4º Domingo do Tempo Pascal – Ano C

Imagem: Frei Andrei dos Anjos

Sempre é muito importante, quando fazemos a reflexão da palavra de Deus, olhar para a realidade em que vivemos, com suas dificuldades, valores e desafios para nós como cristãos. Uma das realidades presente na sociedade atual é sobre o valor que damos ao indivíduo. Existe hoje uma veneração à pessoa e à satisfação pessoal onde o indivíduo fica como maior valor diante de outros valores. Isto se verifica especialmente quando consideramos que muitas pessoas pensam que o que importa, e nada mais, é a própria vontade. Existe um culto ao corpo humana, ao querer pessoal e aos desejos imediatos, e isso, em detrimento aos valores comunitários.

É claro que a ênfase dada para o indivíduo tem seu lado negativo, mas também podemos dizer que provocou mudanças na sociedade. Nunca se falou tanto do valor e da dignidade da pessoa e que todo ser humano deve ser respeitado nos seus direitos. Também como se tornou tão importante nos dias de hoje o desenvolvimento da pessoa, o crescimento tanto emocional como físico. É verdade, mais que a pessoa é equilibrada com liberdade, mais que pode aprender a respeitar os outros e viver o amor. Massacrar o indivíduo, escravizar ou tirar sua dignidade não é só pecado, mas tira também o grande valor da democracia e da liberdade.

Jesus estava diante de uma grande multidão. No tempo dele, esta multidão era massacrada pelo poder Romano com altos impostos e a concentração da terra nas mãos de poucos. Esta prática do latifúndio tirava a terra do povo, seu único sustento. Esta situação levava ao endividamento, à servidão, à fome e às doenças. Além disto, o poder religioso, em nome de Deus, oprimia e explorava o povo. A pessoa, o indivíduo não tinham valor nenhum.

Enquanto isto era a realidade vivida naquela época, Jesus se apresenta como o pastor que conhece individualmente suas ovelhas: “As ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10, 27). Jesus então é o verdadeiro pastor, o redentor ou resgatador, não somente liberta da opressão, mas devolve ao indivíduo, a pessoa, a ovelha o seu valor e a sua dignidade. A liberdade e a dignidade da pessoa proposta pela sociedade é também a proposta de Jesus.

Mas, há também o outro lado em tudo isto. Existe o ladrão e o assaltante que querem arrancar a ovelha da mão de Jesus. Este ladrão hoje é justamente a sociedade que faz da pessoa humana um instrumento para seu próprio fim. Em outras palavras, enquanto o valor e o direito de cada pessoa é uma conquista da sociedade atual, o exagero do individualismo onde o que conta é somente aquilo que vai satisfazer seus desejos, é como o ladrão que quer arrancar do cristão o valor e o compromisso na vivência comunitária.

Escutar a voz do bom pastor é descobrir que Jesus tem uma outra proposta que é justamente a realização da pessoa através da sua doação aos outros pela vivência do amor e sua adesão à comunidade como instrumento na construção do Reino.

Mas para compreender e viver isto, é preciso coragem e ousadia no mundo de hoje. Justamente como Paulo e Barnabé que, mesmo rejeitados e perseguidos, anunciaram a palavra e declararam: “Eu te coloquei como luz para as nações para que leves a salvação até os confins da terra” (At 13, 47). Os apóstolos não somente anunciaram a pessoa e o projeto de Jesus, mas doaram a suas vidas para mostrar que Jesus é o verdadeiro pastor que nos resgata da escravidão, do pecado e das trevas e nos conduz para a verdadeira vida: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenha em abundância” (Jo 10,10).

Pensando em tudo isto, podemos lembrar que hoje é o Dia das Mães. Ser mãe é também doar a vida pelos filhos e conduzir os filhos para a vida. A vocação de mãe não é simplesmente criar o filho, mas lembrar que é Jesus que nos dá a verdadeira vida. A mãe cristã é aquela que dá o exemplo pela sua vida de doação e mostra que o verdadeiro valor da pessoa acontece no seguimento de Jesus.

Para seguir a voz do bom pastor e participar do único rebanho, é necessário reconhecer o valor e a dignidade de cada pessoa, mas, ao mesmo tempo, descobrir que a realização do indivíduo não está na satisfação do próprio desejo, mas na entrega da sua vida para a realização do Reino.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

 

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

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