Um dos elementos que sempre marca os Capítulos da Custódia São Benedito da Amazônia é sem dúvida a ornamentação. Este ano não foi diferente, a Equipe composta por Frei João Messias, Frei Ullysses Calvo e Frei Pedro Fernandes se empenhou por dar ainda mais um rosto amazônico para os espaços do Convento São Francisco. Mais do que compor um bonito cenário para o Capítulo, essa equipe tem o desafio de traduzir de forma simbólica a vida e missão na Amazônia. Para isso, o tema refletido se encarna nos detalhes de cada peça escolhida e confeccionada para esse momento.
Os ornamentos utilizados na composição dos ambientes buscam expressar elementos da cultura local ligados a símbolos franciscanos. A utilização de plantas da região também enfatiza a beleza da flora amazônica. As cestas e peneiros recordam que “tudo está interligado” e que a experiência de fraternidade nos une como as talas cestarias. O cuidado, preparação e ornamentação dos espaços, onde os frades estão reunidos para encontrar-se, rezar e tomar decisões juntos, demonstram toda a preocupação para gerar um clima de acolhida e que inspire os capitulares na sua criatividade missionária. O espaço comunica aquilo que se almeja neste Capítulo, ou seja, ser irmãos e menores que anunciam, pelo amor ao evangelho, um futuro de esperança para a Amazônia.
Além das plantas, também os tecidos com elementos que recordam e trazem presente para o Capítulo a arte dos povos tradicionais da região. No alpendre do Convento a imagem de São Benedito ganhou destaque cercado de plantas, sementes e panelas de barro, a representação do Santo cozinheiro tem os olhos voltados para o refeitório mostrando o olhar solicito de Benedito sobre os frades presentes na encantadora e desafiadora região amazônica. São Benedito é um santo que evoca a arte, primordialmente, aquela de origem popular.
Na Sala Capitular ganha destaque e chama a atenção de todos o Ícone de São Benedito da Amazônia, criado neste ano pelo artista paraense Darlyson Alves. O Artista explica a composição da pintura do seguinte modo: O Glorioso São Benedito, um caboclo simples e homem de Deus é um santo tão querido em nossa Região.
Contemplando essa imagem, segundo o olhar do autor, podemos olhar a santidade de Benedito que representa uma passagem da escravidão à Santidade, da humilhação à Salvação, por isso, no ícone, figuram ao seu lado as correntes penduradas que simboliza a escravidão é passada, mas agora o que amarra o Santo é o cordão e o terço, que simbolizam sua santidade e consagração. São Benedito, era analfabeto, o que não era um problema, visto que era sábio nas palavras. Não era ele que falava mas o próprio Cristo que falava através dele, por isso está com o menino Jesus no colo, levando a Palavra de Deus que é o próprio Cristo.
No ícone, Benedito tem os pés descalços, esses pés que tocam o chão, no caso o chão amazônico, chão esse de riqueza única, da onde vem o ouro, da onde vem as árvores, da onde vem as frutas, o açaí, o cupuaçu, o bacurí… chão esse de onde vem a macaxeira, de onde vem a farinha, de onde vem maniçoba, de onde vem a argila que faz os vasos, que faz as panelas, que faz as casas. Terra de gente trabalhadora, terra de gente simples, que prepara o peixe, que faz a farinha e é feliz, terra de gente devota, terra de gente que te acolhe.
Darlyson acrescenta ainda em tom orante que, diante dessa ícone de São Benedito da Amazônia, podemos rezar do seguinte modo: Assim como tu São Benedito, acolheu o chamado de Deus e se tornou Santo, acolhe também o chamado dos teus devotos, que te acolhem em casa quando tu passa, que te seguem pelas ruas, que cantam e dão glória, que dançam e festejam, acolhe teu povo amigo que chama de “meu preto”.
A arte amazônica é uma arte com raízes fincadas em um solo fecundo de inspiração. Em querida Amazônia o Papa Francisco convida a uma profecia da contemplação em um despertando o sentido estético que Deus colocou em nós. É necessário apreciar o que é belo pois nos ajuda a não compreender tudo como mero objeto (QA 56). Uma arte que retrata a natureza e a vida amazônica nos auxiliam também a sonhar novos caminhos. A estética amazônica nos instiga na conversão cultural, ecológica e eclesial. Vemos na arte, a via da beleza, que reflete e dialoga com as múltiplas e belas paisagens amazônicas. Certamente um futuro de esperança se constrói com arte e com o amor pelas culturas amazônicas, esperamos que esse toque de beleza presente nos espaços do Capítulo favoreçam mais ainda cada uma das suas atividades.
Equipe de Comunicação do Capítulo 2022
Com colaboração de Darlyson Alves e Frei João Messias