A humanidade sempre enfrentou crises ao longo de sua história. Uma crise é uma ameaça à vida, e, ao mesmo tempo, imprevisível, inesperado, não é seletiva e muitas vezes fora da nossa compreensão. Uma crise pode ser individual, isto é do nosso estado emocional ou saúde física, mas pode alcançar um grupo de pessoas, comunidades ou pode afetar toda a sociedade. A pandemia do COVID-19 foi uma crise mundial que afetou praticamente toda a população mundial de todas as nações. Mas, também há outras crises na sociedade, na família, no trabalho, na escola e na juventude. As primeiras comunidades cristãs também enfrentavam várias crises e as leituras de hoje não somente falam destas crises, mas também indicam o caminho para enfrentá-las.
Os primeiros cristãos tinham uma experiência forte de comunidade baseada principalmente no anúncio da pessoa de Jesus e seu projeto e a vivência da partilha. Mas, a comunidade entrou em crise quando surgiu o problema das viúvas de origem grega que não estavam sendo atendidas na distribuição de alimentos. Esta crise se tornou ainda maior pelo fato que havia pessoas de todas as raças na comunidade e era preciso viver a igualdade entre todos. A comunidade enfrentou esta crise com muita clareza: não podia deixar a missão de evangelizar, mas, ao mesmo tempo, era preciso ter pessoas responsáveis de distribuir os alimentos para todos. Através de uma assembleia, com a presença de todos, o caminho se clareou e os passos foram dados para resolver a crise. Assim, escolheram pessoas cheias do Espírito Santo para servir aos mais necessitados e os apóstolos podiam continuar na missão de evangelizar.
A situação da comunidade de São Pedro era também de crise. Pedro escreveu para migrantes e escravos, pessoas sem lar e sem liberdade com o mesmo desejo: viver como gente. A grande pergunta por trás desta crise: como viver o ideal cristão numa situação de desigualdade e escravidão? Novamente era necessário clareza diante desta crise. Jesus é o exemplo, pois também sofreu a rejeição e perseguição, mas foi a partir disto que ele deu início à nova humanidade. O critério para ser um único povo de Deus é pertencer a Jesus e viver seu projeto de amor. Por isso, os cristãos são um povo novo que participa do sacerdócio real, isto é, não tem só uma casa, mas é o próprio Templo de Deus. É uma nação santa que significa não fugir da realidade, mas transformá-la de acordo com o projeto do Pai. Enfim, este povo massacrado e sem justiça é o povo escolhido para ser luz do mundo.
Jesus estava à mesa com os apóstolos, era uma noite dramática, pois Jesus estava para entregar a sua vida em resgate do mundo. A crise se estabeleceu, Jesus anunciou a traição de Judas e a negação de Pedro e os discípulos estavam perturbados e desanimados. Jesus falava que há muitos lugares na casa do Pai, mas não pôde se afastar da comunidade, pois era preciso a firmeza no caminho pela adesão a pessoa de Jesus. No entanto, Tomé não podia enxergar com clareza como seguir Jesus se ninguém conhecia o caminho. Jesus esclareceu: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6). Assim, Jesus mostra que Ele é a revelação plena do Pai, e é através da fidelidade à sua palavra, que é o caminho e a verdade, que nós podemos encontrar a luz e alcançar nova vida. Acreditar em Jesus é também fazer as obras de Jesus, é esta ação que nos indica o caminho da saída da crise, pois sem ele não podemos fazer nada.
A Palavra de Deus na liturgia de hoje nos ensina como nós podemos enfrentar as várias crises atuais. Primeiramente, é preciso a clareza da nossa fé e das ações que devemos fazer diante de tantas notícias falsas e ideias contrários daquilo que significa aderir à pessoa de Jesus e ao seu projeto de amor. Os primeiros cristãos encontraram esta clareza na missão de evangelizar e na vivência comunitária da partilha e da solidariedade. Não olharam para trás, mas seguiram na frente criando caminhos para manter firme este compromisso. Nós temos muitas oportunidades de superar qualquer crise realizando a missão de evangelizar através de ações de amor e solidariedade.
Os migrantes e escravos na carta de São Pedro descobriram que eles são a nação escolhida e o povo santo para transformar a realidade de sofrimento em esperança de vida nova. A clareza desta certeza deu força para encontrar a dignidade da vida e lutar contra toda a injustiça e opressão. Nós temos muitas oportunidades de valorizar a dignidade da vida de todos, mesmo diante de uma sociedade que desvaloriza os mais fracos e vulneráveis.
Os apóstolos estavam perturbados e desanimados diante da iminência do sofrimento e da morte de Jesus. Foi neste momento que Jesus falou que não se deve perturbar o coração. A clareza da nossa fé nos mostra que diante de qualquer crise na vida, não devemos ficar com medo ou perturbação, mas com coragem para enfrentar todas as dificuldades da vida. Qualquer crise que enfrentamos pode nos afundar na tristeza e desanimo, ou pode ser uma grande oportunidade de mudança e coragem. Uma crise pode mostrar a cegueira e a ignorância das pessoas ou a grandeza da humanidade. Que qualquer momento de dificuldade seja de grandeza pela força da fé, pois Jesus é o caminho a verdade e a vida.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM
BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.
COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.
A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo