“Quem não está em comunidade não vê o Senhor!”. Hoje, o segundo domingo da Páscoa, celebramos nosso compromisso em comunidade. É na comunidade que descobrimos a presença de Jesus ressuscitado.
A primeira leitura, do livro dos Atos dos Apóstolos, é o retrato de uma comunidade cristã que vivia a fé em Jesus ressuscitado. O que mais se destacava nesta comunidade era que os cristãos, desde o início, entenderam que a Igreja é uma assembleia convocada pelo Senhor. O objetivo desta assembleia era viver unidos numa só alma e num só coração. Existia a comunhão fraterna vivida na partilha dos bens, pois não havia necessitado entre eles. Eram também perseverantes no ensino dos apóstolos e, por isso, era necessário a catequese onde as pessoas eram introduzidas na vivência da fé pelo caminho da iniciação à vida cristã. Davam grande testemunho pela oração, pela vida em comunidade e no seguimento da doutrina dos apóstolos. Portanto, era uma comunidade de irmãos e irmãs, reunida ao redor de Cristo, animada pelo Espírito Santo com a missão de testemunhar Jesus. Assim, a comunidade se tornou o lugar da vivência da fé e do testemunho no seguimento de Jesus.
No evangelho, encontramos os discípulos com medo reunidos de portas fechadas no domingo, o primeiro dia da semana. É o dia que Jesus ressuscitou e o dia em que a comunidade sempre se reúne para celebrar, para escutar a palavra proclamada e partilhar o pão. Jesus entra, vencendo as portas trancadas, fica no meio deles e deseja a paz. Jesus não somente deseja a paz para aqueles que querem seguir seu caminho, mas também envia os discípulos com a força do Espírito.
O sopro de Jesus sobre os discípulos recorda o sopro vital de Deus que comunica a vida no início da criação e agora, no dia da ressurreição. Há uma nova criação quando, pelo mesmo Espírito, os discípulos são enviados para proclamar as maravilhas de Deus realizadas na própria comunidade. Estas maravilhas são experimentadas no perdão dos pecados, no anúncio da palavra, na partilha dos bens e na vivência da fé. Por isto, a comunidade possuía o poder da atração por sua novidade extraordinária: “E, cada dia, o Senhor acrescentava ao seu número mais pessoas que seriam salvas” (At 2, 47).
Tudo isto nos lembra a nossa vivência em comunidade hoje. Para possuir o mesmo poder de atração da primeira comunidade cristã, é preciso reforçar a vivência comunitária, pois a nova paróquia tem que ser uma comunidade de comunidades. É nas nossas pequenas comunidades onde vivemos o compromisso do batismo pela escuta e anúncio da palavra, na oração, na partilha e na fidelidade ao ensinamento da Igreja. O ideal descrito por São Lucas nos Atos não somente recorda o que é essencial daquilo que toda comunidade deve ser, mas, ao mesmo tempo, nos anima a viver este ideal.
Este ideal pode ser vivido ainda hoje nas seguintes ações: primeira, a catequese de inspiração catecumenal onde os catequizandos são conduzidos nos cinco passos da vida cristã: encontro com Jesus, a conversão, o discipulado, a comunhão fraterna e a missão. Ao mesmo tempo, na comunidade procuramos viver a solidariedade e a partilha, através do dízimo, atos de doação e solidariedade especialmente em favor dos menos favorecidos. Testemunhamos também a presença do Cristo ressuscitado pelo perdão, reconciliação e vivência da paz. Pela celebração da Eucaristia confirmamos a fé em Jesus e renovamos nosso compromisso em comunidade, pois celebrar o mistério pascal é reforçar nossa fé em Jesus.
Quando Jesus apareceu aos discípulos, São Tomé não estava presente, não viu Jesus e não acreditou. Se nós não participamos na comunidade não será possível fazer o encontro com Jesus e com os irmãos e, portanto, não vamos acreditar. Acreditar não é só dizer que somos cristãos, mas significa manifestar a fé pela vivência e pelo testemunho. Não queremos ficar de portas trancadas, mas queremos ser uma Igreja em saída que vive o ideal cristão em comunidade, pois Jesus nos diz: “Não seja incrédulo, mas fiel” (Jo 20, 27b) É esta fidelidade que nos dá a certeza de sermos verdadeiros testemunhas da ressurreição: “Acreditaste, por que me viste? Bem-aventurados os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).
Por: Frei Gregório Jorieght, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo