Apesar do fato que hoje em dia falamos muito sobre a igualdade, liberdade e fraternidade, a sociedade em que vivemos é baseada na desigualdade. Na realidade, existem pessoas mais importantes que outras. Podemos então verificar quais são os critérios usados para dizer que alguém é mais importante que os outros.
Um primeiro critério usado é o dinheiro e a riqueza. Quem tem mais recursos materiais se considera mais importante e é olhado pelos outros também como sendo o mais importante. O dinheiro dá a impressão de grandeza e privilégio.
O segundo critério usado para dizer que alguém é mais importante é o poder. Quem manda nos outros se impõe e, pelo uso do poder, domina os outros e deve ser obedecido. Mandar e dominar é ser importante.
O terceiro critério é o prestígio e fama que são o caminho para aqueles que querem ser importantes. Atores de novela, jogadores, cantores, todos querem alcançar a fama e o prestígio e quem alcança, se torna mais importante que os outros.
As pessoas importantes sempre têm o primeiro lugar, preferência de tratamento e mais respeito e consideração. Ser importante é ter privilégio. É justamente isto que provoca as diferenças sociais e as desigualdades e as suas consequências de divisões, conflitos e ciúmes. Na família pode acontecer separações pelo fato de um membro querer ser maior e se impor. Assim ser considerado mais importante é motivo de divisão.
No trabalho também acontece discussões, críticas, ambições e rivalidades. A raiz de tudo é justamente o desejo, consciente ou inconsciente, de ser o maior. Assim, se busca cargos, títulos, honrarias ou elogios. Na própria comunidade cristã, havia os conflitos pelo desejo de ser maior. São Tiago nos diz: “Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más” (Tg 3, 16).
No evangelho de hoje, Jesus ensinava os discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens, e eles o matarão. Mas três dias após sua morte, ele ressuscitará” (Mc 9, 30). A morte de cruz era um escândalo, reservada para os marginalizados e excluídos, os desprezados e, portanto, os menos importantes na sociedade. Pelo seu ensinamento e sua prática, Jesus estava na contramão.
Para os discípulos este ensinamento não foi somente não compreendido, mas também fora de qualquer possibilidade. Por isso, os apóstolos não concordaram e fecharam-se num estranho silêncio, pois tinham medo de perguntar. Eles manifestaram esta falta de compreensão no caminho, pois estavam discutindo entre eles quem era o maior e o mais importante. No fundo, eles queriam ter o melhor lugar e os privilégios dos mais importantes. Jesus então dá uma grande lição, “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último e que serve a todos” (Mc 9, 35). Depois pegou uma criança e colocou-a no meio deles e disse: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças, é a mim que estará acolhendo” (Mc 9, 37). Por que uma criança? É porque a criança não tem riqueza e nem posses, não tem poder de mandar em ninguém e não tem nem fama e nem prestígio, em outras palavras, não tem importância na sociedade. De fato, o que admiramos numa criança não é o poder, a riqueza, a sabedoria humana, mas a simplicidade e a transparência. E é justamente por isso que Jesus coloca a criança bem no meio para servir de exemplo para todos.
Esta reflexão deve nos ajudar a pensar na comunidade cristã e como deve ser a nossa prática no dia a dia. É interessante notar que Jesus faz este ensinamento na casa, lugar que representa a própria comunidade, e, justamente, o lugar onde deve existir a fraternidade e igualdade entre as pessoas, fruto do da prática de servir uns aos outros.
Por isso, servir aos outros sempre é uma grande oportunidade de mostrar que podemos promover a união, o entendimento e a igualdade entre nós. Aquilo que deve nos mover é a vontade de servir e de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu. As palavras de Jesus são claras e atuais para nós hoje: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9, 35).
Por: Frei Gregório Joeright, OFM