O principal meio de comunicação que temos como pessoas é a nossa voz. Mas a voz não é somente os sons que emitimos da nossa boca e que nos dá a capacidade de comunicar, é também o nosso direito de falar e de expressar uma opinião. Pode ser uma fala de concordância ou discordância, ou até um grito de protesto. Há o ditado: “a voz do povo é a voz de Deus”.
Hoje celebramos o domingo do Bom Pastor, também o domingo de orações pelas vocações em que pedimos verdadeiros pastores para conduzir o rebanho de Cristo. A liturgia de hoje nos coloca diante da voz de Jesus que devemos escutar e seguir, pois nos chama para a conversão e a realização das promessas de Deus que é vida e a “vida em abundância”.
Na primeira leitura do livro dos Atos, escutamos a voz de Pedro que anuncia: “Que todo o povo de Israel reconheça com plena certeza: Deus constituiu Senhor e Cristo esse Jesus que vós crucificastes” (At 2,36). Pedro, chamado pela voz de Deus para ser apóstolo, nos lembra que a morte de Jesus não ficou sem resposta, pois Deus o ressuscitou e o tornou Senhor e Cristo. Se Jesus é o Senhor, é preciso escutar a sua voz que nos chama à conversão. Pedro ainda faz um novo apelo: “Salvai-vos dessa gente corrompida!” (At 2, 40). É preciso fechar os ouvidos para as vozes que nos desviam do caminho de Cristo, isto é, dos interesses do poder que não se importam com a vida do povo, mas buscam a opressão e a morte. Jesus como o Senhor e Cristo é a única voz que devemos escutar, pois seu projeto é de vida e graça.
No evangelho de São João estamos diante de duas imagens contrárias: o bom pastor e o ladrão. Jesus é o bom pastor que caminha à frente do rebanho e o conduz para a vida. Por isso, Jesus é a porta pela qual passam as ovelhas e elas escutam a sua voz. A voz de Jesus não é somente para chamar, mas também é sinal de respeito pela dignidade e identidade de cada um, pois chama cada ovelha pelo nome. Esta mensagem foi muito importante para a grande multidão diante de Jesus. Naquele tempo, esta multidão era massacrada pelo poder Romano com altos impostos e o latifúndio que tirava a terra – o único sustento do povo – provocando uma situação de endividamento, servidão, fome e doenças. Além disto, o poder religioso, em nome de Deus, oprimia e explorava o povo para manter os privilégios das lideranças religiosas. A pessoa, o indivíduo não tinham valor nenhum. Enquanto isto, Jesus nos fala: “Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora” (Jo 10, 2-3). Jesus então é o verdadeiro pastor, o redentor ou resgatador, não somente liberta da opressão, mas devolve ao indivíduo, à pessoa, às ovelhas o seu valor e a sua dignidade.
Hoje em dia, há muitas vozes que nos desviam do caminho e do seguimento da voz de Jesus. Podem ser as vozes do egoísmo e individualismo, manifestadas quando colocamos em primeiro lugar o celular, a televisão, as novelas, as redes sociais e os interesses pessoais. Também, são os ladrões que se apresentam como pastor, ou até falam em nome de Cristo, mas procuram vantagens pessoais. Os pastores que mantém o sistema de exploração prometendo milagres e prosperidade e até incentivando a destruição e exploração da natureza e de terras indígenas em nome do progresso.
Seguir a voz de Jesus, o Bom Pastor, é lembrar as suas palavras no fim do evangelho: “Eu vim para que tenham vida e a tenha em abundância”. Isto significa que nós cristãos precisamos promover a vida em todos os aspectos. Inicialmente, em nossas famílias onde precisamos buscar sempre os valores evangélicos no dia a dia da convivência. Deve reinar no seio das famílias um ambiente de compreensão, diálogo, aceitação dos outros e reconciliação. Um outro aspecto da vida familiar é a participação na comunidade. A comunidade é a escola onde não somente escutamos a voz de Deus na Palavra e rezamos como irmãos, mas também o lugar onde aprendemos a solidariedade, compreensão, compaixão e misericórdia. Em comunidade vivemos como a grande família de Deus, somos o rebanho de Jesus que escuta sua voz e buscamos o ideal da vida cristã.
Neste domingo do Bom Pastor, a Igreja reflete e reza pelas vocações, em especial as vocações religiosas e sacerdotais. Mas, ao mesmo tempo, rezamos por todas as vocações e por todas as pessoas que exercem, de alguma forma, liderança nas famílias, comunidades e nações. Como povo cristão queremos escutar a voz de Jesus, o Bom Pastor, seguir seu caminho e nos comprometer para que todas as pessoas “tenham vida e vida em abundância”.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo