Celebrar uma Quaresma sinodal

 

 

Não fechar o coração e escutar a voz de Deus é uma exigência não apenas do caminho quaresmal, mas de toda uma vivência cristã. Na busca pela sinodalidade temos uma bela oportunidade de escutar. A caminhada sinodal se abre em grande tempo de escuta, no que urge também fazer silêncio e prestar atenção para si e para os irmãos, e isso está bem alinhado com a espiritualidade quaresmal. Nesse processo sinodal somos chamados a converter-nos pessoal e comunitariamente. A experiência de caminhar juntos (sinodal) do povo de Deus pelo deserto mostra a necessidade de crescer na mudança de vida e no amor do Senhor. Caminhamos por um percurso que nos leva a sermos uma Igreja de irmãos e irmãs. É uma mudança que deve ser progressiva e constante, pois é indispensável no agir eclesial (uma igreja sempre em reforma). Nesse tempo favorável, onde pedimos a graça de caminhar com alegria no amor de doação total de Jesus, somos convidados a ter um coração aberto e sinodal. 

A quaresma é sim um tempo de renovação pessoal, mas também de conversão eclesial. Muitas comunidades têm aproveitado esse tempo de retiro quaresmal para “aprender a escutar”. O site da diocese de Aveiro (Portugal) traz importantes sugestões para celebrar o tempo quaresmal à luz da caminhada sinodal. É tempo de “caminhar juntos e participar” sendo mais próximos. Devemos seguir o exemplo do Deus libertador que escuta os clamores do seu povo. É tempo também de adentrar o deserto guiados pelo Espírito Santo. A oração “Adsumus Sancte Spiritus”, nos coloca diante do Espírito com nossas fragilidades e nela se reconhece que sem a luz divina podemos desviar dos caminhos da justiça e da verdade. Podemos igualmente desviar do caminho sinodal ou paralisar-nos diante dos desafios da sinodalidade.

As leituras dominicais para a quaresma (neste ano C) nos permitem também seguir com Cristo em processo sinodal. Diante das tentações de ser grande e colocar-se acima dos outros, podemos desviar das trilhas do reino. Com o Bom Jesus Luminoso somos convidados a não nos acomodar no cume da montanha e descermos para ser Igreja em Saída. Deus nos convida a escutar a voz de Jesus que nos encaminha sempre mais para a comunhão perfeita. Outra tentação em nossa estrada eclesial é a de achar-se melhor e mais perfeito que os outros. Somos convidados à mudança interna e radical de mentalidade, uma conversão para frutificação sinodal que exige atitude e cuidado. A sinodalidade é essa oportunidade renovadora. A casa do Pai misericordioso é o lugar da comunhão, participação e missão que acolhe todos os seus filhos.

A quaresma é igualmente um tempo de índole batismal, onde os catecúmenos preparam-se mais intensamente para celebrar os sacramentos de iniciação e a Igreja recorda os compromissos do batismo. O documento preparatório do Sínodo 2021-2023 nos reforça que: “Por conseguinte, todos os Batizados, participantes na função sacerdotal, profética e real de Cristo, no exercício da multiforme e ordenada riqueza dos seus carismas, das suas vocações, dos seus ministérios, são sujeitos ativos de evangelização, quer individualmente quer como totalidade do Povo de Deus”. A temática libertadora do êxodo, caminho que a cada ano a Igreja refaz na quaresma, nos impulsiona para irmos cada vez mais rumo à comunhão, participação e missão. A Igreja em saída é aquela que se converte sinodalmente.

 

 – Frei Fábio Vasconcelos, OFM.

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