29º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

O grande desafio do cristão é conhecer e viver a Palavra de Deus e seguir o caminho de Jesus. Todos os domingos, na liturgia, somos desafiados pelo ensinamento de Jesus que nos coloca diante de várias questões fundamentais para o nosso dia a dia. Uma das questões que nos afeta é o pagamento de impostos. O Brasil está entre os 30 países no mundo que mais cobra impostos. O valor desembolsado pelos brasileiros para pagar impostos é igual a cinco meses de trabalho. Quase a metade do ano, brasileiros e brasileiras trabalham para pagar impostos. Enquanto isto, podemos questionar para onde vão estes impostos. Entre 30 países do mundo que tem a maior carga tributária, Brasil aparece em último lugar com o pior retorno dos impostos arrecadados para serviços de qualidade que venham a beneficiar a população. O que poucos sabem, ao contrário do pensamento de muitas pessoas, é que os pobres são os mais taxados. São os que tem menos que pagam mais! Só precisa olhar ao nosso redor e prestar atenção para verificar que os impostos não voltam para o bem da população. O povo vive numa situação de calamidade quando se fala de educação, saúde, saneamento básico, segurança e serviços públicos. Diante disto, devemos ou não pagar impostos?

No tempo de Jesus, os impostos do Império Romano eram ainda mais altos do que hoje e o povo vivia doente, com fome, oprimido e negado dos seus direitos básicos. Os fariseus esperavam a libertação do poder Romano e por isso eram contra o pagamento de impostos. Além disto, a figura do César na moeda era uma idolatria, pois se o homem foi criado na imagem de Deus, uma imagem de uma pessoa seria colocar-se no lugar de Deus. A partir disto, é que podemos entender a pergunta dos fariseus de Jesus no evangelho de hoje: “É lícito ou não pagar imposto a César?” (Mt 22, 17). Era uma armadilha, pois se Jesus dissesse sim, Ele seria um colaborador dos Romanos; se dissesse não, seria denunciado somo subversivo. Jesus respondeu: “Dai, pois, a César o que é César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21). O “dar” aqui significa “devolver” a cada um o que lhe pertence. Jesus não nega a obrigação de pagar impostos, mas questiona a pretensão de César de ser igual a Deus. Nenhum poder político ou autoridade pode se colocar no lugar de Deus, pois se isso acontecer, estará aberta a porta para o uso da autoridade em benefício próprio, esquecendo que a razão de existir os impostos é para os direitos do povo.

Podemos entender isso melhor olhando a primeira leitura do profeta Isaias. O rei Ciro, de quem o profeta fala, era rei da Pérsia que conquistou a Babilônia e libertou o povo do cativeiro. Todos elogiavam o rei e o colocavam nas alturas, como se fosse maior que Deus. Mas o profeta quer lembrar que foi o próprio Deus responsável por esta libertação, pois foi ele que tomou Ciro pela mão para dobrar o orgulho dos reis que exploram e oprimem. Por isso, todos têm que saber que fora de Deus, outro não existe. O próprio Deus diz: “Eu sou o Senhor, não há outro” (Is 45, 6).

Voltamos a pergunta: devemos pagar impostos? Todos nós temos obrigação na sociedade em que vivemos. Nenhuma população pode existir sem impostos e o cristão tem que ser um bom cidadão, contribuindo para o bem comum. Ao mesmo tempo, nunca podemos colocar qualquer autoridade no lugar de Deus, como se fosse ele o salvador da humanidade. É preciso lembrar que Deus é o Senhor da vida. Devolver a Deus o que é de Deus significa colocar cada coisa no seu lugar e reconhecer que nós cristãos, pela nossa fé em Deus, devemos ser comprometidos sempre com a vida e a dignidade de todas as pessoas. Por isso, nossa fé no Deus da vida deve nos levar a praticar valores essenciais para o bom funcionamento da sociedade e para o bem das pessoas.

Para que isto aconteça, é necessário praticar a justiça. Numa sociedade de injustiças e desigualdades, nós precisamos ser os primeiros a defender os direitos e a dignidade das pessoas. Depois, precisamos viver a honestidade como um valor cristão. Numa sociedade de corrupção e mentiras, precisamos brilhar como pessoas que são honestas nos negócios e no cumprimento de nossos deveres como cidadãos, inclusive o pagamento de impostos.

Também, é preciso reforçar o nosso compromisso na vivência de valores cristãos. Entre nós existe tantas imoralidades e maldades e, por isso, é preciso lembrar as palavras de São Paulo: “Diante de Deus, nosso Pai, recordamos sem cessar a atuação de vossa fé, o esforço da vossa caridade e a firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts a, 3). Com certeza, é este testemunho de vida e compromisso que devemos dar todos os dias. Devolver a Deus o que é de Deus é o esforço constante de viver os ensinamentos de Jesus e reconhecer que existe só um Deus, fora dele não existe outro e nós somos chamados a fazer a sua vontade.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

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