Imagens da região amazônica com animais mortos e com áreas de várzea sofrendo com a seca estarrecem os olhos que estão acostumados a ver a beleza e grandiosidade das águas amazônicas. A Amazônia que é “pátria das águas”, entristece e preocupa o agravamento dos efeitos das crises climáticas que provocam fenômenos como esses que temos acompanhado. Rios, que mesmo com tempos de vazante, sempre foram símbolo de uma infinidade de águas, agora mostram sinais de escassez.
A seca de 2023 mostra como estão interligados os sofrimentos causados à natureza e aos povos. O aumento de temperatura da água e a diminuição da oxigenação fluvial, que mata diversas espécies aquáticas, também vem acompanhado do isolamento de populações que dependem dos rios. E não assustam somente as cenas presenciadas na atualidade, mas as projeções para o futuro da Amazônia, se a degradação continuar.
Lançada em 04 de outubro de 2023 a exortação apostólica Louvai a Deus (Laudate Deum – LD) alerta justamente para os perigos da crise climática. Louvar a Deus significa não cair no perigo de considerarmo-nos “donos da Terra”. Oito anos depois da publicação da encíclica Laudato Sí’ (sobre o cuidado da Casa Comum) o Papa Francisco faz notar que o agir diante da crise socioambiental e da mudança no clima não tem dado passos significativos (LD 2).
Francisco preocupa-se com os nefastos impactos da alteração climática, que afetaram especialmente os mais vulneráveis, e que já podem ser vistos como no caso atual da grande seca na Amazônia. No texto da Laudate Deum, Francisco recorda o que foi dito no Sínodo para a Amazônia ressaltando que os ataques à natureza atingem a vida dos povos (DFSA 10). Essa mudança no clima do planeta tem mostrado cada vez mais sinais evidentes que são os gemidos da Terra, mesmo assim pessoas ainda insistem em fechar os olhos para essa realidade.
A exortação reconhece a responsabilidade humana tanto no aumento da crise como em gestos para contê-la. Nesta situação é preciso optar não pelo fascínio do progresso, que gera altos custos, mas pelo reconhecimento do mundo como dom. E na realidade amazônica é preciso fazer este louvor que reconhece o grande dom divino que esta região abriga. Esse escrito reforça os impulsos dados por Francisco para vivermos o sonho ecológico na Amazônia. Chama a não nos desesperar, mas também a não nos acomodar diante dos desafios que a realidade crítica nos apresenta.
Francisco reconhece na exortação que as Conferências sobre o Clima têm apresentado progressos e falhas. A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou a realização em 2025 da 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP-30) na cidade de Belém (PA). Escutar as vozes da Amazônia é imprescindível nesse processo. Os flagelos de desastres climáticos como este que se presencia na Amazônia hoje é um infeliz alerta para as mudanças que precisa ser realizadas na nossa relação com o planeta. 2025, também é ano jubilar do oitavo centenário do cântico das criaturas, esse canto de Francisco de Assis que nos convida a louvar a Deus por todas as suas criaturas. Nesse mesmo espírito de louvor nos reconhecemos como criaturas que caminham na comunhão e responsabilidade.
Por: Frei Fábio Vasconcelos, OFM