa.
Podemos dizer que o evangelho de Lucas é o evangelho do caminho. Os discípulos estavam caminhando com Jesus até Jerusalém e foi no caminho que eles aprenderam o significado de seguir o caminho da fé. Podemos dizer que nós, os discípulos de Jesus hoje, estamos também no caminho com Jesus. É a caminhada dominical que fazemos para aprender as lições de vida que Ele nos ensina. Todos os domingos caminhamos das nossas casas para a igreja e como o povo no deserto trazemos as nossas histórias da vida com dificuldades, cansaços, desanimo, tristezas e alegrias para a liturgia. Na liturgia, a equipe de ministros, leitores e coroinhas nos representam quando caminham para o altar trazendo o evangelho e a cruz. No rito penitencial, reconhecemos nossas infidelidades e desvios do caminho da fé e como o filho pródigo, retomamos o caminho de volta para a casa do Pai. Na escuta e na vivência da Palavra, a promessa da aliança é renovada e nós, fortalecidos e alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo, continuamos nossa caminhada de fé na renovação da aliança e em busca do projeto do Pai. Com a equipe de celebração, fazemos nossa procissão de saída da igreja e levamos o que aprendemos na liturgia para a vida. Em outras palavras, na caminhada para a igreja trouxemos a nossa vida para a liturgia e na caminhada de volta para casa levamos a liturgia para a vida.
Existe vários tipos de caminhada na vida, mas uma verdadeira caminhada de fé exige a busca de algo maior, o novo, a Terra Prometida onde vai acontecer a festa da alegria, da vivência da fraternidade e da realização do sonho de Deus, a vida para todos e para toda a criação. Que esta nossa caminhada dominical seja de fato uma busca maior de viver em comunhão com Deus e com os irmãos sempre fortalecidos pela misericórdia do Pai que sempre nos recebe de volta: “Então ele partiu e voltou para seu pai. Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao seu encontro, abraçou-o, e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 20).
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo