7º Domingo do Tempo Comum

Hoje, na leitura do primeiro Livro de Samuel, temos uma estória muito interessante sobre Saul, o rei de Israel, e Davi. O rei Saul estava à procura de Davi, a fim de matá-lo, por ciúme, pois Davi era um pretendente ao trono. Saul estava com um exército de muitos soldados, enquanto Davi fugiu para o deserto com poucos homens. Aí, deu uma grande oportunidade. Davi e Abisai entraram no acampamento de Saul enquanto todos estavam dormindo. Com certeza, muitos iam concordar com Abisai quando disse: “Deus entregou hoje em tuas mãos teu inimigo. Vou cravá-lo em terra com uma lançada, e não será preciso repetir o golpe” (1Sm 26, 8). Davi surpreendeu, pois não deixou matar Saul, e, em vez disto, levou a lança e seu cantil de água. Depois, de longe, gritou para Saul: “Aqui está a lança do rei. Venha cá um dos servos buscá-la” (1Sm 26, 22). Davi, além de respeitar o ungido do Senhor e não cobiçar o poder, mostrou que acreditava na justiça de Deus e que o caminho do verdadeiro poder não é a violência, mas a prática do perdão e da misericórdia.

Enquanto Davi acreditava na justiça e que Deus dá o poder de perdoar, Jesus mostra o caminho para pôr em prática o amor fraterno. Nunca na história do mundo houve um programa tão coerente, tão abrangente e tão exigente. Jesus nos coloca diante de dois pontos fundamentais para construir a nova realidade conforme a vontade do Pai.

Primeiro, a regra de ouro para o cristão: “O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles” (Lc 6, 31). Todos nós temos o desejo fundamental de viver, amar e ser amado. Mas, para Jesus, o amor ultrapassa o interesse de amar para ser amado. Vai além: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam” (Lc 6, 27).  A proposta de Jesus é a gratuidade nas relações entre as pessoas, o amor sem interesse próprio e a partilha dos bens entre todos.

Ao mesmo tempo, para Jesus, o amor também significa a misericórdia: “Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso” (Lc 6, 36). A misericórdia significa “dar o coração ao mísero”, ou aos infelizes. Dar o coração aos infelizes é o caminho do cristão, aquele que é capaz de tratar o outro do mesmo jeito que quer ser tratado. É fazer o bem, viver a partilha e ajudar as pessoas naquilo que precisam.

Diante do desafio de Jesus para viver o amor fraterno, podemos olhar para a realidade do mundo. Todos os dias, escutamos notícias de violência, de intolerância, de vingança e ódio. Mesmo no seio das nossas famílias existem situações de falta de amor, incompreensão e divisão por causa da falta de perdão e reconciliação. Quantos de nós também somos vítimas de violência e intolerância.

Diante disto, devemos nos questionar sobre as nossas atitudes. Para muitos não responder a uma agressão é covardia, mas Jesus nos ensina um outro caminho: a ter um amor sem limites, mesmo para com os inimigos, e a pôr de lado a lógica da violência e substituí-la pela lógica do amor. Por isso, Jesus nos oferece quatro gestos concretos: ao que bate na face, apresenta a outra; ao que tomou o manto, oferece também a túnica; a quem pede, dá; a quem tira o que é teu: não peças de volta. Com certeza, desafios radicais para quem quer seguir Jesus.

Além disto, quem vive a misericórdia tem o amor no coração e não a arma na mão. A proposta de armar a população para acabar com a violência não é o caminho do cristão, pois não desarma a agressividade e não transforma os corações maus e violentos. Nossas forças e energias cristãs deveriam estar canalizadas para construir pontes, promover reencontros, oferecer gestos de bondade, compreensão e perdão.

Podemos dizer que no evangelho de hoje, há três categorias de pessoas: os maus que sempre praticam o mal, mesmo diante do bem; os justos que respondem o bem com o bem e o mal com o mal; e os filhos e filhas de Deus que respondem com o bem, mesmo diante do mal praticado. A partir desta prática de Jesus e o nosso desejo de viver o compromisso cristão, queremos compreender a proposta de Jesus e pedir a força para praticá-la, pois lembramos o que Jesus nos diz: “Sejam misericordiosos como o Pia de vocês também é misericordioso”.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

Share on facebook
Share on twitter
Share on whatsapp
Share on email
Share on print