6º Domingo do Tempo Pascal – Ano C

Imagem: Frei Andrei dos Anjos, OFM

“Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, mas não a dou como o mundo” (Jo 14,27). No seu discurso da última ceia, Jesus deseja a paz para todos, mas é preciso descobrir o que significa a paz de Jesus para os nossos dias. Muitas vezes pensamos que a paz é a ausência de conflitos. De fato, não gostamos de conflitos porque nos deixam inquietos e incomodados. Mesmo assim, todos os dias enfrentamos conflitos: primeiro dentro de nós, existe uma briga entre o mal e o bem e aquilo que devemos fazer, mas não fazemos por culpa própria. Na família existe conflitos entre marido e mulher, pais e filhos e irmãos por causa de diferença de opinião ou até de ação; na escola, no trabalho na rua, estamos cercados de conflitos. Nos nossos grupos nas redes sociais, sempre há conflitos e, quando alguém fica com raiva, simplesmente sai do grupo. Hoje, estamos testemunhando um grande conflito, a guerra entre Rússia e Ucrânia, sem justificativa, e com as suas consequências de ódio, sofrimento e morte. Muitas vezes os conflitos entre nações são motivados por causa da religião, ideologia ou até de teorias de conspiração. Podemos dizer que o conflito surge quando os interesses, desejos, pensamentos e ações são contrários, gerando tensão, brigas e desentendimentos até a violência e guerra.

Então, o que é a paz que Jesus nos deseja diante do mundo de conflitos? Na primeira leitura do livro de Atos, já detectamos um conflito na comunidade cristã. Alguns da Judeia chegaram dizendo: “Vós não podereis salvar-vos, se não fordes circuncidados, como ordena a Lei de Moisés” (At 15, 1). Não eram do grupo dos discípulos, nem enviados por eles, mas era preciso discernir e descobrir qual era o critério que deve ser usado. É a partir deste critério que os apóstolos reagem com discernimento. Reúnem-se em assembleia em Jerusalém e, dóceis à vontade do Espírito, mandaram uma carta apresentando a solução do problema: “Decidimos, o Espírito Santo e nós, não vamos impor nenhum fardo, além das coisas indispensáveis…” (At 15, 28). Em outras palavras, para os pagãos não era necessário a observação das obrigações da circuncisão e da lei mosaica. Para a comunidade cristã era preciso chegar à verdade e aceitar os pagãos sem impor a lei. O importante não era a ausência do conflito, mas, pelo Espírito, chegar à verdade.

Jesus disse: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; mas não a dou como o mundo” (Jo 14, 27). A paz de Jesus não significa a ausência do conflito, mas que nós, como seguidores de Jesus e pela escuta da palavra, sejamos a morada de Deus. Para que possamos chegar a este conhecimento, Jesus nos prometeu o defensor, o Espírito que vai recordar todo o seu ensinamento para chegar à verdade da nossa fé. O critério da paz não é ausência de conflito, mas ser a morada de Deus.

Nossa sociedade está cheia de conflitos e alguns defendem a paz simplesmente como ausência de conflito. O cristão não deve temer o conflito, porque sua missão é buscar a verdade e, com certeza, diante dos conflitos que existem, é o amor que vai indicar a verdade. Diante disto, podemos então refletir sobre o significado da paz para os dias de hoje.

Em primeiro lugar, ser a morada de Deus é escutar a palavra de Jesus e criar uma nova relação entre Deus e a pessoa humana. A pessoa é o templo de Deus, o lugar onde Deus habita. Buscar a verdade não é simplesmente expressar uma opinião própria e insistir nesta opinião, mas é respeitar o outro como a morada de Deus.

Em segundo lugar, é preciso sempre lembrar que a comunidade dos fiéis deve ser animada pelo Espírito, deve saber discernir, preservando o essencial e atualizando constantemente o que não é tão necessário, a exemplo da primeira comunidade cristã. Dessa maneira, a mensagem de Jesus pode ser acolhida por todas as pessoas. Por isso, é preciso ter consciência da presença do Espírito Santo na Igreja de Cristo e como os apóstolos, escutá-lo, na oração e na discussão. É o Espírito que vai nos recordar de tudo que Jesus disse e ensinou.

Acreditar na paz de Jesus é acreditar que nós como irmãos e irmãs podemos viver de acordo com o ensinamento de Jesus, enfrentando os conflitos com coragem para sermos instrumentos da paz pela busca da verdade, como Jesus disse: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e o meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Arte: Frei Andrei dos Anjos, OFM

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luis Pinto Azevedo

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