Neste final de semana, todo o país está vivendo o espírito de carnaval que toma conta do povo brasileiro. É uma grande festa do povo que celebra momentos de alegria, amizade e divertimento. Em muitos lugares no mundo, quando fala do Brasil, fala do carnaval e quando fala do carnaval lembra do Brasil. Carnaval é uma festa onde o povo vive e celebra sua identidade, sua cultura e suas tradições. E celebrar a própria identidade é muito importante, pois não somente celebramos quem somos, mas nos identificamos com o que celebramos.
Podemos também dizer isto para nós que somos cristãos. Quando celebramos a Eucaristia, nos identificamos com Jesus morto e ressuscitado e confirmamos o nosso seguimento e discipulado de Jesus. E nos identificar com Jesus é também saber quem é Jesus, conhecer a sua identidade. Para os primeiros cristãos da comunidade de Marcos, isto era muito importante, pois o próprio evangelho de Marcos procura responder à pergunta: quem é Jesus? O trecho do evangelho de hoje é justamente uma amostra da identidade de Jesus.
Para compreender a identidade de Jesus, é preciso primeiro lembrar como era a situação das pessoas enfermas e especialmente dos leprosos. A primeira leitura de Levítico fala sobre como foi o tratamento dos leprosos: “O homem atingido por este mal andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: impuro, impuro! Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento” (Lv 13, 45-46). Eram declarados impuros não só por uma questão de doença, mas também por uma questão religiosa. O leproso era pecador e banido pela sociedade e quem abria e fechava a porta do acesso a Deus eram os sacerdotes, pois somente eles podiam declarar uma pessoa pura ou impura. Por isso, era necessário que o leproso se apresentasse ao sacerdote.
Pelo fato que andava com vestes rasgadas, gritando impuro, o leproso estava à margem da sociedade, castigado por Deus como pecador. Por que tudo isso? As pessoas e a própria sociedade tinham medo de enfrentar e de tolerar, pois o mais fácil era expulsar da comunidade e colocar à margem.
Diante disto São Marcos quer mostrar quem é Jesus e qual a sua atuação diante dos marginalizados. Primeiro, o leproso não vai aos sacerdotes, reconhece que Jesus tem o poder de curar e também de devolver a vida, e, em vez de ficar longe, se aproxima de Jesus. A reação de Jesus é de compaixão. Na sociedade o leproso era considerado uma pessoa morta, mas Jesus quer a vida e ele se mostrou contra o sistema religioso que condena como impuro e pecador. Quando Jesus tocou no leproso, ele mesmo se tornou impuro. Não somente se colocou do lado dos marginalizados, mas ficou no seu lugar. E justamente por sua ação de compaixão, devolvendo não somente a saúde, mas também a própria vida, é que Jesus não podia mais entrar nas cidades: “Por isso Jesus não podia entrar publicamente numa cidade: ficava fora em lugares desertos” (Mc 1, 45). Em outras palavras, Deus em seu Filho Jesus, só podia ser encontrado fora da cidade entre os que o sistema religioso e social condenava.
O que tudo isto significa para nós hoje? Há muitos marginalizados na sociedade atual, pessoas colocadas à margem por situações de doença, classe, raça, sexo, preconceito e que continuam nesta situação por medo e intolerância. Primeiro, medo nosso, por que é difícil estender a mão, pois exige mudança na maneira de pensar e agir. A própria sociedade também tem medo, porque não pode tolerar o diferente. E o diferente se torna uma ameaça, uma vez que não é aceito pela maioria. Muitas vezes este medo é encoberto pela fé. É por isso que como cristãos precisamos não somente descobrir a verdadeira identidade de Jesus, mas nos identificar com ele e a sua maneira de agir.
Então a fé em Jesus e mesmo o nosso medo devem servir para agir de uma maneira diferente. Se na Eucaristia celebramos nossa identidade como cristãos, então o nosso encontro com Jesus deve nos ajudar a agir como ele agiu, nos aproximando e estendendo a mão para as pessoas que excluímos do nosso convívio. A liturgia de hoje nos mostra o caminho de Jesus e sua ação com os marginalizados e excluídos, e nossa fé deve ser motivo de enfrentar o medo, nos converter para viver a fraternidade e solidariedade e vencer a discriminação social e religioso para mostrar que um outro mundo é possível.
Por: Frei Gregório Joerigth, OFM