Era uma noite dramática! Jesus estava reunido com seus discípulos na última ceia no cenáculo. Judas acabou de sair para trair Jesus, depois de Jesus ter mostrado o grande dom de serviço através do lava-pés. Os discípulos estavam confusos e com medo e perguntava entre si: o que seria o significado de tudo isto. Estava claro que Jesus seria condenado e que a sua hora estava chegando, isto é, da sua entrega total e sua morte na cruz. É justamente nesta hora de violência, sofrimento e morte que Jesus fala que o Pai será glorificado e Ele dá um novo mandamento: “Eu vos dou um novo mandamento, amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros” (Jo 13, 34). Este novo mandamento somente pode ser entendido a partir da hora de Jesus, pois depois ele vai dizer: “Não há maior amor que dar a vida pelo amigo” (Jo 15, 13). É a partir desta hora dramática que podemos compreender que a própria vida de Jesus é o amor e o amor é a identidade do cristão. É pela vivencia do amor que nós nos identificamos como cristãos no mundo.
De fato, a proposta cristã resume-se no amor. O amor é o distintivo, que nos identifica; quem não vive o amor, não faz parte da comunidade, não vive a fé em Jesus: “Todos conhecerão que são meus discípulos se tiver o amor uns aos outros” (Jo 13, 35). O amor mútuo é o resumo de toda a Lei da Nova Aliança, é o estatuto que fundamenta a comunidade cristã e podemos dizer que as pessoas descobrem a presença de Deus no mundo através de gestos, sinais e ações de amor.
Ao mesmo tempo, o amor é um mandamento novo. Não é apenas um conselho ou convite, mas essencial para viver a fé e seguir Jesus como seus discípulos. É um mandamento novo, pois é preciso amar o próximo como a si mesmo na maneira que Jesus nos amou. Esta é a novidade: “Como Eu vos amei…” E o grande sinal do amor de Jesus ao mundo foi justamente a sua entrega e a doação total até da própria vida.
E é neste amor que nós como cristãos podemos ser uma grande novidade para o mundo. Enquanto no mundo de hoje tem muitos avanços tecnológicos, mais conhecimentos sobre a pessoa humana, mais entendimento científico da natureza e da vida, ainda falta algo fundamental, o amor. Guerras, violências, discriminação de raças, ódio entre as nações, corrupção, destruição da natureza e da própria vida marcam os dias de hoje. Diante de tudo isto, nós cristãos somos desafiados a sermos verdadeiros sinais do amor às pessoas e ao mundo e assim viver nossa identidade cristã. Então, a Palavra de Deus nos questiona: como viver o amor verdadeiro hoje?
Primeiro, é pelo serviço que nós manifestamos o amor um pelo outro. Serviço que não visa o interesse próprio, mas o desejo de ajudar o outro. Por isso tão importante viver em comunidade. A comunidade cristã é o lugar do amor. Foi por isso que os discípulos eram capazes de enfrentar todo tipo de sofrimento para anunciar a Palavra e exortar a comunidade para ficar firme na fé. Na primeira leitura, escutamos como Paulo e Barnabé designaram presbíteros que tinham a tarefa de servir a comunidade e, por meio do serviço, manifestar a presença de Jesus ressuscitado no meio deles. No serviço eles viviam o amor.
O amor também se manifesta no ideal que queremos alcançar. A segunda leitura mostra o rosto final dessa comunidade de pessoas chamadas a viver no amor. O autor do livro de Apocalipse sonha com um “novo céu e uma nova terra”. Deus veio morar conosco. Cabe à comunidade cristã transformar o mundo em que vivemos em nova Jerusalém. A comunidade cristã deve ser um anúncio do Reino onde o mar do mal não existe, mas onde todas as lagrimas serão enxugadas e o Deus do amor vai fixar a sua morada.
Falar do amor é falar da nossa identidade cristã. Lembrar que nós todos precisamos ser sinais do amor de Deus a todas as pessoas pelos nossos pensamentos, gestos e ações. O encontro com Jesus que doou a sua vida, é o que deve nos levar a compreender o verdadeiro sentido do amor. Francisco de Assis compreendeu isto quando disse: “É isto que desejo, é isto que quero, é isto que procura de todo coração”. O desejo de Francisco era seguir Jesus e viver o evangelho e foi por isso que ele compreendeu o sentido do amor e expressou este sentido na sua oração: “Senhor fazei de mim um instrumento de paz”. Se formos instrumentos de paz e amor, seremos sinais da presença de Jesus entre nós que foi glorificado pelo Pai pela sua doação na cruz.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
Referências:
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo