O dicionário diz que a palavra valor significa “qualidade do que tem força”. Qualidade é algo que dura, não quebra e é capaz de resistir o desgaste do tempo. A qualidade que tem força acontece quando um objeto é colocado à prova, não quebra, nem se danifica e, por isso, é reconhecido como um objeto duradouro. Não há dúvida que quando um produto é reconhecido pela sua qualidade, atribuímos a ele muito valor.
Para nós, pessoas humanas, é claro que o que temos de mais valor é a vida, pois fomos criados a imagem e semelhança de Deus. O livro da Sabedoria já nos ensina que devemos sempre buscar o que é de fato o maior valor, quando confirma: “A ela não igualei nenhuma pedra preciosa, pois, a seu lado, todo o ouro do mundo é um punhado de areia e diante dela, a prata, será como lama” (Sb 7, 9).
O jovem no evangelho também estava à procura do dom maior quando perguntou a Jesus: “Bom Mestre, o que devo fazer para ganhar a vida eterna?” (Mc 10,17). O jovem queria que ele pudesse possuir o dom maior da vida para sempre, isto é, a vida eterna. Jesus respondeu: “Tu conheces os mandamentos: não matarás; não cometerás adultério; não roubarás; não levantarás falso testemunho; não prejudicarás ninguém; honra teu pai e tua mãe!” (Mc 10, 19). Jesus não falou dos mandamentos referentes a Deus, isto é, acreditar num só Deus, não usar seu nome em vão e guardar sempre a fé, mas fala das relações sociais, da justiça social, da valorização da vida humana pelo respeito. Jesus lembrou da importância da fidelidade no casamento, de não manchar o nome de alguém pelo falso testemunho e de honrar pai e mãe que são a origem da vida.
Mas, apesar do jovem rico querer a vida como o maior valor, ele foi embora triste quando Jesus disse: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” (Mc 10, 21). O gesto de ir embora mostrou que o jovem rico dava mais valor as coisas que possuía do que a vida que ele mesmo queria. Mostra também que enquanto ele se preocupava com a vida eterna para si mesmo, Jesus preocupa-se com os seres humanos que neste mundo não possuem o necessário para viver.
Como isto é verdade para nós individualmente e também na sociedade em geral. Muitas vezes colocamos mais valor nos objetos e posses que temos do que na vida das pessoas. Esta atitude é provada quando olhamos para as desigualdades entre nós, apesar de termos todos o mesmo valor: pessoas com muitos posses e riquezas e outras na miséria e com fome; pessoas com grande extensões de terra e outras sem terras para morar e trabalhar; famílias que oferecem aos seus filhos toda a oportunidade para uma boa educação e muitas crianças e jovens sem estudo ou com escolas em péssimas condições; pessoas que ganham muito dinheiro pela desonestidade e corrupção e outras sem emprego ou salários justos.
A liturgia de hoje nos ensina que: “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração” (Hb 4, 12). É a Palavra de Deus que nos dá a sabedoria para discernir o que nós temos de maior valor. É por isso que a sabedoria é uma riqueza incalculável, ensina sobre o verdadeiro valor de vida e que, ao seu lado, o ouro e a prata são um punhado de areia.
Jesus é a fonte da verdadeira sabedoria pelo seu ensinamento: “Meus filhos como é difícil entrar no Reino de Deus. É mais fácil um camelo passar por um buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus! (Mc 10, 24-25). Para Jesus é difícil entrar no Reino do céu, pois para o rico a “qualidade que tem força” são os objetos da riqueza, do poder e do prestígio, mas para o cristão autêntico, a qualidade que tem a força é o valor da vida. Para quem compreende isto e segue Jesus, há a promessa da vida eterna: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna” (Mc 10, 29 -30).
Por: Frei Gregório Joeright, OFM