“Deus te fez a flor mais linda. Ave Maria, Senhora de Nazaré”
Neste segundo domingo de outubro o sol torna a raiar nas ruas de Belém (PA), a música recomeça a tocar, o sino e o coração começam a repicar. Os promesseiros se dirigem ao Santuário, com joelhos ao chão e lágrimas nos olhos, para homenagear a Virgem de Nazaré, Mãe e Rainha da Amazônia.
Ao longo destes 230 Círios de Nossa Senhora de Nazaré do Desterro, muitas coisas se tornaram marcantes na mente e na fé do nosso povo. Basta recordarmos os prodígios da Mãe de Deus na pequenina imagem encontrada pelo caboclo Plácido José de Souza, a fé de mais de dois milhões e meio de pessoas, de diversas regiões da Amazônia e do mundo, que ganham as ruas para pedir e agradecer por tantas e variadas graças alcançadas por intercessão da Virgem.
Viver momentos marcantes como a passagem da santa durante as onze procissões da quinzena de festa, das homenagens ao longo do percurso, como a chuva de pétalas e papel picado, o coral de mil vozes, a procissão a bordo do navio Garnier Sampaio, o show pirotécnico dos estivadores. A presença de personalidades musicais, como: Fafá de Belém, Nilson Chaves, Lucinha Bastos, Pe. Antônio Maria, dentre outros. É fazer memória de pessoas marcantes que já passaram por este lugar, como Pe. Luciano Maria Brambilla, o poeta maranhense Euclides Farias (autor do hino “Vós sois o lírio mimoso”), Dom Alberto Ramos, do saudoso Dom Vicente Zico e da visita histórica de São João Paulo II (em 1980).
Uma mística carregada de simbologia, como a corda, a berlinda, os chamados “ex-votos” (feitos de miriti ou de cera), e a “imagem peregrina”, que carrega os traços da mulher amazônica. Cada um destes elementos, ajudou a dar à proporção ao que hoje é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré: a maior manifestação de fé mariana do mundo, instituído como “Bem Cultural” (IPHAN, 2004) e, desde 2014, Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, incluída nas rotas de turismo do Vaticano.
Para nós, filhos desta terra (naturais ou naturalizados), que carregamos esta fé como traço de nossa própria identidade amazônica, não é mais um círio. Após dois anos sem viver esta emoção, graças aos horrores vividos durante a pandemia, esta festa carrega a motivação necessária para reavivar a fé em Deus e aprender de Maria, “Mãe e Mestra”, o jeito certo de ser Igreja na Amazônia, construindo um mundo mais humano, solidário e fraterno.
A primeira missionária, e perfeito modelo de seguimento de Jesus, nos inspire, assista e conduza, para assumirmos com coragem os desafios da evangelização em nossa região amazônica. E a todos que viverão estes dias fortes de fé e devoção à Virgem de Nazaré, nos deixemos conduzir pela sua proteção materna, consagrando a Ela o nosso “Capítulo Custodial”, e dizer com muita alegria e fé: É Círio outra vez!
Feliz e Abençoado Círio 2022!
Frei Diogo Henrique, OFM