O coração é um órgão fundamental para o funcionamento do corpo. É o musculo que bombeia o sangue que circula por todo o corpo alimentando todos os outros órgãos. Ninguém vive sem o coração. Mas também, o coração é o lugar do nosso sentimentos e emoções. Quando fala do amor, sempre fala do coração. Por isso, o coração é mais que um simples musculo que faz circular o sangue, é no coração de reside os nossos sentimentos de amor, de amizade, de carinho e ternura.
No pensamento e mentalidade dos Judeus, além de ser o lugar dos sentimentos, o coração era o lugar dos pensamentos, dos projetos, das decisões e das ações da pessoa. Na primeira leitura, Jeremias fala de uma aliança renovada, uma nova lei que será imprimida nas entranhas e no coração do seu povo: “Esta será a aliança que concluirei com a casa de Israel, imprimirei minha lei em suas entranhas, hei de inscrevê-la em seu coração; serei seu Deus e eles serão meu povo” (Jr 31, 33). Quer dizer que a Palavra de Deus precisa penetrar no coração e nos desejos do povo. Assim a palavra de Deus não será somente ouvida, mas praticada, o pecado do povo será perdoado e a vivência do projeto de Deus renovada.
No evangelho de hoje um grupo de gregos se aproxima de Filipe e disse: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus” (Jo 12, 21). Com certeza ouviram falar de Jesus e da sua palavra e ação, agora querem conhecê-lo pessoalmente. Mas não queriam somente ver, pois ao ver, eram convidados a acreditar. Jesus se faz ver através de uma imagem: “Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão, mas se morre, então produz muito fruto” (Jo 12, 24). Esta resposta mostra a própria missão de Jesus: Jesus vai morrer para mostrar a verdade do seu ensinamento sobre o amor e, através do amor, fazer nascer o novo. Este novo é a nova aliança firmada pela morte e ressureição de Jesus. Como na leitura do profeta Jeremias, uma nova aliança que penetra no coração do seu povo. Esta aliança tem seu cumprimento na pessoa de Jesus, que foi obediente a Deus pelo sofrimento e tornou-se causa de salvação para todos que também são obedientes a Deus. Este é o grande mistério da vida cristã: a entrega da própria vida para produzir muito fruto, o sofrimento em obediência ao projeto do Pai e por causa do Reino, para produzir vida nova seguindo o exemplo de Jesus.
Nesta Quaresma somos convidados a refletir sobre a Fraternidade e Amizade Social. É uma reflexão que nos lembra que como cristãos somos desafiados a construir uma nova sociedade, baseada na justiça, nos direitos de todos na paz e na amizade.
Para fazer isto é preciso lembrar que o projeto de Deus é o primeiro e grande fundamento para iluminar nossa ação na construção de um mundo renovado. Os critérios que devemos usar na nossa ação em defesa desta sociedade são do evangelho que revela as palavras, as motivações e o agir de Jesus. Por isso devemos morrer para tudo que nos afasta do projeto de Jesus, renunciando todo tipo de intolerância, indiferença e maldade que são sinais de pecado e de afastamento da nova aliança que Deus quer imprimir em nossos corações. Em outras palavras entrar na lógica de Deus para redefinir nossos pensamentos, valores e ações.
Devemos também sempre ter o desejo de ver Jesus. Este encontro com Jesus acontece na Igreja onde vivemos a fraternidade, na Palavra onde somos guiados para viver a nova aliança e na Eucaristia que nos alimenta na vivência da partilha e da solidariedade. Pela nossa participação podemos sempre nos encontrar com Jesus e este encontro nos transforma.
Celebramos hoje o mistério de Jesus e o mistério da vida cristã. No seu sofrimento Jesus tornou-se causa de salvação para todos que acreditam em seu nome e que obedecem a sua palavra. Este mesmo mistério de Jesus se revela em nós quando também somos capazes de sermos como o grão de trigo que cai na terra, morre e produz muito fruto. Este fruto é a nova sociedade baseada não no mal, na violência e na injustiça mas no serviço fraterno entre nós e na vivência de uma nova lei inscrita no coração de cada um.
Frei Gregório Joeright, OFM