A comemoração litúrgica de São Brás (ou Blásios) é celebrada no calendário romano no dia 03 de fevereiro, dia posterior à festa da Apresentação do Senhor. Uma primeira pesquisa nos meios eletrônicos nos indica que o nome Brás é derivado de blásius, que tem origem latina, blaesus, que significa gago. Mas, de acordo com a Legenda Áurea, o nome Brás vem de blandus, “suave”, ou de belasíus, formado de bela, “costume”, e syor, “pequeno”. De fato, São Brás foi suave em seus sermões, virtuoso em seus costumes e humilde em sua conduta. Sobre a história do Santo, sabemos, pela breve nota que consta na liturgia das horas, que viveu no século IV, foi bispo de Sebaste (Armênia) e seu culto se popularizou no período da Idade Média, propagando-se por toda a Igreja. Foi decapitado, segundo consta na tradição, no ano de 316 em Sebaste.
Na oração do dia, se suplica a paz na vida presente e a felicidade na vida eterna pela intercessão do mártir. No ofício das leituras, escutamos Santo Agostinho, que em um dos seus sermões insiste aos pastores: “sacrifica-te pelas minhas ovelhas”. Na iconografia de São Brás temos uma referência ao gesto de abençoar, as vestes episcopais e o livro da Palavra na mão direita. No entanto, em estampas populares, também vemos imagens do santo com velas trançadas nas mãos e com o báculo. Em Vitrais da catedral francesa de Charters, temos representações da sua devoção. Também existem esculturas do seu martírio em pilares góticos, representando o santo despido, recebendo torturas e tendo apenas a mitra na cabeça. No município de Santarém (PA), há uma comunidade, localizada na região do Eixo Forte, que leva o nome do santo e o festeja como padroeiro.
A popularidade de São Brás se deve ao fato de que muitas pessoas procuram a bênção e a proteção de suas gargantas por sua intercessão. Muitas igrejas realizam a chamada “bênção de São Brás” no dia do santo. Esse costume começou em decorrência de uma narrativa sobre a cura de uma criança sufocada por uma espinha de peixe. Procurado pela mãe do menino, São Brás realizou a cura por meio da bênção. O Santo é invocado contra os diversos males da garganta. As tradições populares guardam diversas “rezas”, jaculatórias e gestos, como bater nas costas, para os engasgamentos, tosses e soluços. Essas fórmulas populares trazem o nome do santo e tipo de rima (São Brás desafoga esse rapaz).
Por conta da pandemia, a Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ofereceu orientações para a bênção da saúde e das velas realizadas na Igreja. Nesta bênção, tradicionalmente duas velas são abençoadas e tocam o pescoço das pessoas. No rito, realizado após a homilia, as duas velas unidas por uma fita vermelha são abençoadas e aspergidas. Em seguida, com as pessoas ajoelhadas, erguem-se as velas em forma de cruz, ou cruzadas e profere as palavras da bênção. O texto da bênção é o seguinte: “Pela intercessão de São Brás, Bispo e Mártir, Deus vos livre dos males da garganta e de qualquer outra doença. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Ao celebrarmos Deus, admirável e fonte de todas as bênçãos a quem São Brás amou e anunciou, sentimos a necessidade de sermos testemunhas do Senhor com todas as nossas capacidades e de nos colocarmos a serviço de todos. A bênção não é um gesto mágico que recai com efeito assombroso sobre as pessoas, mas é profundamente um ato de gratidão a Deus que nos cria. Com São Brás somos chamados a sermos despojados e autênticos evangelizadores com as graças que recebemos. Celebramos a bênção do Deus da vida que nos quer sempre bem.
Texto: Frei Fábio Vasconcelos, OFM.
REFERÊNCIAS
VARAZZE, Jacopo de. Legenda Áurea: vida de santos. Trad. Hilário Franco Junior, São Paulo: Companhia das letras, 2003.
CNBB. Comissão para a Liturgia divulga orientações para a bênção das velas no dia de São Brás. Disponível em: <https://www.cnbb.org.br/comissao-para-a-liturgia-divulga-orientacoes-para-a-bencao-das-velas-no-dia-de-sao-bras/>. Acesso em 13.jan.2022.
POEL, Francisco van der. São Brás. In: _______. Dicionário de Religiosidade Popular: cultura e religião do Brasil. Curitiba: Nossa cultura, 2013