“Amazônia, onde estamos e para onde vamos?” Felício Pontes participa de roda de conversa da Comissão de Justiça e Paz em Santarém

Felício Pontes Jr. em sua fala inicial. Foto: Frei Andrei Anjos, OFM

Com o tema “Amazônia, onde estamos e para onde vamos?”, a Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de Santarém, em parceria com a REPAM Brasil e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), realizou uma roda de conversa intitulada “Boca da Noite”. O evento foi realizado, na quinta-feira, 02 de fevereiro, nas dependências do Colégio São Raimundo, no bairro Aldeia em Santarém (PA). O Procurador regional da República, membro da Comissão de Justiça e Paz de Brasília e Assessor da REPAM, Felício Pontes Junior foi convidado para motivar os debates e tecer diálogos sobre o presente e futuro da Amazônia. Felício é conhecido por sua atuação na defesa dos povos e comunidades tradicionais, já atuou na região de Santarém e é um profundo conhecedor das questões amazônicas. 

A quadra do Colégio foi o ambiente utilizado para acomodar os participantes da roda e os lugares reservados foram todos ocupados. Participaram do encontro religiosos (as), leigos(as), professores(as), estudantes universitários e outras pessoas preocupadas com a realidade amazônica. Da Custódia São Benedito da Amazônia estiveram presentes, o custódio, Frei Edilson Rocha e os frades estudantes de Teologia, Frei Andrei Anjos, Frei Lauro Matheus e Frei Fábio Vasconcelos. 

Frei Edilson contribuindo com as discussões da Roda de Conversa. Foto: Frei Andrei Anjos, OFM

 

Felício refletiu sobre o papel e o sentido de ser sociedade civil organizada e a defesa da Amazônia. O convidado destacou a importância democrática das organizações da sociedade civil e trouxe ainda para o centro da roda o exemplo prático vivenciado no caso do projeto Belo Monte, em Altamira (PA). “Esse passado que é um passado relativamente recente tem que servir de lição para nós, que somos sociedade civil organizada”. Em sua fala, definida por ele mesmo como provocação inicial, recordou que é necessário ter o cuidado de “ter pessoas da sociedade civil e que fiquem na sociedade civil”, como um problema a ser cogitado por todos. 

 

Aberta a palavra para perguntas e intervenções muitas pessoas manifestaram os seus pontos de vista sobre a realidade amazônica. Na primeira rodada foram feitas cinco observações. As manifestações abordaram temas como articulação da Igreja e da totalidade da sociedade civil para cuidar da casa comum. “como lideranças da Igreja e do movimento social podemos atuar e nos unir para cuidar da nossa casa?”, questionou um presbítero presente. Um dos presentes levantou a problemática da invasão de garimpeiros das terras indígenas, especialmente nos casos Yanomami e Munduruku, e em sua participação indagou sobre a possibilidade e atuação para a retirada dos intrusos das áreas indígenas. Por sua vez, outro religioso indagou “como podemos pequenos rebanhos acender luzes e como sociedade civil organizada formar uma frente que possa fazer eco aos grandes sonhos que queremos?”. 

Um jovem estudante de arqueologia argumentou que “preocupações ambientais são importantes, sim, mas, também é preciso soluções para os problemas sociais da Amazônia”. Um padre diocesano apontou diversos aspectos de relações internacionais e proteção da Amazônia “Como é que a Amazônia vai poder recuperar-se se os problemas são tão imensos, entre os quais a balança comercial”. Sobre a retirada de garimpeiros, argumentou sobre a legitimidade de todo tipo de garimpo, indagando “existe garimpo ético?” e existe mineração ética? Outro tema pontuado pelo padre foi a discussão sobre o marco temporal das terras indígenas. 

 

Todos clicam na mesma tecla: o fortalecimento da sociedade civil, que deve se fortalecer pois “sem ela não vamos avançar”. Como podemos propor um modelo em que as sociedades amazônicas têm acesso aos bens produzidos pelo seu trabalho e ter trabalho? A economia da destruição que é reflexo do colonialismo, ou um neoliberalismo. Muitos aspectos de desenvolvimento sustentável e direitos dos povos foram abordados na roda de conversa e citaram diversos exemplos de produção que gera renda sem explorar a Amazônia e esses projetos precisam ser apoiados. “Uma verdadeira economia da Amazônia, que venha de baixo”. 

Na segunda rodada outras cinco contribuições foram feitas. O que falta é um projeto que parta da Amazônia, pontuou um dos interlocutores. Um professor universitário “mobilização popular para pressionar por mudanças dessa economia destrutiva”. Outro jovem destacou o incentivo ao turismo que é pouco considerado e tocou no respeito que deve ser dado às comunidades tradicionais. “Trazer alternativas que gerem renda, mas sem esquecer o direito dos povos”. Outro tema ressaltado, por uma das participantes, foi a articulação de base dentro da própria Igreja Católica, “esses núcleos de base faziam muita diferença e, quem ainda tem essa formação, é essa referência que consegue fazer movimentos como esse que a gente está fazendo”. 

Felício enfatizou a partir das palavras proferidas a necessidade de investir na formação, como algo importantíssimo para a sociedade civil, e formar lideranças novas é um grande caminho para não cruzar os braços, afirmou Felício. Ao concluir sua fala ele amarrou todas as ressonâncias da conversa destacando o valor da união em favor da Amazônia.

 

Registro dos participantes. Foto: Frei Andrei Anjos, OFM

Rodas de Conversa “Na boca da noite” 

 Em seguida, o mediador da roda de conversa passou para a Ir. Sônia Matos, fazer a conclusão e os agradecimentos da noite. “Essa nossa roda de conversas se chama ‘na boca da noite’, para nós que somos mais antigos, traz uma memória tão grande, todo mundo lembra o que acontecia nas rodas de conversa na boca da noite. Era na boca da noite que nós brincávamos de roda, de ciranda, contávamos nossos causos, partilhamos os nossos sonhos, nutrimos os nossos projetos e estabelecemos alianças, sobretudo aquelas de resistência”. Salientou a religiosa, que também é membro da comissão de Direitos Humanos da REPAM.   

Sobre os objetivos das rodas de conversa, Irmã Sônia afirmou: “A gente espera contar com todos e todas vocês nas próximas rodas de conversa, para que, tecendo os nossos sonhos nós possamos nutrir essa luta do Reino de Deus sobretudo para essa Amazônia que Cristo aponta. Para nós cristãos e cristãs esse lutar, defender e sonhar é uma exigência da nossa fé, não é algo que é secundário. Nós queremos seguir realmente esse apelo do Papa Francisco que nos chama na Laudato’ Si a pensar o que mesmo que nós queremos deixar para as futuras gerações? E aqui na Amazônia, o que nós recebemos e o que nós queremos entregar? Então, essa é uma das finalidades da nossa roda”. Irmã Sônia destacou ainda o valor da vida religiosa consagrada na Amazônia, especialmente a vida religiosa feminina, presente em lugares de fronteira e com importantes testemunhos de martírio. Em seguida a roda de conversa foi concluída. 

Frei Fábio Vasconcelos, ofm 

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