S Francisco 20234

São Francisco, o santo universal e sempre atual

“Lá vai São Francisco pelo caminho,

de pés descalços, tão pobrezinho […]

Lá vai São Francisco de pé no chão

Levando nada no seu surrão

Dizendo ao vento, bom dia amigo

Dizendo ao fogo, saúde irmão”.

 

(Vinicius De Moraes / Sergio Bardotti / Paulo Valente Soledade)

Queridos irmãos e irmãs,

Fico maravilhado quando vejo pessoas de fora do âmbito do catolicismo, no mundo protestante ou evangélico e mesmo de quem não professa nenhum credo religioso, manifestar admiração e respeito pela pessoa de São Francisco de Assis, sua espiritualidade e seu carisma.  É um sinal muito forte da universalidade deste santo tão amado e venerado, conhecido e respeitado por todo mundo.

Começo este pequeno texto citando um trechinho da belíssima música, cuja poesia tem a mão do poeta Vinícius de Moraes. Na versão mais conhecida, que compõe o LP intitulado “Arca de Noé”, com músicas para crianças, o intérprete é o cantor Ney Matogrosso. Sim, São Francisco é lembrado e cantado na poesia e na música popular, como expressão da predileção e da admiração de poetas e artistas que não são “religiosos”. Na sua canção “A Rita”, o poeta-cantor Chico Buarque lista entre as coisas levadas pela amada que o abandonou, “uma imagem de São Francisco e um bom disco de Noel” (Chico Buarque de Holanda, A Rita). E quantas outras passagens lembrando do santo pobrezinho e humilde de Assis poderíamos encontrar? Uma das mais bonitas obras de ficção sobre a vida de São Francisco foi escrita por um escritor e jornalista grego que se dizia “ateu”: Nikos Kazantzakis, na obra “O Pobre de Deus” na versão brasileira.   Recentemente, assistindo a uma entrevista de um deputado federal evangélico na TV, surpreendeu-me o reconhecimento de que entre as referências e inspiração para sua vida, missão e compromisso com a promoção do bem comum está São Francisco de Assis.

O Cardeal Argentino Jorge Bergoglio, ao ser eleito para o sólio pontifício, em 13 de março de 2013, surpreendeu o mundo católico com a escolha do nome que assumiria a partir de então: Francisco. A história da Igreja nos mostra que, normalmente, a escolha dos nomes dos papas indica seu programa de vida e missão, e o rumo que deseja dar à Igreja sob seu pastoreio. A inspiração franciscana tem sido muito forte no pontificado do Papa Francisco.  São Francisco e sua espiritualidade são evidenciados em algumas constantes no magistério do Papa Francisco, nos temas da alegria, fraternidade, cortesia, cuidado com os pobres, compromisso de acolhida aos refugiados, promoção da paz, diálogo ecumênico e interreligioso, ecologia integral, defesa da vida em todas as suas formas, cuidado com a natureza (olhar especial para a Amazônia). O Papa assume a fé e expande o pensamento de que tudo está interligado e é urgente restabelecer a unidade e a harmonia perdidas por causa da cobiça de um sistema econômico e político iniquo, que tudo destrói, inclusive a humanidade.  Por causa mesmo de seu espírito franciscano, o magistério do Papa vai muito além do âmbito da Igreja, mexe com o mundo todo!

Alegremo-nos por mais uma festa de São Francisco de Assis, que Deus nos concede a graça de celebrarmos, neste 4 de outubro de 2023! São Francisco continua sendo inspiração, referência, Evangelho vivo de Jesus, sempre amável, amado e sempre atual! São Francisco é motivo de alegria e inspiração para nós e para muita gente, mesmo fora do âmbito do catolicismo. Que o Senhor nos inspire também, em nossos dias, para fazermos o nosso caminho de conversão pessoal e institucional (hoje se fala de conversão em várias dimensões: pastoral, estrutural, ecológica…) como o santo de Assis, que iniciou uma vida de conversão e penitência e nunca voltou atrás. Que o exemplo e a intercessão de São Francisco de Assis nos ajudem para sermos fiéis ao nosso carisma, perseverantes na vocação e na fidelidade à nossa missão: sermos fraternidades contemplativas em missão, evangelizando mais com a nossa vida do que com as palavras. Que nossa presença no mundo seja mais testemunho e menos retórica vazia. Que preguemos sobretudo com a nossa vida e quando for necessário, com as palavras.

Boa festa de São Francisco para todos e todas!

Frei Edilson Rocha, OFM

29 de setembro de 2023.

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26º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

A parábola no evangelho de hoje fala de dois filhos – um que disse sim e o outro que disse não. São duas palavras pequenas, mas ditas por cada um de nós muitas vezes ao longo do dia. Cada sim ou não que a gente fala reflete uma decisão nossa e fazemos muitas decisões todo dia. Umas das decisões que fazemos são fáceis: a hora de levantar ou tomar banho, a roupa que vamos usar, são decisões que fazemos sem muita reflexão, são automáticas. Outras decisões precisam de mais reflexão: qual a vocação que vai seguir na vida, a pessoa com quem vai se casar, onde vai morar e tantas outras que precisam de muita reflexão. É bom lembrar que muitas decisões que fazemos não tem volta e toda decisão tem as suas consequências que podem ser positivas ou negativas. O mesmo tempo, ao longo do dia, fazemos várias decisões diante do bem ou do mal, dizendo o sim ou o não para realizar uma boa ação ou escolher o caminho da maldade.

Na parábola de Jesus, os dois filhos não somente dizem “sim” e “não”, mas também fazem o contrário da sua resposta. Jesus conta esta parábola para os fariseus e doutores da Lei, pois eles achavam que dizer sim a Deus significava simplesmente cumprir com as prescrições da Lei sem se preocupar com a vida das pessoas. O trabalho na vinha é justamente o compromisso com o Reino de Deus que é o reino da justiça, da fidelidade e do amor. O sim dos fariseus na prática era um não para este Reino. Enquanto isso, as prostitutas e cobradores de impostas, pessoas que não cumpriam as prescrições da lei, pareciam que estava dizendo não, mas na realidade começaram a acreditar em Jesus e o “não” tornou-se um “sim” a Jesus e seu projeto de amor.

É como escutamos na primeira leitura. Ezequiel questiona a ideia do povo que dizia que a conduta do Senhor não estava correta. Para o profeta, é o povo quem deve examinar a sua conduta e avaliar as suas decisões. O que conta é o arrependimento da prática da maldade e a observância do direito e da justiça. É isto que evita a morte e leva a vida.

Podemos então pensar sobre a importância das nossas decisões. Somos a soma das decisões que fazemos. Isto significa que cada decisão faz uma diferença na vida e, com certeza, terá as suas consequências. Cada vez mais que decidimos a fazer o bem, mais que a prática do bem se torna um constante na nossa vida. Pelo contrário, se decidimos constantemente a fazer o mal, mais que a maldade faz parte da nossa vida. Cada sim é uma confirmação da fé em Jesus e cada não vai nos desviar do caminho do bem.

Mas o que nos leva a dizer não quando devemos dizer sim? Fazer uma decisão nem sempre é fácil.  Primeiro, ao decidir, muitas vezes esquecemos as consequências da nossa decisão. Pensamos nos nossos interesses ou no nosso bem e esquecemos dos outros e o sofrimento que nossas ações podem provocar nos outros. Quando decidimos, fazemos uma opção que significa que temos de renunciar às outras, e isso gera sempre um sentimento de perda, especialmente quando a decisão pelo bem significa sacrifício na nossa parte. Toda decisão é um ato nosso e individual. Não se pode decidir pelos outros nem culpar os outros pelas nossas más ações. Se o outro faz o mal, nós julgamos que também podemos fazer o mal. Deve ser o contrário, quando alguém faz o mal, nós devemos praticar o bem.

São Paulo na sua carta nos diz: “Tende entre vós o mesmo sentimento que existe em Jesus Cristo. Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até à morte, e morte de cruz” (Fl 2, 5-8).  A decisão de Jesus era de viver o maior amor possível, isto é dar a vida por todos nós. O seu sim mudou o mundo e nos abriu a oportunidade também de viver o amor. A parábola de hoje nos ensina que nosso sim a Deus deve ser sincero, um sim que reflete em nossas ações e nos leva a sermos pessoas do bem. Podemos terminar rezando com o salmista: “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e fazei-me conhecer a vossa estrada! Vossa verdade me oriente e me conduza, porque sois o Deus da minha salvação”.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM


BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

São Francsico e a Bíblia

São Francisco de Assis e a Bíblia

Foto: Arquivo Custodial

A conexão de São Francisco com a Bíblia é algo que nos motiva a cada dia para viver esse jeito franciscano de ser, quando deixamos ser levados pelo evangelho de Cristo Jesus, Francisco viveu de  modo radical o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo sendo tomado pela vida de Cristo. Radical no sentido de viver livre, ou seja, entregar sua vida para o Reino de Deus, acolhendo e servindo a todas as suas criaturas. 

Podemos observar quando Francisco ao ver os leprosos, sente compaixão e fez misericórdia com eles (cf. Test. 2), atitudes altamente evangélicas. Jesus Cristo torna-se alguém essencial para a vida de Francisco. Jesus viveu uma trajetória de dedicação e cuidado com os mais pobres, mostrou-se próximo daqueles que eram discriminados e desprezados pela sociedade.  

Francisco deixou que Cristo agisse em sua vida e, mudando o amargo em doçura, foi conduzido pelo Senhor até os excluídos. É esse o nosso dever enquanto Cristãos: encontrar o Cristo que se fez pobre (2Cor 8,9), que anunciou o Reino de Deus, e servi-lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados. 

Essa conexão com Deus que Francisco, a partir da bíblia e principalmente com o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, nos remete a  aspectos da vida do Santo de Assis que deixou  sua vida missionária viva pelas Sagradas Escrituras. Deus guiou e agiu na vida de Francisco. Ele pensava e atuava de um modo diferente com os fiéis e principalmente com os mais desfavorecidos. 

Ouvindo Frei Francisco que os discípulos de Cristo não deviam possuir ouro, prata ou dinheiro, nem levar pelo caminho bolsa, sacola, nem pão ou bastão, não ter calçado nem duas túnicas, mas pregar o reino de Deus e a penitência, ficou logo exultante e disse: “É isso que eu quero, é isso que eu procuro, é isso que eu desejo fazer com todo o meu coração”. (1 Celano 22). Francisco colocou em prática aquilo que ouvi e o que lhe fora explicado pelo sacerdote. 

“E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Test. 14). O evangelho estará presente em nossas vidas e Francisco sente ardentemente o desejo de viver com seus irmãos, que o Senhor lhe tinha concedido para conviver. O evangelho é o que nos mantém firmes em nossas caminhadas de Fé enquanto comunidade de irmãos e irmãs que pensam num mundo de Paz e Bem. No início de sua regra, a qual estamos celebrando os 800 anos da confirmação neste ano de 2023, Francisco deixa bem claro no primeiro capítulo o modo como o Frade deve viver: “Em nome do Senhor! Começa a vida dos Frades Menores: A regra e a vida dos Frades Menores é esta: observar o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade” (Regra Bulada 1,1). Viver o Evangelho é o suficiente e ele traz em sua regra o viver em Cristo. Observar sempre esta vida e regra é algo que Francisco nos pede de todo o seu coração. 

Algo bonito em Francisco no ano de 1223, perto do Natal, era o seu desejo em preparar um presépio para celebrar o nascimento do menino Deus de uma forma diferente, ele queria um aspecto mais presente para contemplar naquela noite o nascer de Jesus Cristo. São Francisco reconhece o amor de Deus e tem esse gesto de preparar um presépio e isso parte de sua admiração do gesto de Deus: “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo 3, 16 -17).

Outra situação que Francisco opera com os seus irmãos e com as criaturas que o rodeavam, é o Cântico das Criaturas, que celebra a criação como  filiação de Deus. Francisco chama as criaturas de irmãs(ãos) porque são comunicação de Deus. Louvado seja, meu Senhor, por todas as tuas obras, pois elas nos sustentam e nos dão sentido de viver e servir. No antigo testamento, na profecia de Daniel, é nos apresentado um louvor, em honra as criaturas que Deus criou, que acontece numa fornalha ardente, onde três jovens, milagrosamente preservados das chamas, entoam esta canção. Este hino é semelhante a uma ladainha, repetitiva e, ao mesmo tempo, nova. As suas invocações elevam-se até Deus. São Francisco, no cântico das Criaturas, mais uma vez, torna o louvor dos três jovens algo bem atual e que seja sempre refletido e colocado em prática a preservação das obras de Deus. 

No entanto, essa afinidade de Francisco com a bíblia foi importante para ele mesmo que desejava as coisas do céu e deixou ser conduzido pelas coisas que o Altíssimo revelava nos seus momentos de intimidade com Deus. O jovem Francisco de Assis, enquanto descobria a sua vocação, rezava em meio a pequenas igrejas: “Senhor, que queres que eu faça?” Ele buscava ardentemente mais que uma resposta para a sua vida. Estava à procura de um modo novo para viver o amor de Deus. E foi importante para seus irmãos que continuaram esse projeto de vida e que mexe conosco até os dias atuais quando tratamos de assuntos como o cuidado com a casa comum, a paz e o amor em uma fraternidade universal onde todas as raças e línguas tenham o mesmo diálogo. 

 

Por: Frei Leandro Kamal, OFM

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São Francisco de Assis: oito séculos da conversão

Foto: Arquivo Pessoal/Frei Gregório Joeright, OFM

“O homem vale o que é diante de Deus e nada mais”.
(São Francisco de Assis –
Adm 19, 2)

Nos últimos anos, a Família Franciscana vem realizando uma série de celebrações em torno do oitavo centenário da conversão de São Francisco de Assis. Com a conversão dele também se iniciou o movimento franciscano. Talvez por não haver consenso entre os diversos segmentos do movimento franciscano quanto às datas, têm acontecido eventos celebrativos um pouco por toda parte desde o ano passado (2007). A Primeira Ordem (a Ordem dos Frades Menores em seus três ramos: OFM, OFM Capuchinhos, OFMConventuais), por sua vez, está celebrando os oitocentos anos da aprovação da primeira regra de vida apresentada por São Francisco ao Papa Inocêncio III, o que deu início oficialmente a esta Ordem religiosa. Este fato teria acontecido entre março e junho de 1209 e a aprovação papal teria sido de modo informal, sem uma bula de confirmação, o que não era a praxe da chancelaria pontifícia naquele tempo. Normalmente, todos os atos oficiais da Cúria eram “bulados”, ou seja, selados com o brasão papal.

Se considerar o ano da conversão de São Francisco para estas celebrações, estamos todos um pouco atrasados, pois as celebrações deveriam ter sido feitas a partir de 2004 ou 2005. O início da conversão de Francisco, segundo as fontes franciscanas, situa-se em algum ponto entre os finais de 1204 e inícios de 1205. Mas isso não importa. O que é importante é que estas celebrações têm sido motivo de grandes mobilizações e oportunidade para muitas reflexões em torno do personagem que deu origem a um movimento que cresceu muito ao longo destes oito séculos de sua existência. Falava-se há alguns anos em mais de oitocentos mil membros pertencentes à família franciscana. E sabe-se que Francisco ainda continua mexendo com mentes e corações de muita gente pelo mundo e pelo tempo a fora, inclusive em âmbitos extra-católicos. Entre as inúmeras biografias de São Francisco publicadas em anos recentes, está uma escrita por um dos maiores medievalistas da atualidade, Jacques Le Goff (LE GOFF. São Francisco de Assis. Rio de Janeiro – São Paulo: Editora Record, 2001). A revista Veja, normalmente muito anti-clerical e anti-católica, na época do lançamento da primeira edição brasileira da obra de Le Goff, fez uma crítica muito positiva ao livro por causa da importância do autor, mas no fundo também por causa do significado do personagem biografado.

Jacques Le Goff, na cronologia apresentada em sua obra (pp. 15 – 19), situa a conversão de Francisco no ano 1206 e a aprovação da primeira regra por Inocêncio III, em 1210. Mas estas pequenas discrepâncias em torno de datas não importam tanto. O que importa mesmo é o significado de Francisco de Assis na história do cristianismo e da Igreja Católica. Trata-se de um homem que se projeta para o futuro justamente por aquilo que ele foi e continua sendo na história do Ocidente cristão: um sinal luminoso cujos reflexos se esparramam em todas as direções, iluminando sua própria pessoa e todos que são tocados por algum dos reflexos de sua figura admiravelmente luminosa e sempre atual.

Não é casual o fato de que o Pai dos Estudos Franciscanos na época Contemporânea tenha sido um protestante francês de nome Paul Sabatier. Também não é por acaso que existem simpatizantes de São Francisco em meios não-católicos e que exista inclusive uma “Ordem dos Franciscanos Ecumênicos”, que reúne admiradores do pobrezinho de Assis em meios protestantes e mesmo em meios não confessionais cristãos. Se alguém desejar conferir esta afirmação basta digitar o termo “franciscanos” ou “Franciscans” em algum site de buscas da internet para ver uma avalanche de ocorrências que vai levar aos endereços de alguns destes grupos. Ficou muito conhecida também a enquete promovida pela revista Time, na última década do século passado, entre seus leitores, para levantar uma lista das personalidades mais importantes do milênio que se fecharia no final da década. Entre as personalidades mais indicadas apareceu São Francisco de Assis, figurando entre personagens tais como Johannes Gutenberg, Cristóvão Colombo, Michelangelo, Martinho Lutero, Galileu Galilei, William Shakespeare, Thomas Jefferson, Wolfgang Amadeus Mozart, Albert Einstein etc. (cf. Revista Grande Sinal 53 [1999]pág. 387).

“As lições do franciscanismo nascem modernas na Idade Média e reafirmam sua atualidade inequívoca no século XXI”, diz o apresentador da edição brasileira do São Francisco de Assis, de Le Goff. De fato, São Francisco é muito maior e mais atual do que todo o movimento franciscano. Ele vale muito pelo que é diante de Deus e diante da humanidade: um homem evangélico, um santo muito humano, que foi filho do seu tempo, mas totalmente livre dos condicionamentos de seu contexto social e eclesial, um homem totalmente livre também de todo tipo de estruturas e amarras institucionais. Um homem que apontava para o futuro em muitos sentidos, entre estes, a sensibilidade ecológica, tão urgente em nosso tempo de crise ambiental e climática, e tão marcado por tendências desumanizadoras e despersonalizadoras, típicas da cultura niilista pós-moderna. Ao individualismo subjetivista consumista egocêntrico da cultura pós-moderna líquida, Francisco propõe a busca de saídas coletivas e a construção comunitária de uma nova humanidade. Hoje, por influência do Papa Francisco, também de uma economia solidária, chamada de “Economia de Francisco e Clara”.

As celebrações dos oitocentos anos, seja da conversão de São Francisco, seja da fundação da primeira Ordem ou do movimento franciscano, são um forte motivo para se contemplar, uma vez mais, o valor deste homem pelo que ele foi diante de Deus e diante da história. É oportunidade de o movimento franciscano ver o tanto que ainda tem a aprender com seu fundador. Especialmente numa época de mudanças tão profundas, tão rápidas e tão radicais e numa mudança de Época, como a nossa, o movimento franciscano deveria hoje ser fiel ao que foi no contexto de suas origens: resposta aos desafios de um mundo em profundas transformações. No dizer de Jacques Le Goff, “[…] há poucos movimentos tão próprios para exprimir e para esclarecer qualquer momento da humanidade. Abrir-se e ao mesmo tempo resistir ao mundo é um modelo, um programa de ontem e de hoje, de amanhã sem dúvida”. E o movimento franciscano hoje, superando suas contradições, incoerências e, sobretudo, sua fragmentação, pode oferecer alternativas a este mundo tão necessitado de experiências significativas de movimentos proféticos, contraculturais, mas em diálogo aberto com ele, se quiser ser fiel a seu fundador e à “graça de suas origens”!

Frei Edilson Rocha, OFM

Manaus, 04/09/2008.

 

*Este artigo escrito por Frei Edilson Rocha, foi publicado no dia de São Francisco em 2008, no blog (Entre)laço do Coração

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25º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Como é bom ser surpreendido com algum acontecimento que a gente nunca esperou. Por exemplo, um aniversário surpresa. Amigos ou familiares planejam a festa, convidam as pessoas, preparam a comida e o aniversariante nem desconfia. Quando entra na sala tudo está no escuro e de repente o povo grita “surpresa”. É um momento de grande emoção, foi uma grande surpresa. Mas nem toda surpresa é agradável. Podemos ser surpreendidos com uma notícia de acidente, doença, morte ou uma decepção de alguém que nós gostamos e que nos traiu com uma atitude nada agradável. Uma surpresa pode ser positiva ou negativa dependendo não somente da situação que provocou a surpresa, mas também das nossas expectativas em relação às pessoas.

As parábolas de Jesus também sempre tinham um elemento surpresa. Os ouvintes de ontem e hoje são surpreendidos com algo que é diferente do nosso pensamento ou nossa maneira de agir. As surpresas de Jesus nas parábolas vêm do fato que elas nos ensinam sobre o Reino, e a lógica do Reino não é de acordo com nossa lógica. O profeta Isaías explica muito bem isso: “Meus pensamentos não são como vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos, diz o Senhor. Estão meus caminhos e meus pensamentos acima de vossos caminhos e vossos pensamentos, quanto está o céu acima da terra” (Is 55, 8-9).

Na parábola do evangelho de hoje, podemos ver três surpresas:

Primeiro, a presença de pessoas desocupadas o dia inteiro na praça. Para nós, parece estranho que tinha gente vagando sem fazer nada. Mas, para aquele tempo não era tão estranho uma vez que a terra, o principal meio de sustento para o povo, era concentrada nas mãos dos latifundiários e, por isso, existia muito desemprego e o único meio para sustentar a família era esperar alguém para contratar o trabalho por um dia.

Segunda surpresa, para os primeiros trabalhadores, o patrão combinou uma moeda de prata, mas na medida que foi contratando, ele combinou pagar o que for justo. Para os trabalhadores daquele tempo uma moeda de prata era o salário de um dia e a garantia de alimento para aquele dia. Pagar o que for justo seria dar o suficiente para o trabalhador comer naquele dia e não de acordo com as horas trabalhadas.

Terceira e maior surpresa: quando chegou no fim do dia, os que trabalharam somente uma hora receberam o mesmo salário dos que trabalharam o dia inteiro. Foi uma grande surpresa tanto para os primeiros como também para os últimos. Os primeiros não gostaram, mas os últimos foram tratados com dignidade e de acordo com aquilo que necessitavam.

Estas surpresas da parábola nos ensinam várias coisas. O que Jesus ensina é diferente do que nossa maneira de pensar e agir. Ele revela os pensamentos e os caminhos do Pai. Devemos sempre lembrar que a lógica do Reino do Pai é diferente da nossa lógica. Por isso que Isaías também nos lembra que é preciso sempre buscar o Senhor enquanto pode ser achado, abandonar os caminhos do mal e voltar para o nosso Deus que é generoso no perdão.

A segunda coisa é que nossas relações devem ser baseadas na gratuidade. No mundo onde tudo tem seu preço e o valor das pessoas é calculado por aquilo que produzem é necessário cultivar a gratuidade. O patrão pagou o mesmo salário para todos para mostrar que o maior valor das pessoas não vem por aquilo que produzem, mas pela dignidade de cada um. Quando reconhecemos a dignidade de todas as pessoas, nós nos tornamos pessoas gratuitas.

Finalmente, o evangelho sempre nos desafia a viver diferente, a praticar valores que muitas vezes são rejeitados pela sociedade. Em outras palavras “viver na altura do evangelho” como São Paulo nos ensina. Aceitar este desafio é praticar estes valores em todas as dimensões da vida: na família, no trabalho e na escola. Neste dia nacional da Bíblia, somos desafiados a conhecer a vontade do Pai e a compreender seus pensamentos e seguir seus caminhos.

Muitas vezes nós não somos mais surpreendidos com os acontecimentos do mundo. Acidentes, guerras, atos terroristas, corrupção, maldade, injustiça e violência são tão comuns que não nos surpreendem mais. É justamente por isso que nós devemos ser uma surpresa agradável para os outros pelo nosso compromisso de viver na altura do evangelho para que os nossos pensamentos e os nossos caminhos sejam os mesmos pensamentos e caminhos do Senhor.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM


BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

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A Bíblia e o Ano Vocacional

Foto: Arquivo Custodial

Paz e bem!

Esse mês de setembro no Brasil estamos vivenciando o mês da Bíblia, todos os anos nos aprofundamos na leitura de um livro específico, em 2023, o escolhido foi Efésios com a inspiração norteadora da passagem Bíblica “Vestir- se da nova humanidade” (Ef 4,24). Ocasionalmente, estamos no final do terceiro Ano Vocacional, que será celebrado até o dia 26 de novembro de 2023, cujo tema iluminado é: “ Vocação: Graça e Missão” e o lema: “ Corações ardentes pés a caminho” (Lc 24,32-33). 

Assim sendo, que maravilha de mês, louvado seja Nosso Senhor pela oportunidade de termos esse mês abençoado para refletirmos sobre nossa vocação e nos motivar a termos diariamente o contato com a palavra do Senhor. É um mês oportuno para meditarmos que todos nós somos vocacionados do Senhor, que através dessa vocação nós somos agraciados e assim impulsionados a “ vestir – se na nova humanidade” – inspiração bíblica do mês da Bíblia 2023 –  ou seja, como batizados e batizadas vestir – se dá vida nova em Cristo e, essa “vida nova” é assumir nossa vocação e testemunhar na humanidade sendo sal, dando sabor na vida das pessoas e, sendo luz, iluminando quem está nas trevas, como fez nosso pai seráfico São Francisco de Assis. 

Outrossim, não podemos negar as dificuldades causadas pela realidade do tempo presente, contudo, tenham fé, inspirem- se nos grandes vocacionados presente na Sagrada Escritura, como os profetas por exemplo, e claro, o maior de todos os vocacionados, Jesus Cristo. Portanto, com nossa vocação, abastecidos pela Palavra, recebemos nossa graça, graça esta, que faz nosso coração arder, e nos impulsiona a pôr os pés a caminho, em direção aos nossos irmãos, em direção ao céu, testemunhemos juntos nosso amor pela Palavra e pela nossa vocação, pés no chão para sermos agentes transformadores da nova humanidade. 

Por: Irmã Cássia, FCJM 

Irm. Arimatéia ed

Custódio recorda presença da Irmã Arimatéia na Missão Cururu

Foto: Arquivo Custodial

Na manhã da terça-feira, 19 de setembro, recebemos a notícia do falecimento da Ir. Arimatéia, que estava em Fortaleza, no Ceará, na casa “Saudinha”, onde as irmãs idosas e enfermas são cuidadas. Ir. Lioneide entrou em contato conosco para comunicar a páscoa desta grande missionária das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição.

As minhas recordações da fisionomia da Ir. Arimatéia são da década de 1990, quando visitei pela primeira vez a Missão São Francisco do Cururu. Ela já tinha uma certa idade, mas manifestava um grande vigor em sua presença na Missão. Sua fisionomia de mulher nordestina forte me fez lembrar de minha avó materna, que também era nordestina e era uma mulher forte e lutadora. Aquela imagem da Ir. Arimatéia ficou impressa de modo indelével em minha memória. Os nossos irmãos Munduruku do Cururu, especialmente da aldeia da Missão, testemunharam a passagem de grandes missionárias e missionários franciscanos ao longo de mais de cem anos. Admira-nos muito hoje a generosidade, o despojamento, a disposição, a dedicação total destas religiosas e religiosos que não desejavam nada para si mesmos, pareciam não ter ambições pessoais nem nenhum tipo de apego, nem mesmo à própria vida. Ir. Arimatéia, como outras irmãs e alguns dos confrades missionários, dedicaram décadas de suas vidas nesta missão. Ela mesma, mais de quarenta anos. A Ir. Conceição – querida “Concita” -, que hoje está em tratamento de saúde em Fortaleza, também passou uns quarenta anos na Aldeia. Frei Plácido teria passado ali sessenta anos de sua vida. Frei Gilberto, uns vinte anos. E poderíamos citar outros irmãos e irmãs que dedicaram boa parte de suas vidas nesta missão entre os irmãos Munduruku do Alto Tapajós e Cururu.

Foto: Arquivo Custodial

Ir. Arimatéia, como tantas outras pessoas que doaram grande parte – certamente a melhor parte – de suas vidas na missão, são pessoas que levaram muito a sério as palavras de Jesus: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois, quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim e da Boa Notícia, vai salvá-la.” (Mc 8, 34-35). Este “salvar” não se contabiliza em números de anos que alguém passou na missão, mas na qualidade e na densidade e intensidade do tempo passado e doado na missão. Não precisa ser necessariamente um longo período, mas um tempo qualificado pelo testemunho de vida. No breve tempo que nos é dado viver podemos fazer muitas coisas, mas o que permanece de nós, senão o que fazemos de bem e de bom? Prova-o o discurso do julgamento final, em Mateus 25, 31-46: o que nos salva é o altruísmo, o amor que mobiliza. A nossa capacidade de sair de nós mesmo, de nos desapegarmos das falsas seguranças e nos lançarmos no serviço do outro. Vejo nos exemplos dos missionários como a Ir. Arimatéia a radicalização deste amoroso altruísmo. O espírito missionário morre quando as pessoas não conseguem mais sair de si mesmas  e não têm mais a capacidade da renúncia de si mesmas.

No livrinho “Código de Ética”, elaborado pela “Aliança Francisclariana”, selada entre a Custódia São Benedito da Amazônia e as Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição (SMIC),  publicado em 2007, Ir. Arimatéia dá um longo testemunho de sua experiência de vida na Missão São Francisco, ao longo dos 43 anos que passou na Aldeia, entre o povo Munduruku.  É bonita a narrativa de sua história na missão, iniciada em dezembro de 1955, com a longa viagem para chegar à Aldeia de São Francisco do Cururu. Não havia estrada, nem aviões, nem a rapidez dos carros de hoje, mas o transporte fluvial bem mais lento do que os barcos e lanchas rápidas dos nossos tempos. Uma viagem que hoje se pode fazer em quatro ou cinco dias, naqueles anos levava algumas semanas, como nos conta com simplicidade a Ir. Arimatéia em seu relato da primeira viagem ao Rio Cururu. Quantos sacrifícios, incômodos, cansaço, sofrimentos e outros desafios os missionários e missionárias enfrentavam para chegar ao Cururu!

O exemplo de vida da Ir. Arimatéia nos inspire hoje para continuarmos a presença missionária, fraterna, dedicada à missão junto às aldeias do povo Munduruku. E aprendamos com ela e todos os missionários e missionárias que deram toda a vida ou parte dela, com total e generosa entrega, à esta missão que nos foi confiada há mais de um século. Obrigado, Ir. Arimatéia, por sua doação generosa e testemunha como pessoa consagrada e missionária a serviço dos povos indígenas!

Ir. Arimatéia do Vale  – 1924 – 2023

Frei Edilson Rocha, OFM

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24º Domingo do Tempo Comum

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Deus é o nosso aliado! Aliado é aquele que está do lado, e, na guerra, aquele que se junta a nós para combater um inimigo comum. Dizer que Deus é o nosso aliado significa que Ele se junta a nós para lutar contra o mal e garantir a vitória da vida sobre a morte. Jesus é o grande sinal de que Deus está conosco para que “tenhamos vida e vida em abundância”.

Se Deus se aliou a nós para nos livrar de todo mal e sofrimento, nós que somos fiéis, precisamos nos aliar a Deus na mesma luta contra o mal. Alguns dos males que nos afligem e causam muito sofrimento é justamente o rancor, o ódio e a vingança. É este o entendimento do autor do livro de Eclesiástico: “Se alguém guarda a raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura… Se ele, que é um mortal, guarda o rancor, quem é que vai alcançar o perdão para os seus pecados?” (Eclo 28, 4-5).  Assim, o rancor e a raiva são coisas detestáveis, pois o ódio para com as pessoas é ruptura com Deus, e Ele dará a cada um de nós segunda a maneira que nós tratamos os outros. Por isso, a melhor coisa a ser feita é perdoar as faltas cometidas contra nós, pois se alguém “não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus próprios pecados?” (Eclo 28,4).

Esta atitude no livro de Eclesiástico já prevê o que Jesus ensina no Evangelho de hoje. Inicialmente, a vingança era aceita e a lei dizia “dente por dente”, isto é, podia retribuir ao outro de acordo com a ofensa recebida. O pensamento era se vingar para compensar as injustiças recebidas e desencorajar que alguém fizesse novamente as mesmas ofensas. No domingo passado, Jesus nos ensinou sobre a correção fraterna, agora nos lembra do perdão fraterno. Pedro achava que o perdão tinha limites: “Senhor, quantas vezes devo perdoar, se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18, 21). Para Jesus não existe limites para o perdão: “Não digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 22), e Jesus ilustra seu ensinamento com a parábola do rei que acertou as contas com seus empregados. A parábola nos ensina não somente como o rei foi capaz de perdoar o empregado que devia uma fortuna, mas também que nós não devemos somente pensar em nós quando sentimos a necessidade de receber o perdão, pois devemos ter os mesmos sentimentos com nossos irmãos que nos ofendem. O ensinamento de Jesus é que Deus é misericordioso e nós devemos analisar nossas atitudes diante das ofensas dos outros e das nossas próprias ofensas. Se não somos capazes de perdoar os outros como podemos esperar o perdão de Deus!

Este ensinamento de Jesus é muito claro e cada vez que rezamos o Pai Nosso estamos expressando nosso desejo de segui-lo. Mas, perdoar não é fácil, pelo contrário, é difícil. Primeiramente, porque a ofensa machuca e quanto maior a ofensa tanto maior a dor que sentimos. Ninguém quer sentir a dor da ofensa, pois ser machucado dói. Segundo, porque temos medo. Pensamos que ao perdoar alguém, esta pessoa vai cometer novamente a ofensa e a lembrança da dor nos dá o medo de perdoar.

Mas, devemos lembrar que o maior efeito do perdão não é a transformação da pessoa que ofendeu, mas nós, que perdoamos, somos transformados. Primeiro, porque o rancor é uma doença que nos corrói e consome. Cultivar o rancor traz muitos prejuízos para a saúde do corpo e da mente e prejudica nossas relações interpessoais e nos priva de gozar plenamente da vida. Alguém uma vez disse: “Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra.” Segundo o perdão nos faz humildes, isto é, nos lembra que também nós ofendemos os outros e a consciência das nossa faltas nos leva a reconhecer que nós também precisamos pedir o perdão. Finalmente, é o perdão que recria as relações fraternas e reforça o espírito comunitário. Assim, o perdão ajudar a reconhecer que é preciso viver o amor e é isto que São Paulo nos afirma quando diz que a comunidade cristã deve ser o lugar do amor, do respeito pelo outro, da aceitação das diferenças e do perdão.

Perdoar significa não entrar na lógica do mundo que é do rancor, do ódio e da vingança, mas na lógica do Reino, onde Deus se torna nosso aliado na luta contra o mal e nós, aliados de Deus, vivemos o perdão e a reconciliação. Assim, temos também a certeza de que Deus perdoa as nossas faltas como reza o salmista: “Quanto os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem; quanto dista o nascente do poente, tanto afasta para longe os nossos crimes” (Sl 102, 11). Por isso, pedimos um coração manso e compassivo e, como aliados a Deus, que sejamos transformados pelo perdão.

Por: Frei Gregório Joeright, OFM


BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. Acesso em: 03 fev. 2022.

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

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Festa Litúrgica da Exaltação da Santa Cruz

Fonte: opusdei.org

“Do Rei avança o estandarte, 

fulge o mistério da Cruz, onde por nós foi suspenso o autor da vida, Jesus”. 

(Cf. Hino das II Vésperas, Festa da Exaltação da Santa Cruz, 1275)

 

A festa da Exaltação da Santa Cruz, que hoje celebramos, é uma das mais significativas do calendário litúrgico da Igreja Católica e de algumas outras tradições cristãs, entre elas, a Igreja Ortodoxa; pois direciona o nosso olhar para o mistério da Cruz, “onde pendeu inocente, o próprio Cristo Jesus” (Cf. Hino das Laudes da Festa da Exaltação da Santa Cruz, 1271). Esta festa tem uma profunda importância espiritual e histórica, celebrando a cruz como um símbolo central da fé cristã.

A origem desta festa remonta ao século IV, quando Santa Helena, mãe do Imperador Constantino, viajou para a Terra Santa em peregrinação. Durante sua jornada, ela descobriu, próximo ao Monte Calvário, a verdadeira cruz na qual Jesus Cristo foi crucificado. Ademais, a festa litúrgica da exaltação da Santa Cruz está diretamente relacionada à dedicação das duas basílicas constantinianas construídas sobre o Gólgota (lugar da crucificação) e sobre o sepulcro, onde o corpo Jesus foi colocado depois logo após ser tirado da cruz (Mt 27, 57-61); consagradas no ano de 335, nove anos após Santa Helena ter encontrado a cruz de Cristo. 

A celebração da Exaltação da Santa Cruz destaca o significado da cruz na vida de todo discípulo de Jesus. A cruz é vista como um símbolo da redenção e da entrega generosa de Jesus Cristo, que ofereceu a sua vida pela humanidade. Ela representa a vitória sobre o pecado e a morte, e se torna expressão do amor de Deus e promessa de vida eterna. Os cristãos vêem a cruz como um símbolo de esperança, graça e salvação.

Na liturgia da Exaltação da Santa Cruz, os cristãos católicos veneram a cruz e meditam sobre o significado de Cristo ter sido crucificado por nossos pecados. Em muitas igrejas, a cruz é decorada com flores e velas, e os fiéis são convidados a beijar ou tocar a cruz como um ato de devoção. É também um momento para refletir sobre a importância da cruz e renovar o compromisso com a fé cristã.

Além disso, a Festa da Exaltação da Santa Cruz encoraja os discípulos e discípulas de Jesus a abraçar a própria cruz, com fé e perseverança, no cotidiano da vida, confiantes de que, assim como Cristo ressuscitou após sua crucificação, um dia todos encontrarão a vida eterna através da perseverança na fé.

A Festa da Exaltação da Santa Cruz é uma ocasião significativa no calendário litúrgico, lembrando a todos do sacrifício de Jesus Cristo e do símbolo da cruz como um sinal de esperança e redenção. É uma oportunidade para os fiéis refletirem sobre o significado espiritual da cruz e renovarem a fé em Cristo. Nesse sentido, a cruz se torna um farol, que ilumina a vida de todos aqueles que desejam abraçar, com coerência, o projeto iniciado por Jesus, pois, como nos recorda Chesterston, a cruz “é o poste de sinalização dos viajantes livres” (p. 49). 

Por: Frei John Araújo, OFM


Referências

BÍBLIA – Bíblia do Peregrino. Comentários de L. A. SCHÖCKEL. São Paulo: Paulus, 2017. 

CHESTERTON, G.K. Ortodoxia; Edição Centenária 1908-2008; Ed. Mundo Cristão, São Paulo, 2007.

LITURGIA DAS HORAS. v.  IV. Petrópolis: Vozes. São Paulo: Paulinas/Paulus/Ave Maria, 1995. 

 

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Frei Florêncio na reunião do Núcleo para o Rito Amazônico

Fonte: ceb.bo

Frei Florêncio Vaz, OFM é indígena do povo Maytapu, natural de Pinhel no rio Tapajós, frade da Custódia São Benedito da Amazônia e antropólogo. A partir da sua  experiência de atuação no ensino acadêmico e também pelas suas raízes culturais e vivências junto aos povos amazônicos, especialmente junto aos indígenas do Baixo Tapajós, foi convidado para compor e colaborar na Coordenação da subcomissão de aspectos sociológicos e antropológicos do Rito Amazônico. Nos trabalhos da subcomissão convidou outros antropólogos, a maioria leigos e leigas, para colaborar em um grande levantamento sobre aspectos do modo de viver e celebrar dos povos pan-amazônicos. 

A subcomissão fez um acurado trabalho de leitura e levantamento bibliográfico para produzir um relatório sobre múltiplos aspectos da cultura na Pan-amazônia. Ele resume as principais linhas culturais dos povos com o objetivo de ser a contribuição para prática celebrativa à luz da vida amazônica. O relatório foi entregue, apresentado e discutido na reunião em Santa Cruz. 

Fonte: ceb.bo

Frei Florêncio destaca que esse foi “um desafio muito grande por se tratar da cultura, da cosmologia, crenças e ritos” da imensa região amazônica. A partir do relatório, junto aos demais materiais das outras subcomissões, será gerado um material unificado que deverá ir às bases de toda a Igreja na Amazônia. O material encaminhado deverá ser lido e apreciado pelas lideranças e todo o povo. Após esse retorno, um relatório final deverá auxiliar na composição do rito. 

Por: Frei Fábio Vasconcelos 

Delegados do Núcleo do Rito Amazônico da CEAMA se reúnem para aprofundamento sobre a realidade amazônica 

Fonte: ceb.bo

Vinte delegados do Núcleo do Rito Amazônico da Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA) se reúnem de 12 a 14 de setembro, na Arquidiocese de Santa Cruz, para socializar referências sobre a realidade amazônica em vista da elaboração do Marco Geral do rito e definir os próximos passos de trabalho do núcleo. 

A criação do Rito Amazônico surgiu como proposta do Sínodo para a Amazônia. O núcleo está formado por 20 membros segundo critérios de representatividade.  A comissão para o rito, sob os cuidados da CEAM, está dividida em quatro subcomissões: Antropológica-Sociológica e Espiritual, Histórica-cultural, Teológica-eclesiológica e Ritual-jurídica.  

Por meio desse núcleo se está trabalhando na “leitura da realidade religiosa, antropológica, cultural, tradicional e teológica das culturas amazônicas, para resgatar e aprofundar o estudo das tradições e ritos que foram nascendo dentro da Amazônia nestes 500 anos de presença da religião cristã e católica, para imergir o processo de inculturação”, assinala o bispo do Vicariato Apostólico de Pando e coordenador do Núcleo do Rito Amazônico na CEAMA.

Esta equipe de trabalho se reúne em Santa Cruz (Bolívia) de maneira presencial, depois de um ano e meio de trabalho virtual, para dar passos e programar uma segunda etapa de avanço deste processo. “É uma alegria esse momento de encontro dentro do caminho da CEAMA e com esta perspectiva ir aproximando e traduzindo cada vez mais o Sínodo da Amazônia ”, afirma o bispo. 

Durante o encontro haverá exposições e serão compartilhadas as investigações realizadas pelas quatro subcomissões, para identificar elementos comuns da região amazônica que serão considerados na elaboração do Marco Geral do Rito. Dom Coter espera que esta presença dos delegados seja iluminada, “pela realidade eclesial no caminho desta terra sagrada na qual todos somos convidados a caminhar, tirando os calçados, para reconhecer como Deus fala através desta terra e seus ambientes”. 

“Deus, que quer levar-vos este anúncio de alegria e de esperança, capaz de exprimir-se nos sinais específicos das suas culturas”, enfatizou Dom Coter ao mesmo tempo que concluiu esperando que os povos, culturas e Igreja da região amazônica se reconheçam neste Rito Amazônico. 

Fonte: Micaela Diaz

(https://ceb.bo/2023/09/delegados-del-nucleo-del-rito-amazonico-de-la-ceama-se-reunen-para-profundizar-la-realidad-amazonica/)