“Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou.” (Jo 2, 4). São estas as palavras de Jesus quando Maria, sua Mãe, lembra que o vinho acabou na festa do casamento. Parece palavras duras, mas esse evangelho não é para ser lido literalmente e sim, a partir dos símbolos que o evangelista apresenta. Aqui a Mãe de Jesus representa as pessoas que esperam o novo, isto é, a realização das promessas de Deus. Pessoas que compreendem que Deus é como o fiel esposo que quer a vida, liberdade e justiça para a sua esposa, o próprio povo. O profeta Isaías também fala deste casamento, a aliança de Deus com seu povo: “Não mais te chamarão Abandonada, e tua terra não mais será chamada Deserta; teu nome será Minha Predileta e tua terra será a Bem-Casada, pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada” (Is 62, 4).
Então a hora de Jesus é a hora da cruz quando se realizam todos, as promessas de Deus e acontece a salvação. É nesta hora da cruz que Jesus realiza um novo casamento, a nova aliança, não dos mandamentos escritos na pedra, mas na lei do amor. É a partir deste entendimento que podemos olhar para os vários símbolos que aparecem neste evangelho.
O casamento em Caná acontece depois da primeira semana de atividade missionária de Jesus, isto é, no sétimo dia. Este fato lembra os sete dias da criação, pois agora é a nova criação. As seis toalhas eram usadas para os ritos de purificação e lembram as pedras da lei, mas está faltando algo, pois o número da perfeição seria sete, mas são somente seis. Representam a antiga aliança que agora está superada, pois o novo vem, é o vinho novo do Reino do Pai que Jesus vai inaugurar. “Fazei o que ele vos disser” significa crer em Jesus como verdadeiro esposo da humanidade. É Jesus que traz a vida em plenitude e isto se confirma quando Jesus está na cruz e o soldado traspassa o seu coração com uma lança. Imediatamente, sai água e sangue: água transformada em vinho, vinho transformado em sangue, é a plena realização dos sinais de Jesus.
Todos estes sinais apontam para a nova criação e vida transformada realizada pelo sacrifício da cruz, pois Jesus venceu a cruz e ressuscitou. Então podemos perguntar: O que o milagre do casamento, a água transformada em vinho, significa para nossa fé e nossa vida? Muitas vezes caímos na mesma rotina e nossa prática de fé é limitada pelo caminho mais fácil. Ficamos acomodados e pouco ou nada queremos mudar.
Vinho novo, em primeiro lugar, significa conhecer a pessoa de Jesus, sua palavra é a verdade e o seu caminho é o amor. Para isto, é preciso vencer as trevas do nosso egoísmo e do nosso pecado para viver o amor.
Em segundo lugar, é preciso pertencer à comunidade. Muitas pessoas querem exigir serviços da comunidade ou usar a comunidade de acordo com os próprios desejos e interesses. Podemos transformar a água em vinho pela nossa participação, colocando nosso tempo e dons para a edificação da comunidade. São Paulo lembra isto quando diz: “A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1Cor 12, 7).
Ao mesmo tempo, o evangelho das bodas de Caná oferece para os casais uma boa oportunidade para rever sua vida matrimonial. Um casal que sofre as dificuldades de entendimento e reconciliação precisa transformar a água em vinho pela vivência do amor conjugal que exige renovar o compromisso de união e fidelidade dando sentido ao sacramento do matrimônio como sinal da presença de Deus.
Finalmente, é lutar pela justiça, pois é preciso transformar o mundo. O compromisso cristão com a justiça e paz é experimentar o vinho novo da transformação e da sociedade nova. Não devemos ser cristãos só de nome, mas pela verdadeira vivência da fé e pelo compromisso em transformar a água em vinho novo do Reino.
Começar de novo muitas vezes pode ser uma tarefa árdua, mas necessária. São Francisco de Assis recomendava que seus confrades recomeçassem de novo a cada dia quando disse: “Irmãos vamos começar, porque até agora nada ou pouco fizemos”. Fazer o que ele disser é recomeçar novamente e é experimentar o vinho novo do Reino pela vivência do verdadeiro compromisso cristão. Assim, todos nós vamos participar da festa do casamento, a festa da alegria e do banquete do Senhor e do seu Reino.
Por: Frei Gregório Joeright, OFM