
Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM
Estamos em tempos extraordinários! Todos os dias assistimos no noticiário novos acontecimentos tanto no mundo, como no Brasil: a violência e as atrocidades praticadas tanto entre as nações como em nossas ruas; a violência contra a mulher e o feminicídio, há pouco saímos de uma pandemia, mas as doenças e enfermidades cada vez mais aumentando; a corrupção e os crimes de desvio de dinheiro público; mudanças no clima com tempestades, secas e queimadas; desemprego, crime organizada e, como a CF nos alerta, o aumento assustador da intolerância e indiferença com o resultado de discriminação, preconceito e até violências praticadas em nome da fé. A lista parece sem fim.
Mas, prestando bem atenção, podemos verificar que a crise não é só econômica, social ou política, tem muito a ver com nosso próprio comportamento. Há uma cultura de corrupção entre nós, e os políticos não são os únicos culpados. Falta honestidade em vários aspectos da vida: a mentira que usamos para ganhar alguma vantagem sobre alguém, enganar o outro na hora de fazer negócios, a infidelidade nos relacionamentos, furar a fila porque achamos que somos mais importantes que os outros, desobedecer às leis do trânsito desrespeitando e arriscando a vida dos outros, pagar uma propina para resolver algum problema… também a lista parece sem fim. Pode dizer que são coisas pequenas, mas refletem também uma crise bem mais profunda: a falta de ética e até de moralidade.
Por que isto acontece? Podemos dizer que é o próprio pecado presente em nós e nos outros. Este pecado se manifesta muito claramente quando colocamos os bens materiais em primeiro lugar de tal forma que a vida dos outros e até da natureza se tornam vítimas da nossa ganância. Interessante notar como o autor do livro de Crônicas também observou tudo isto quando disse: “Naqueles dias, todos os chefes dos sacerdotes e o povo multiplicaram as suas infidelidades, imitando práticas abomináveis das nações pagãs” (2Cr 36, 14). O cronista explica ainda mais: “Eles zombavam dos enviados de Deus e desprezaram as suas palavras” (2Cr 36, 16). A consequência disto é a destruição da cidade e do templo de Jerusalém, e o exilio na Babilônia, provocando uma grande crise no meio do povo. Em outras palavras, em vez de procurar a luz de Deus, preferiram as trevas.
Ao mesmo tempo que existe o pecado e o abandono do projeto de amor, Deus é misericordioso e perdoa o povo que se desviou do seu caminho. Esta misericórdia se manifesta quando o povo é libertado do exilio e reconduzido de volta a terra. Mas, prova maior é que “Deus amou tanto o mundo, que deu seu Filho unigênito para que não morra todos o que nele crer, mas, tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Crer em Jesus é fazer uma opção, decidir não pelas trevas, mas pela luz. Viver na luz é ter ética, é viver conforme a vontade de Deus, é lutar contra o mal que está dentro de nós e presente na sociedade. Então Jesus é a luz divina para mostrar o caminho da verdade e da vida que conduz a Deus: “Quem age conforme a verdade aproxima-se da luz, para que se manifeste que suas ações são realizadas em Deus” (Jo 3, 21).
Isto significa que as nossas ações no dia a dia precisam ser analisadas de acordo com os critérios da Palavra de Deus, de acordo com a luz de Jesus. Se Deus amou tanto o mundo, também somos responsáveis de fazer uma escolha diante da proposta de Jesus que é o amor. Precisamos decidir qual será nossa preferência: a luz ou as trevas!
Se todos nós desejamos um país melhor livre da corrupção e injustiça, é preciso decidir pela luz e fazer o bem a todos justamente porque somos cristãos e acreditamos que o caminho de Jesus é a luz diante de tantas trevas que nos cercam. Nesta quaresma e, a partir da proposta da CF, todos somos convidados a nos aproximar da luz e viver conforme a verdade. É preciso cultivar a Amizade Social para superar a intolerância, indiferença e a violência pelo nosso compromisso com a verdade, a fraternidade, a honestidade, o diálogo e o amor. Assim podemos dar testemunha que “Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 17).
Por: Frei Gregório Joeright, OFM