Sempre na quarta quinta-feira do mês de novembro, nossos irmãos Estadunidenses celebram seu maior feriado nacional: Thanksgiving. O termo Thanksgiving, traduzido para a língua Portuguesa, literalmente significa “dar graças”, a tradução mais polida e conhecida é “Ação de Graças”. De qualquer forma, Thanksgiving é dia de agradecimento.
Em linhas curtas a história conta que em setembro de 1620, um pequeno navio chamado Mayflower deixou Plymouth na Inglaterra, transportando 102 pessoas atraídas pela promessa de prosperidade e propriedade de terras no “Novo Mundo”. Depois de uma travessia traiçoeira e desconfortável que durou 66 dias, eles lançaram âncora nestas terras do Tio Sam. Em 1621, os colonos de Plymouth e os Wampanoag (povo indígena da América do Norte) compartilharam uma festa da colheita de outono para agradecer pela fartura. Por mais de dois séculos, este dia foi celebrado por colônias e estados individuais, mas em 1863, no meio da Guerra Civil, o presidente Abraham Lincoln proclamou o Dia de Ação de Graças (Thanksgiving) como feriado nacional a ser realizado todo mês de novembro.
A comemoração do Thanksgiving é muito maior que qualquer outro feriado por aqui. Os membros das famílias se planejam o ano todo para que tudo esteja “dentro dos conformes” naquele dia. É dia de encontro, de celebração, de partilha, de agradecer e de comer, comer, comer e comer. Eu já falei comer? E mesmo aqueles que não acreditam em um Deus ou um ser superior a eles, tomam este dia como uma oportunidade para agradecer à sorte, ou a si mesmo. De uma maneira ou de outra, todos agradecem e procuram estar junto um do outro.
No meu primeiro Thanksgiving eu estava com a família do Frei Gregório Joeright em Cleveland, estado de Ohio. Eu confesso que eu não entendia muito o que estava acontecendo, mas parecia que o país todo estava viajando. E estava! Todos buscando chegar no aconchego de suas famílias para passar aquela data. Na manhã daquele dia, Frei Gregório sugeriu que não nos alimentássemos muito durante o café, pois o jantar (o jantar de Thanksgiving é às 14h) seria “caprichado”. E foi! Éramos quase, ou mais, de quarenta pessoas. Parecia a casa da minha mãe na noite de natal, mas comparar Thanksgiving com Natal não é legal (até rimou).
Primeiro uns aperitivos, (Frei Gregório sempre nos lembrando para não nos “encharcarmos” muito dos aperitivos) depois estórias da família (Memórias que faziam os presentes rir e chorar), em seguida rezamos e cada um precisava falar o que estava agradecendo naquele dia. Do mais jovem ao mais idoso, todos agradeceram. Agora era hora do jantar. Prato principal: Peru! Também naquele dia, todos queriam mostrar seus dotes culinários, então, nós tínhamos pelo menos umas sete receitas de Peru. Para não fazer desfeita, me disseram que eu deveria provar de todas. Além disso, tinha peixe, carne, frango e, uns seis tipos de salada. A ideia era comer aos pouquinhos e continuar a conversa durante toda a tarde, mas eu falava quase nada de Inglês, e para manter minha boca ocupada, eu comia… Assim, eu comi, até o ponto de não poder mais. Nem água eu conseguia engolir. Azar o meu, pois ainda tinham pelo menos umas quinze diferentes tortas para a sobremesa. Naquela noite eu não podia dormir de tão cheio, fiquei “aloprado”, mas aprendi a lição: Thanksgiving é pra agradecer e não só comer!
Nos outros anos as coisas foram melhorando para mim, e hoje eu posso dizer que já sei me comportar no dia de Thanksgiving. O dia de ação de graças, (ainda que eu não queira comparar) me faz lembrar coisas nossas. Sim, se parece com as festas de final de ano, quando todos procuram estar juntos para uma refeição especial; se parece com a festa do santo da comunidade quando as pessoas compram roupas novas para “passar a festa”; se parece com o encontro dos grupos de Cebs, quando todos partilham do pouco que tem; se parece com as festas juninas com sua ornamentação peculiar; e se parece com qualquer outra família do mundo, quando se reúne para celebrar. De muitas formas, nós também celebramos esta data!
Um sábio frade que morou comigo aqui na fraternidade, após escutar minhas aventuras no primeiro Thanksgiving me disse: “O Thanksgiving do próximo ano começa um dia depois do Thanksgiving deste ano, pois agradecer também é uma necessidade que nós humanos precisamos ter, assim como comer. Todo dia é dia de dar graças a Deus, mesmo quando nós pensamos que não temos nada para agradecer, é preciso agradecer.”
Para nós franciscanos o Thanking tem um sabor ainda mais especial. Aprendemos com nosso Pai Seráfico que, mesmo na dor, é preciso agradecer. Francisco estava sofrendo de terríveis problemas nos olhos na primavera de 1225. Na dor e na escuridão, Francisco compôs a primeira seção do “Cântico das Criaturas”, às vezes também chamado de “Cântico do Irmão Sol”. Esta música está cheia de louvor a Deus e ao brilho e beleza de toda a criação. A segunda seção do Cântico celebra o perdão. Francisco acrescentou esta seção em setembro de 1226, durante um período de turbulência particular em Assis. Até à morte, Francisco nos ensinou a dar graças. A seção final do Cântico é composta de versos que louvam e dão as boas-vindas à Irmã Morte. As notícias dos últimos meses e durante esses quase dois anos, não foram boas. Temos chorado a perda, a dor e a tristeza de muitas pessoas que adoeceram e que morreram durante esta pandemia. E mesmo com os corações dilacerados, somos renovados a cada dia por este Deus que nos acolhe em seus braços e nos sustenta com sua força.
Então, mesmo na dor, aproveitamos este dia para agradecer a fidelidade deste Deus que é Pai e Mãe e que a cada segundo nos favorece coisas que precisam ser agradecidas.
Você já agradeceu hoje?
Happy Thanksgiving!!!
Frei Erlison Campos, OFM