Celebrar a Assunção de Maria e assumir a Amazônia

Assunção: assumir e celebrar um compromisso

A palavra “assunção” tem sua origem no termo latino “ad-sumere”, que significa “assumir, tomar para si”. Deste modo, a Assunção de Maria é uma celebração na qual Deus toma para si, acolhe de corpo e alma a Virgem Santa à glória celestial. O Papa Pio XII, em 1950, ao definir a “Assunção de Maria” como um dogma da Igreja Católica, recorreu ao testemunho litúrgico, que celebrado desde antiquíssimos tempos, tem sido uma fonte de luz para a vida do povo. Ele recorda os sacramentários e outros textos litúrgicos bem antigos da digna veneração da Divina Providência, que honrou e libertou Maria da prisão do túmulo. Maria, que sofreu a morte temporal, não ficou presa nas algemas da morte.

Da liturgia à vida, pode-se afirmar que essa festa conclama toda a pessoa a olhar para a nova Mãe de toda a Criação como mulher do novo paraíso. Maria desfruta do convívio que os primeiros humanos perderam. Maria é participante da reconciliação celebrada pelo Filho. Esta solenidade que a Igreja do mundo todo celebra toca também o chão da nossa vida amazônica, e pode nos ajudar a pensar sobre o agir de Deus entre nós. Ao celebrar essa “passagem” ou “dormição”, que eram os primeiros títulos dados a essa liturgia no Oriente, de Maria se recorda que a Mãe do Senhor, após sua vida terrena, foi assunta aos céus de corpo e alma pelo seu próprio filho Jesus. Na totalidade de Maria se assume também a nossa humanidade, nossas culturas, nosso jeito de ser.

“Amazonizar” a liturgia da Assunção

Este dogma mariano tem uma estreita ligação com o dogma da “Imaculada Conceição” da Mãe de Deus, nos quais se ressaltam “a partida e o destino” pleno de Maria. Em configuração com seu bendito Filho, o Ressuscitado, Maria é envolvida na vitória pascal. Foi ela quem gerou de modo maravilhoso a Jesus e, de maneira inflável, foi assunta aos céus. Maria, do “começo ao fim”, foi plena de graça. Essa imagem gloriosa poderia afastar Maria de nós? Ao contrário, o que se celebra é que a humildade de Maria foi assumida no céu. A bendita Mulher de Nazaré vai ao céu por inteiro, corpo e alma, levando consigo a história e cultura de um povo e, conjuntamente, de todos os seres humanos. A oração do dia nesta solenidade nos indica a viver em atenção às cosias do alto, o que de modo algum é viver em alienação. Esse caminho do céu e terra, e vice-versa, faz-se sonhando com uma Amazônia melhor. Somos novamente convidados a olhar os sinais dos tempos, os alertas de hoje, no céu e na terra da região amazônica.

No Prefácio da solenidade, que vem intitulado de “a glória de Maria”, a Virgem aparece como sinal da Igreja que caminha rumo ao reino. Aurora e esplendor são expressões de cunho luminoso e cósmico, referem-se à luz que desponta e que brilha vivamente. Maria está no começo e na plenitude do viver em Deus. A oração prossegue nomeando a Virgem como “consolo e esperança do povo” que deseja a glória eterna. Nesse texto litúrgico também se pode contemplar que foi por obra do Autor da vida, Deus cheio de amor e poder, que Maria foi preservada da corrupção da morte. Podemos ver então uma relação entre a Mãe do Senhor e o povo de Deus.

Se assunção vem do termo assumir, lembremos do que precisamos assimilar aqui na Casa Comum: assumir uma eclesialidade amazônica, assumir nosso compromisso com o bem-viver, assumir nossos erros e preconceitos, precisamos que nossos gestos sejam “assuntos” para um novo céu e nova terra.  E podemos nos perguntar: Assumir a Amazônia para quê? O que significa acolher seus povos e culturas no seio da Igreja? As imagens do Sol e da Lua, que aparecem revestindo e calçando a Mulher-Igreja são imagens da nossa relação com o cósmico, de que nosso corpo é interação com o espaço e da interação entre nosso dia e noites amazônicos. Os luminares do céu são igualmente fortes nas culturas locais. Sol que brilha e o céu que não pode cair sobre nós, como imagens da catástrofe ambiental que pode nos assolar. Cantando nosso sinal, o sinal mulher, olhamos para nossas matriarcas amazônidas da Igreja que mantém de pé nossas comunidades (A mulher é a Igreja!). Estamos com Maria em uma canoa, navegando até o porto do eterno Amor.

Referência: ALDAZÁBAL, José. Vocabulário básico de Liturgia. São Paulo, Paulinas. 2013.

Texto: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Estudante de Teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), Petrópolis – RJ. 

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