A mensagem fundamental de Jesus é o amor, pois no seu discurso na última Ceia, Ele disse: “Se vocês tiverem amor uns para com os outros, todos reconhecerão que vocês são meus discípulos.” (Jo 13,35). Mas, Jesus não somente ensinou sobre o amor, mostrou a importância do amor na vida da comunidade pelo serviço e pela doação. Podemos dizer que viver em comunidade é um estilo de vida, isto é, não um conceito ou ideia, mas é uma prática, a prática do amor. Por causa disto, quem não está na comunidade não vê o Senhor. A liturgia hoje é justamente a celebração do nosso compromisso em comunidade.
A primeira leitura, do livro de Atos, é o retrato de uma comunidade cristã onde se realizou muitos sinais e maravilhas e viveu a fé em Jesus ressuscitado. O que destacava na comunidade era o fato que os primeiros cristãos, desde o início, entenderam que a Igreja é uma assembleia convocada pelo Senhor. Os fiéis se reuniam num só coração e eram estimados por muitos, por isso era uma comunidade viva e comprometida com a vivencia da justiça e da solidariedade e aumentava cada vez mais o número de fiéis que aderiram ao Senhor e seguiram seu ensinamento e seu caminho. Jesus não podia ser visto pessoalmente, mas a comunidade cristã era um sinal visível do Cristo ressuscitado e presente no meio dos cristãos reunidos.
No evangelho os discípulos estão reunidos de portas fechadas no domingo, o primeiro dia da semana. É uma comunidade medrosa porque se sente insegura e desamparada, trancada para se proteger do ambiente hostil que a cercava. Porém, a raiz de seu medo vem do fato de ainda não ter passado pela experiência da fé no Cristo Ressuscitado. Então, Jesus veio e se colocou bem no meio da comunidade e disse: “A paz esteja convosco”. Jesus não somente ofereceu a paz, mas também convidou para seguir seu caminho e anunciar a todos a mensagem de paz: “Como o Pai me enviou, eu envio vocês”. Ele é o centro e o sinal da unidade que traz a paz, a harmonia e a coragem para enfrentar e vencer todos os sinais de morte, opressão e outras hostilidades que lhe possam advir. A força de viver a paz e o espírito comunitário vem do alto, pois Jesus soprou sobre e eles receberam a força do Espírito: “Recebam o Espírito Santo”.
Importante lembrar que Tomé estava ausente quando Jesus apareceu aos discípulos e ele recusou a crer: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”. Podemos dizer que as dúvidas de Tomé são um convite para os cristãos de hoje, pois o Cristo ressuscitado continua nos animando a acreditar e a nos comprometer em comunidade: “Felizes os que creem sem ter visto”. Se nós não participamos na comunidade não vamos ao encontro com Jesus e com os irmãos, e por isso, não vamos acreditar. Acreditar não é só dizer, mas manifestar a fé pela vida e pelo testemunho. Queremos sair de portas trancadas, pois Jesus nos diz: “Não seja incrédulo, mas fiel”.
A partir desta reflexão podemos lembrar da importância das nossas comunidades hoje. Somos convidados a sermos uma nova paróquia, isto é, uma comunidade de comunidades. É preciso reforçar as nossas pequenas comunidades onde vivemos o compromisso do batismo. Por isso em comunidade devemos imitar as primeiras comunidades, pois o ideal descrito por São Lucas nos Atos quer recordar o que é essencial daquilo que toda comunidade deve ser.
Este ideal se manifesta nos traços da comunidade que são fundamentais para fortalecer e animar as comunidades. Esta animação começa com a catequese de inspiração catecumenal, isto é, baseada na prática das primeiras comunidades. Nesta catequese, imitamos os primeiros cristãos com os cinco passos da iniciação: encontro com Jesus, a conversão, o discipulado, a comunhão fraterna e a missão. Depois lembramos da importância do aprofundamento da Palavra de Deus. É na comunidade que escutamos, refletimos e meditamos a Palavra para que ela penetre em nossos corações para iluminar nossas ações diárias. Não podemos esquecer que Jesus desejou a paz e hoje celebramos o Dia da Divina Misericórdia. Nosso testemunho do Cristo ressuscitado passa pela prática da misericórdia e pela vivência da paz. A comunidade cristã se reunia no primeiro dia da Semana, pois neste dia celebrava o mistério de Jesus morto e ressuscitado. O Domingo, o primeiro dia da semana, é nossa Páscoa e dia por excelência da reunião dos discípulos de Jesus e celebrar o mistério pascal é reforçar nossa fé em Jesus.
Hoje, reunidos junto à mesa da celebração, somos atraídos por Deus e desejamos formar comunidade, pois “as lições que melhor educam, na Eucaristia que nos dais!” (Hino: Ó Senhor Nós Estamos Aqui”, Irmã Míria T. Kolling).
Frei Gregório Joeright, OFM