A Mãe Aparecida: uma santa na curva da história

Foto: Kerlley Santos

A santa padroeira do Brasil é Nossa Senhora Aparecida, e na sua festa muita gente de fé realiza romarias para pagar promessas e agradecer as graças alcançadas. A santa tornou-se a padroeira do Brasil, há mais de 300 anos atrás, quando dois pobres pescadores foram obrigados a pescar para alimentar o governador que vinha até a cidade deles. Naquela época, no Brasil, a escravidão estava em pleno vigor e milhares de negros escravizados foram explorados e torturados, causando muito sofrimento, fome, doença e morte. Por isso, pode-se dizer que estavam na curva da história, esquecidos, marginalizados e, portanto, também na curva da sociedade. 

Os pescadores estavam jogando suas redes na curva do Rio Paraíba do Sul e, ao puxarem as redes, pegaram uma imagem de Nossa Senhora da Conceição sem cabeça. Eles jogaram suas redes mais uma vez e tiraram das águas lamacentas a cabeça da estátua. Alguém havia jogado a estátua no rio e quando o fizeram, era uma estátua branca de Nossa Senhora da Imaculada Conceição que era muito comum entre a população branca portuguesa. Mas, quando os pescadores a tiraram da água, ela havia ficado preta, já que a lama na curva do rio mudou sua cor. Nossa Senhora apareceu ao povo na curva do rio e se identificou com aqueles que estavam na curva da sociedade, os negros escravizados.

Aparecida: uma mãe no meio dos pobres

No Natal passado, a paróquia em que trabalho estava fazendo uma campanha para distribuir cestas de alimentos para famílias carentes e pobres. Decidimos ir ao lixão fora da cidade onde moram muitas famílias que ganham a vida revirando o lixo que diariamente é depositado lá. Fomos visitar uma avó que vive em uma casa de um cômodo com seus quatro netos. Ela nos contou que um dia seu neto de 10 anos de idade, voltou para casa depois de procurar algo de utilidade nas pilhas e pilhas de lixo e disse que encontrou uma “mulher” no lixo. Ela ficou muito assustada e o neto logo lhe mostrou uma estátua negra de Nossa Senhora Aparecida. Alguém jogou a imagem fora e pensou que a estava jogando no lixo. Mas, a imagem de Nossa Senhora não foi jogada no lixo, foi jogada exatamente onde ela queria estar, entre os mais pobres dos pobres, aqueles que estão na curva da sociedade. 

Foto: Kerlley Santos

Aparecida: uma pobre entre os pobres

Maria, nossa mãe, ao longo da história se identificou com aqueles que estão na curva da sociedade. Sua identificação com as necessidades humanas aparece também no casamento de Caná, quando ela percebeu a falta de vinho. Maria sabe das necessidades da sua gente. A água feita vinho naquela festa, a pedido da mãe de Jesus, também simboliza a alegria desejada por Maria por todos aqueles que a procuram. É a bebida que também nos lembra a aliança entre Deus e aqueles que estão nas margens dos caminhos. Além disso, o vinho nos remete à eucaristia, que junto com o pão se torna corpo e sangue  do Senhor e nos coloca em marcha junto com os que estão nas curvas da história e dos que têm a sua alegria furtada pela opressão. 

Aparecida: A mãe que pede mais de nós

Neste dia que celebramos a festa de Nossa Senhora de Aparecida não queremos simplesmente celebrar com fé e devoção, mas recordemos a sua história e como ela se identificou com os marginalizados e os que estão na curva da história. Também nós, como discípulos missionários, queremos nos identificar com os marginalizados e assim seguir os passos de Jesus e de Maria, a Senhora Aparecida. A presença franciscana na Amazônia se coloca também na sinuosidade dos caudalosos rios da região. Um lugar de muitos pescadores e ribeirinhos que sonham em ter sua vida e direitos respeitados. Nossa presença entre os indígenas e outras populações marginalizadas nos coloca entre aqueles que estão nas curvas da sociedade.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM

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