27º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Hoje em dia, fala muito em mercado. Quanto mais que um objeto tem mercado, mais que tem valor. No mercado tudo depende da troca, da demanda e do desejo. A partir do desejo, a pessoa é capaz de fazer todo tipo de sacrifício para poder comprar o objeto desejado. Mas, acontece que muitas vezes o desejo não corresponde à realidade, pois não existem as condições financeiras para possuir o objeto do desejo. Assim as pessoas podem ficar frustradas uma vez que não podem alcançar o desejado.  Outras pessoas dizem que tudo é mercado, isto é, tudo tem preço e pode ser vendido e comprado. Para estas pessoas não existe ética e nem moral, pois tudo tem seu preço. Também para estas pessoas não existe amor, pois o verdadeiro amor é gratuito, não tem preço!

Esta mentalidade tem várias consequências:

Na política, existe a corrupção e a busca do poder para satisfazer os próprios interesses. Isto acontece principalmente nas eleições, pois muitas pessoas ainda vendem seu voto em troca de favores;

Na economia existe a propaganda para dizer quais devem ser nossos desejos e quais os produtos que devemos adquirir;

Na sociedade as pessoas só têm valor por aquilo que produzem e, por isso, não há dignidade humana;

E a religião somente existe para resolver problemas que enfrentamos. Podem ser econômicos, pessoais ou simplesmente para preencher uma lacuna emocional. Nesta mentalidade, a finalidade da religião é para sentir bem e ficar emocionado. Há o mercado da fé que é a tentativa de comprar Deus para satisfazer os próprios desejos. Assim a fé se torna um show, um espetáculo e não há uma adesão ao projeto de Deus.  Diante disto, podemos dizer que existe a crise da fé, pois a pessoa só acredita conforme a solução das próprias necessidades.

Para o povo que vivia no Exílio na Babilônia, 500 anos antes do nascimento de Jesus, existia também uma crise de fé. Por isso o profeta Habacuc questiona a Deus: “Senhor, até quando clamarei, sem me atenderes?” ((Hab 1,2).  Existia tanta violência e sofrimento sem nenhuma solução e, diante desta situação, vem a pergunta: Será que Deus existe? Mas, diante do questionamento, vem a resposta de Deus: “Quem não é correto, vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hab 1, 4).

Também para os primeiros cristãos existia uma crise de fé. As dificuldades no seguimento de Jesus, as perseguições e o simples fato de não descobrir claramente o que significava seguir Jesus, desanimava a vida em comunidade. Os discípulos no evangelho de hoje, são os discípulos de todos os tempos com a pergunta: “Senhor aumenta nossa fé” Jesus responde com a parábola: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: arranca-te daqui e planta-te no mar, e ela vos obedeceria” (Lc 17, 6).

Um grão de mostarda é muito pequeno, então Jesus está dizendo que não depende da quantidade, mas da qualidade da fé. O que, então, significa qualidade de fé?

A fé não é uma troca, negócio ou mercado. É serviço, é um precioso depósito com a ajuda do Espírito Santo. A partir disto é que podemos entender a parábola do servo inútil que não merece nada de especial porque foi fiel ao seu dever. Nossa fé não é pedir favores de Deus, mas reconhecer que somos servos inúteis na missão de evangelizar e, para isto, é preciso a coragem.

Isto é reforçado por Habacuc: “o justo viverá por sua fé”. É na vivência da justiça e do amor que manifestamos a fé, não porque queremos algo em troca, mas porque queremos implantar o Reino.

Nos próximos dias, vamos celebrar a festa de São Francisco, o santo da paz e do bem e o defensor da ecologia. Podemos ver o exemplo de fé de São Francisco que no final da vida, depois de ter deixado tudo e vivido uma vida de pobreza, humildade e minoridade, ele disse: “Irmãos, vamos recomeçar novamente, porque até agora pouco ou nada fizemos”. Seguir o exemplo de São Francisco é também viver a fé que professamos.

A fé não é uma questão de mercado, nem uma boa obra que fazemos de vez em quando ou satisfação emocional, mas é viver a confiança em Deus, uma adesão de vida ao projeto de Deus. São Francisco foi este grande exemplo de fé por se tornar o servo inútil, impulsionado para praticar o amor, a justiça e a fraternidade, por causa da fé.

A Palavra de Deus deste domingo nos convida a refletir sobe a forma que vivemos nossa fé. Como colocamos em prática aquilo que acreditamos e qual o testemunho que damos por causa da nossa fé.  São perguntas que devemos fazer a nós mesmos para que possamos reavivar a chama da fé como dom de Deus que recebemos. No fim devemos reconhecer que a fé é a entrega total e gratuita. Francisco de Assis continua sendo o grande exemplo do servo menor que se colocou à disposição de Deus, confiando nele e acatando a sua palavra e vontade. Que nós também possamos seguir este exemplo de fé.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

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