26º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Nós todos temos preconceitos. Preconceito é uma ideia, pensamento ou conceito de alguma coisa ou de alguém antes de conhecer. Por causa do preconceito, fazemos julgamentos sem conhecimento, baseados na opinião de outras pessoas ou da cor da pessoa, raça ou lugar de nascimento. Preconceito leva a discriminação e distinção entre as pessoas, assim criando divisão, ódio e violência. É o preconceito que cria abismos entre nós, especialmente quando não tratamos o nosso próximo com respeito e dignidade. Todos nós temos preconceito, é difícil escapar, pois muitas vezes nos nossos pensamentos e ações, fazemos julgamentos e distinções entre as pessoas. Mas algo que não tem preconceito é a morte.  A morte abraça a cada um independente de raça, cor, rico, pobre, jovem, velho, homem, mulher. Não faz distinção entre as pessoas.

É justamente sobre o fato que a morte não age com preconceito é que podemos refletir sobre o Evangelho de hoje. A parábola do rico e de Lázaro tem duas cenas: primeiro o rico com seus banquetes diários sem nenhuma preocupação com os outros, e o pobre Lázaro, cheio de feridas, morrendo de fome na porta do rico, desejando simplesmente comer das migalhas que caem da mesa. Existe um grande abismo entre os dois, criado pelo preconceito e, portanto, pela discriminação entre ricos e pobres. No pensamento da época, havia um abismo entre abençoados e amaldiçoados, puros e impuros. O rico era abençoado e Lázaro, amaldiçoado por sua condição de pobre.

A segunda cena é depois da morte, quando Lázaro está do lado de Abraão e o rico sofrendo os tormentos do inferno. Agora é o rico que pede ajuda do Lázaro para molhar o dedo para refrescar a língua. Mas Abraão responde que não tem como fazer isso, por causa do grande abismo. De onde veio este abismo? Com certeza existia antes da morte por causa do preconceito, da discriminação, da ganância e do egoísmo.

Podemos dizer também que este abismo não existia só no tempo de Jesus, mas é uma realidade hoje. As diferenças sociais criam o abismo do preconceito onde os pobres e marginalizados são condenados ao sofrimento e a miséria. São os abismos das periferias, tanto geográficas como existenciais. Diante de tal situação, precisamos avaliar nossas atitudes e os valores cristãos que devemos praticar. Podemos dizer que a lição desta parábola é também o mesmo ensinamento de Jesus que escutamos semana passada: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará um e amará o outro, ou se apegará a um e desprezará o outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Lc 16, 13). Podemos também lembrar as palavras de Abraão no evangelho de hoje: “Eles têm Moisés e os Profetas, que os escutem!” (Lc 16, 29). É na escuta da Palavra que nós podemos aprender o caminho da vivência da fé e do compromisso com a dignidade de todas as pessoas.

O profeta Amós representa estes profetas que nos ensinam o caminho da conversão: “Ai dos que vivem despreocupadamente em Sião, os que sentem seguros nas alturas de Samaria! Os que dormem em camas de marfim… e não se preocupam com a ruína de José” (Am 6, 1- 7).  Amós condenava aqueles que faziam festas e banquetes baseados na exploração do povo e viravam as costas para aqueles que sofriam.

A liturgia de hoje não é uma lição para ficar com medo do inferno, mas quer nos alertar para o abismo que existe na sociedade por causa do preconceito e da ganância, pela falta de compaixão e pela omissão na vivência dos valores evangélicos. Papa Francisco fala da globalização da indiferença, pois ficamos alheios ao sofrimento dos outros e esta insensibilidade aumenta o abismo que existe entre as pessoas no mundo de hoje. As leituras de hoje devem fazer brotar em nós o desejo de combater a desigualdade social pela partilha e solidariedade. Com certeza, este é o caminho de Jesus e, portanto, nosso.

Lembramos que a morte não tem preconceito, abraça todos do mesmo jeito. Medo da morte não, mas devemos ter temor, pois é o temor que nos abre para a escuta dos profetas e o ensinamento de Jesus. É este caminho que nos dá a possibilidade de participar da ressurreição onde não há abismos, mas onde todos viverão na igualdade.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

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