“Água molhe em pedra dura, bate, bate até que fura”. Todos nós já escutamos este ditado e, normalmente quando usamos, fazemos referência a pessoas de cabeça dura. Pessoas que não conseguem entender as coisas ou, ainda pior, simplesmente não querem. Assim, é preciso repetir e repetir até que finalmente a pessoa consegue entender e aceitar uma nova ideia. Pode ser muito difícil, mas como o ditado nos ensina, é preciso continuar insistente, pois sempre há esperança de compreensão e entendimento.
Podemos dizer que o Evangelho de hoje é justamente sobre este ditado. Para os discípulos, o Messias esperado seria uma pessoa de poder que iria combater os inimigos com o uso de armas. De acordo com este pensamento, era necessário reestabelecer o reinado de Israel diante do grande inimigo, o Império Romano. Ao longo dos últimos domingos, no evangelho de Marcos, temos seguido Jesus pelo caminho quando Ele estava ensinando sobre a sua missão e especialmente sua paixão, morte e ressurreição. Os discípulos não compreenderam nem a missão e nem o jeito de Jesus ser o Messias. Jesus já tinha falado três vezes sobre isto, mas há um completo desencontro entre a proposta de Jesus e as ideias dos discípulos. Ainda eles estavam insistindo em suas ambições e projetos de grandeza, manifestado pelo pedido de João e Tiago quando pediram postos de honra e prestígio no Reino a ser inaugurado por Jesus.
Em outras palavras eram de cabeça dura e, não só os dois, mas todos os outros discípulos manifestaram isto quando ficaram com raiva por causa deste pedido. Jesus, então, insiste outra vez: “Vós não sabeis o que pedis. Por acaso, podeis beber o cálice que vou beber? Podeis ser batizados com que vou ser batizado?” (Mc 10, 38). Para Jesus, os discípulos precisavam participar da mesma missão que Ele assumiu até as últimas consequências. É a missão do Servo Sofredor como descrito no profeta Isaias: “Por esta vida de sofrimento, alcançará luz e uma ciência perfeita. Meu servo, o justo, fará justiça a inúmeros homens, carregando sobre si suas culpas”. (Is 53, 11). O Messias é o Sevo Sofredor que veio para dar a vida, para resgatar toda a humanidade do mal e oferecer vida nova pela participação e vivência no Reino de justiça, solidariedade e fraternidade, diferente dos reinos deste mundo.
Depois do pedido e o diálogo com os dois, Jesus percebeu a indignação dos outros discípulos e novamente Ele repete seu ensinamento: “Vós sabeis que os chefes das nações as oprimem e os grandes as tiranizam. Mas, entre vós, não deve ser assim: quem quiser ser grande, seja vosso servo; e quem quiser ser o primeiro, seja o escravo de todos. Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate para muitos” (Mc 10, 42-44).
A ideia de grandeza continua muito forte entre nós e na sociedade em que vivemos. Tem pessoas que querem ser grandes pelo poder, dominando e mandando nos outros, tanto no âmbito da família, como no trabalho e nas relações com os outros. Tem outros que sonham na grandeza pela riqueza, pois a riqueza já dá o ar de importância e o “direito” a receber privilégios e favores pelo fato de ter muito dinheiro. Outros sonham com a grandeza pelo prestígio e fama satisfazendo seus desejos pelos elogios e aplausos. Com certeza, todos nós temos estes desejos de grandeza, todos nós caímos facilmente na mesma cilada dos discípulos, desejando os lugares de honra de distinção. Mas, como Jesus ensinou, “entre vós não deve ser assim”. A insistência de Jesus é para uma nova comunidade que vive uma atitude de serviço e fraternidade e não pelo mau uso da autoridade no ato de mandar e controlar.
Este ensinamento é também para nós cristãos, os discípulos e discípulas de Jesus de hoje. Os discípulos só compreenderam que Jesus era o Messias Servo Sofredor depois dos fatos, isto é, só penetrou na cabeça deles o significado das suas palavras depois da sua morte e ressurreição. E nós, muitas vezes temos a cabeça dura, pois não conseguimos entender ou simplesmente não queremos entender por que implica em mudança de pensamento, mentalidade e principalmente de ação. Devemos sempre nos questionar: temos capacidade de aceitar este ensinamento de Jesus? É preciso sempre escutar e lembrar que Jesus não cansou de ensinar os discípulos de ontem e ele não cansa de nos ensinar hoje: “água molhe em pedra dura, bate, bate até que fura.”
Por: Frei Gregório Joerigth, OFM