A Páscoa definitiva de Frei Haroldo DeGrave

Frei Haroldo DeGrave,

descanse na Paz d’Aquele a quem o seu coração esteve sempre voltado!

 Elmer Thomas DeGrave, conhecido entre nós simplesmente como “Frei Haroldo”, irmão leigo na Ordem dos Frades Menores, faleceu na tarde do dia 26 de outubro, nos Estados Unidos, sua terra natal, onde estava desde meados de 2016. Nos últimos anos, com a saúde mais fragilizada e a idade avançada, Frei Haroldo estava numa fraternidade especializada para cuidados de pessoas idosas e enfermas. Em seu último aniversário natalício, em 07 de setembro de 2022, Frei Haroldo completou 90 anos.

 Filho de Henry DeGrave e Margaret Jacques, Frei Haroldo nasceu em 7 de setembro de 1932, em Iron Mountain, Michigan, nos Estados Unidos. Batizado em 25 de setembro de 1932, foi crismado em 11 de junho de 1944. Foi recebido no Noviciado Franciscano, na Província do Sagrado Coração de Jesus, em Teutópolis, Illinois, em 21 de junho de 1960, pelo Ministro Provincial Frei Pius Barth, OFM.  Emitiu sua primeira profissão religiosa temporária nas mãos do Ministro Provincial Frei Dominic Limacher, OFM e sua profissão solene, também nas mãos do mesmo Ministro Provincial, no dia 22 de junho de 1964, em Cleveland, Ohio.

 Frei Haroldo quis ser missionário no Brasil, como tantos outros confrades jovens da sua Província naqueles anos. Em dezembro de 1968 chegava na Amazônia brasileira para passar uma boa parte da sua vida. Assim, entre dezembro de 1968 e junho de 1970, trabalhou em Almeirim, especialmente na olaria, que produzia tijolos e cerâmicas para as obras das construções das igrejas e casas dos frades na região. De junho de 1970 a julho de 1972, residiu no Seminário São Pio X, em Santarém, onde havia uma grande fraternidade franciscana, dedicada sobretudo à direção e manutenção do Seminário da então Prelazia de Santarém. Frei Haroldo trabalhou na manutenção. De julho de 1972 a maio de 2016, residiu no Convento São Francisco, sede da Custódia, em Santarém. Na qualidade de mecânico, construtor, eletricista e um pouco faz de tudo, Frei Haroldo foi uma presença bem notável na oficina mecânica e nas diversas atividades cotidianas realizadas no Convento São Francisco. Durante muitos anos, formava uma dupla com Frei Guilherme José (conhecido como Billy Joe). Os dois enfrentavam todos os tipos de trabalhos pesados de manutenção e construção, não só no Convento São Francisco, como em todas as casas e missões da Custódia (na época com o mesmo nome da Província-Mãe: Sagrado Coração de Jesus).  Os dois confrades eram companheiros de todas as obras e de todas as horas, seja no trabalho pesado ou no lazer.

Da esquerda para direita, Frei Miguel (Top), Frei Mauro, Iracema Lage, Lúcia Dias, Frei Haroldo e Frei Vianney

Conheci o Frei Haroldo desde os tempos do Seminário São Pio X, onde entrei no ano de 1971, podendo conhecer a ele a tantos confrades com quem convivíamos cotidianamente, especialmente nos momentos de oração comunitária e nos momentos de conversas informais nos intervalos dos horários de trabalho e de aulas. Pude conhecê-lo melhor na década de 1990, quando fui eleito Ministro da então Vice-Província e passei a residir no Convento São Francisco, em Santarém.  A convivência cotidiana e muitos momentos compartilhados nos aproximaram muito e pude apreciar as qualidades humanas e cristãs deste irmão religioso que partilhava conosco a missão. Qualidades e virtudes que talvez ficassem na sombra para muitos que o conheceram  e conviveram com ele, por causa de sua personalidade forte, seu jeito exigente e muitas vezes duro com os “padres”, que nunca aprendiam a usar responsavelmente os motores e os veículos, que acabavam sempre nas mãos dos dois confrades mecânicos para consertar…  O modo de ensinar como usar e fazer manutenção correta desagradava a muitos confrades, mas aquilo era uma espécie de excesso de zelo do Frei Haroldo pelos bens da fraternidade. Eu tinha paciência de escutar e estabelecia um bom diálogo com ele. 

Por razões não difíceis de entender, Frei Haroldo desenvolveu uma espécie de anticlericalismo em relação aos frades presbíteros. Talvez sobretudo uma reação natural ao clericalismo em ascensão nos últimos tempos, mas também por causa da desigualdade entre os irmãos leigos e clérigos na Ordem, manifestada abertamente em muitas ocasiões. Às vezes, quando ele me via com uma roupa preta, me chamava de “Padre”, com um tom de brincadeira, mas também manifestando sua posição de anticlericalismo. Sua visão anticlerical interna causava um certo ruído nas relações com os confrades, em alguns momentos. Mas nos dávamos muito bem.

 Para mim, e espero que para mais pessoas, Frei Haroldo deixou um belo testemunho de espiritualidade franciscana e de espírito de oração e devoção. Seu espírito de serviço, disponibilidade, operosidade, sempre pronto para fazer o que fosse necessário e pedido a ele era uma marca muito forte na personalidade dele. Estava sempre presente para o trabalho e para a oração. Tanto ele como o Frei Guilherme estavam sempre presentes aos momentos de oração da fraternidade, mesmo depois de jornadas extenuantes de trabalho. Posso dizer que eles me incentivavam e estimulavam para a oração também e para uma vida religiosa autêntica.

 Poderia dizer muito mais sobre este confrade, que deu grande parte de sua vida na missão aqui entre nós, vivendo na simplicidade, na humildade e despojamento próprios da pobreza, pureza de espírito e obediência e minoridade franciscanas. Suas qualidades e virtudes são infinitamente maiores do que seus possíveis pecados e defeitos. Permanece vivo o seu testemunho de vida!

 Descanse em paz, querido irmão Frei Haroldo!

 Frei Edilson Rocha, OFM

Santarém, Pará, Brasil 27 de outubro de 2022.  

 

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