2º Domingo da Quaresma

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Hoje em dia, na sociedade em que vivemos, uma das coisas que mais conta na vida é a aparência. Dá-se muita importância para a aparência das pessoas e há uma grande preocupação com a imagem e a beleza. Homens e mulheres são dispostos a gastar muito por causa da aparência: fazem cirurgias para corrigir as partes do corpo que não agradam e usam todo tipo de cosmético para esconder qualquer defeito. Às vezes, se dá mais atenção para a imagem das pessoas do que para a própria pessoa. Também, nos meios de comunicação social, o que conta mais é a imagem apresentada e muito menos a palavra escrita ou a fala.  Assim, se cria uma cultura onde as pessoas não valem tanto por aquilo que são, pela sua dignidade como seres humanos, mas mais pela aparência e a beleza.

Enquanto isto, na mesma sociedade, existem muitas pessoas com o rosto desfigurado. Os sofrimentos por causa da doença, da fome e da miséria fazem com que as pessoas perdem a sua dignidade. São sofrimentos estampadas no rosto de pessoas que são dominadas pela exploração. São muitos exemplos: o tráfico humano quando pessoas são usadas para o trabalho desumano ou exploração sexual; indígenas que são ameaçados a perder suas terras em nome do progresso; a própria criação, desfigurada e agredida por causa da busca desenfreada de lucro e a cultura do descartável. Tantas pessoas e a própria criação com o rosto desfigurado que lembram o rosto desfigurado de Jesus que, como o servo sofredor, assumiu a nossa dor e morreu na cruz. Seu rosto ensanguentado é também o rosto de pessoas desfigurados pela dor, pela exploração e pela injustiça.

No evangelho de Mateus, antes da sua transfiguração, Jesus anuncia a sua entrega nas mãos dos doutores e fariseus e fala da sua paixão e morte, dizendo aos seus discípulos: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga” (Mt 16,24). Diante do anúncio de Jesus, os discípulos não somente não aceitam e não acreditam, mas ficam profundamente desanimados, pois não é o caminho que eles imaginavam. O caminho apontado por Jesus não é o que pensavam, pelo contrário, começam a pensar que seguir Jesus é um grande fracasso.

É nesta hora que Jesus toma consigo Pedro, Tiago e João e sobe uma alta montanha onde se revela uma outra realidade. Lá sua aparência mudou por completa, seu rosto ficou brilhante e suas roupas brancas: é a manifestação da futura glória de Jesus. Os discípulos querem ficar parados para contemplar esta glória, mas é preciso escutar a voz do Pai: “Este é meu Filho amado. Escutai-o” (Mt 17, 5). A alta montanha se torna o lugar onde Deus se manifesta e o Pai se revela na pessoa de Jesus. Na transfiguração, o Filho amado, convida toda a humanidade e toda a criação a recuperar a dignidade. A transfiguração aponta não para o fracasso da cruz, mas para a vitória da ressurreição. Também, na transfiguração, Jesus não simplesmente mudou de aparência, mas revelou o valor da vida. Em Jesus aparece a verdadeira beleza do ser humano que deve ser respeitado em todas as etapas da vida, desde a concepção até a morte.

Escutar Jesus também é reconhecer que é preciso descer da montanha para a realidade do dia a dia, pois é esta realidade desfigurada que precisa ser transfigurado. Em Jesus os rostos desfigurados pelo sofrimento e pela dor também podem ser transfigurados quando nós nos comprometemos a escutar o que ele diz e seguir seu caminho de amor. Na transfiguração, Jesus se revela como Filho de Deus e aponta para uma nova realidade. Como descer da montanha para alcançar esta novidade?

  • Com certeza, a realidade e o sofrimento de tantos rostos desfigurados são os desafios que enfrentamos. Mas, ao mesmo tempo, nos ajudam a descobrir o rosto de Jesus e compreender que precisamos escutar a sua voz.
  • Quem contempla o mistério de Jesus também compreende a missão do cristão. Não é simplesmente uma mudança de aparência, mas transfigurar, transformar o mundo para que também possamos continuar no meio deste mundo testemunhando o mistério de Jesus e manifestando seu rosto transfigurado, sinal da vitória sobre as trevas.
  • Esta nova transfiguração pode acontecer quando lembramos o que nos ensina a CF este ano com o tema: “Fraternidade e Fome”. Somos convidados a acolher a Palavra de Deus, que converte o coração, e assumir o compromisso cristão e à corresponsabilidade fraterna na superação da miséria e a fome.

Que o mistério que celebramos não seja só da boca para fora ou de aparência, mas sinal do nosso compromisso em transformar a nossa própria vida, a vida da comunidade e do mundo em que vivemos.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM


Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

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