Podemos imaginar a situação de Jesus. Ele, a partir da sua própria prática, ensinava com autoridade, mas ficou acuado diante dos fariseus, pois queriam provocar polêmicas para poder acusar Jesus. Semana passada escutamos quando os fariseus perguntaram se era lícito ou não pagar impostos. Fariseu significa separado e irrepreensível. Para eles o povo era ignorante e desprezado e o mais importante era discutir sobre a Lei e qual o maior mandamento entre as 613 leis que existiam. Para muitos, o maior mandamento era guardar o sábado.
Então, para fazer uma armadilha, perguntaram a Jesus: “Mestre, qual é o maior mandamento da Lei?” (Mt 22,36), e Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento. Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22, 37-30). Jesus tirou a sua resposta da própria Lei, do livro do Êxodo: “Não oprimes nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito. Não faças mal algum à viúva nem ao órfão” (Ex 22, 20-21).
A lei do Antigo Testamento já estava prevendo as palavras de Jesus. O estrangeiro, a viúva, o órfão e o pobre eram as pessoas mais fragilizadas e vulneráveis e assistir estas pessoas era a expressão de amor ao próximo. O amor deve ser incondicional sem limites. Quem ama de forma incondicional não espera nada em troca e a manifestação deste amor é a vivência da misericórdia e compaixão em primeiro lugar. Ao mesmo tempo, a prática do amor ao próximo é uma clara manifestação da fé em Deus.
Neste último domingo do mês das missões podemos perguntar: qual a nossa missão hoje? Com certeza nossa missão é viver o amor e o amor sem fronteiras. Amar especialmente os marginalizados, fragilizados e vulneráveis no mundo de hoje. Apesar do fato que muito se fala sobre o amor, existe muitas situações de desamor. Estamos todos testemunhando tanta falta de amor nas guerras com suas consequências de violência, morte, ódio e vingança. Há situações de divisão social e desigualdade onde precisamos viver o amor. Também é preciso olhar para as nossas famílias onde falta diálogo e perdão, existe o divórcio, drogas, álcool e infidelidade – é nestas situações que somos chamados a viver o amor.
Na perspectiva da nossa fé, há um apelo para o amor incondicional para com todas as pessoas que significa a prática da generosidade e da solidariedade sem o interesse próprio. Podemos citar dois exemplos deste amor. Primeiramente, Maria que disse sim ao projeto de Deus. Ela não olhou para as dificuldades que ia enfrentar e nem para aquilo que seria melhor para ela, mas ela simplesmente queria fazer a vontade de Deus. A nossa devoção à Maria é pelo fato que foi este sim que trouxe para nós o Salvador da humanidade. Também, podemos pensar, como foi possível que o nosso Criador e Criador de todas as coisas, um Deus altíssimo e santo, podia habitar no ventre de uma mulher. A encarnação e a salvação gratuito de Jesus pela sua morte e ressurreição é uma prova de amor incondicional de nosso Deus.
Segundo, devemos viver o amor não só ao próximo, mas a todos as criaturas e toda a natureza. Podemos então olhar para o exemplo de São Francisco de Assis. Francisco deixou um cântico do amor a Deus, a toda a humanidade e a toda a criação no seu cântico do Irmão Sol. Neste cântico Francisco trata toda a criação como uma grande família: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas”. Ele lembra que toda a criação é irmão e irmã. Irmão sol com a sua luz, irmã lua e as irmãs estelas que clareiam a noite. Irmão vento, irmã água, irmão fogo e irmã terra que sustentam a vida e dão força para todas as criaturas. Não só isso, Francisco lembra a importância do perdão entre as pessoas e os que sofrem tribulações por causa do amor. Para Francisco é o perdão que traz a paz e a paz deve existir entre todas as pessoas e nações como irmãos e irmãs, formando a grande família de Deus na vivência do amor incondicional.
Para nós, viver o amor significa ouvir o que a Palavra nos fala e ensina, e viver esta palavra a partir da compaixão que foi a orientação do livro de Êxodo: “Se tomares como penhor o manto do teu próximo, deverás devolvê-lo antes do pôr do sol. Pois é a única veste que tem para seu corpo e coberta que ele tem para dormir. Se clamar por mim, eu o ouvirei, porque sou misericordioso” (Ex 22, 25-26). Quando temos esta sensibilidade pelas pessoas e por todas as criaturas, nós também podemos viver o amor.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo