“Sem terdes visto o Senhor, vós o amais. Sem o vedes ainda, nele acreditais. Isto será para vós fonte de alegria inefável e gloriosa.” (1Pd 1, 8).
A busca de Deus
Em meio a tantas questões em que o ser humano contemporâneo ocupa sua mente e seu tempo, surge a questão do vazio, de uma lacuna existencial que acaba por empobrecer o seu próprio sentido de ser. Busca o ser humano um sentido mais profundo, que sirva como moldura de sua existência, direcione seus atos e corresponda a suas inquietações. O que lhe pode apresentar a fé, senão aquilo ou Aquele do qual se pode ocupar a mente e o espírito, Deus? Mas nem sempre é assim.
A busca de Deus é, quase sempre, um subterfúgio. Um remédio necessário, porém, descartado quando já lhe é satisfatório ou quando lhe convém. Muitos exemplos podemos observar na história, em que o valor da religião e da fé estão em uníssono às necessidades humanas. A santidade, e até a salvação por meio da conversão, são assuntos que ecoam apenas entres as paredes da religião.
Se é urgente à humanidade esta mudança de parâmetros éticos e aspectos morais, igualmente se faz necessário compreender profundamente o sentido desta conversão mediante a sua fé. Que não se ocuparia em questionar-se do “para quê” converter-se, mas “para quem”. Uma vez que, na busca desenfreada por conhecer o princípio e o sentido de sua vida, o ser humano acaba por parar a um passo do nada. A presença de Deus e sua revelação na história por meio de Jesus Cristo encarnam na realidade humana justamente aquilo pelo qual ele busca, a si próprio.
Como viria a dizer Santo Agostinho de Hipona, o que com ele podemos repetir:
“Tarde Te amei, ó beleza tão antiga e tão nova. […] Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava. Mas Tu te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob tua guia e consegui, porque tu te fizeste meu auxílio. Tu estavas dentro de mim e eu fora. Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior.’ Eis que estavas dentro e eu fora! Estavas comigo e não eu contigo. Tocaste-me e agora ardo em desejos por tua paz.”
(Confissões 10, 27-29)
Um processo que deve ser pautado na realidade humana sem máscaras, na espontaneidade de uma vivência sem fingimentos, na intimidade daqueles que buscam a Deus verdadeiramente. “Convertere”, verter a sua história a ponto de transformar-se, como nos vai indicar a própria etimologia da palavra.
A Igreja nos proporciona um tempo rico para esta reflexão. A quaresma marca o ingresso do cristão no deserto de sua existência, para que, ao final deste percurso, que deverá durar quarenta dias segundo o ciclo litúrgico, possa o cristão encontrar-se consigo em Deus e, consequentemente, com os irmãos. Ao trilhar os passos de Cristo, perpassam o seu sacrifício em vista da ressurreição, que não foi realizada para si mesmo, mas para a humanidade inteira. Desta forma, tanto a conversão quanto a vocação não são aspectos a serem vividos isoladamente (Jo 15, 12-17).
É do meio do mundo que o Senhor nos chama, e é para o ceio da comunidade que Ele nos direciona a vivermos. Onde, por meio da sua palavra e segundo os seus ensinamentos, adentramos no mistério salvífico de Cristo e nos identificamos com a sua realidade, como parte integrante de nossa história humana. Desta forma “Conversão e Missão” são dois aspectos inseparáveis desta vivência em Cristo Jesus (1Pd 2, 21). Se, por meio da sua revelação na história humana Ele nos alcança, por meio de nossa voz e segundo a nossa liberdade Ele também se deixa conhecer. Assim, todos os homens e mulheres do nosso tempo têm igualmente a possibilidade de reconhecer o sentido pelo qual procuravam, e o podem contemplar no horizonte da fé.
Frei Diogo Henrique Oliveira, OFM.