Frei Erlison Campos, 36 anos, natural Santarém (PA), nasceu no dia 25 de julho de 1987. O frade será ordenado presbítero da Igreja Católica, no dia 29 de junho de 2023, dia de São Pedro e São Paulo. A ordenação será realizada na Igreja São Miguel Arcanjo, no bairro Pérola do Maicá. O tema escolhido pelo frade, foi: “Para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena (João 15,11)”. A Ação de Graça, onde Frei Erlison presidirá pela primeira vez a Eucaristia, será no sábado 1º de julho na Igreja do Santíssimo Sacramento, a partir das 19h e no domingo, às 8h na Igreja São Miguel Arcanjo.
O frade conversou nesta quarta-feira (28), com a equipe de comunicação da custódia e contou a história dele até aqui. Frei Erlison revelou o que fazia antes de se tornar frade
Conte um pouco quem era o senhor antes de se sentir chamado para ser um frade?
FEC: Eu tinha uma relação muito grande com os frades. Eles sempre estiveram presentes na minha vida, mas antes eu nunca tive vontade de ser um franciscano. Lembro de pessoas memoráveis como Frei Paixão que ia na minha casa, ele conhecia minha família. Frei Valcy, que também foi vigário naquela área e Frei Alex, que era diácono no Arapemã. Eu tinha esse envolvimento com eles, mas nunca tinha pensado em ser frade.
Por ser filhos de pais separados, a gente precisa de alguma maneira ajudar em casa e quando era bem adolescente, minha mãe tinha uma escolinha e eu a ajudava nessa escolinha. Antes de terminar o ensino médio eu trabalhava como assistente administrativo na prefeitura. Então, comecei a minha vida de trabalho muito cedo e por ter começado a trabalhar cedo, acabei tendo um outro leque de amizades. Eu tinha os amigos que ia para as festas, uma vida boêmia mesmo, mas paralelo a isso, eu era envolvido na Pastoral da Juventude incentivado pelo Frei Paixão e mesmo sem ter idade para participar eu já era envolvido com a PJ.
A PJ foi uma grande escola para mim, porque, eu aprendi, tive formações, viajei para os interiores da arquidiocese e conheci ainda mais pessoas. E digo que foi uma das maiores escolas que tive na vida foi a Pastoral da Juventude.
Mas chega um certo tempo na vida que a gente vai se dando conta que falta algo. Eu passei em três vestibulares com 17 anos. Pelo Prouni passei em Jornalismo na antiga FIT, cursei um tempo, mas logo saiu que fui aprovado em Educação Física pela UEPA, mas não foi opção, pois era muito franzino e logo saiu o resultado da então gloriosa UFPA e fui aprovado no curso de Letras, esse fiz todo e me formei e tinha minha vida “normal”.
Como e quando o senhor se sentiu chamado para entrar na Ordem dos Frades Menores?
Um dia, eu conheci o Frei Raimundo Sena, que na época era vigário na antiga Área B. Saímos e começamos a falar sobre o ser frade, sobre a vida do ser frade e aquilo foi me despertando. Em outro oportunidade, Frei Raimundo me convidou para ir para o encontro vocacional, resisti, mas fui. Me lembro muito bem que o Frei Marcos Bezerra estava animando o encontro vocacional e foi tão lindo, mais tão lindo que me apaixonei naquele dia. Ali, tive a certeza que era esse algo que estava faltando na minha vida. Então, desde 2009 comecei a experimentar a possibilidade de ser um franciscano, mas paralelo a isso continuei estudando.
Qual frei o senhor tem como exemplo e quem foram seus primeiros frades formadores e a importância deles?
FEC: Nessa caminhada tenho muitos exemplos. Um grande exemplo para mim, como frade de base, Frei Paixão. Eu digo que o Frei Paixão, se tornou um Paiii…xão, porque de fato foi quem muitas vezes me incentivou e me apoio. Tem o Frei Raimundo que já se encontra no céu que foi quem me convido. Frei Raimundo dizia que eu teria um futuro lindo e estou esperando por esse futuro lindo (risos).
Quando eu escrevi a carta para entrar no postulantado quem era ministro custodial era o Frei João Schwieters. E no intervalo de escrever a carta e receber a resposta, houve troca do ministro custodial e quem me deu a resposta foi o então mais novo ministro custodial, Frei Francisco Paixão. O postulantado o nosso mestre foi Frei Marcos Bezerra, no noviciado Frei João Schwieters e no juniorato, Frei Elder Almeida.
Todos esses frades têm uma importância muito grande na minha vida e eu busco sempre colher o que eles têm de melhor como franciscano, como irmão para que o melhor deles faça parte da minha personalidade. Sou muito grato a eles e tenho eles como exemplo.
Desistir já foi uma opção?
FEC: Já foi uma opção desistir. Mas é uma opção que acontece não só na vida do Frei Erlison, mas na vida de todo mundo que faz qualquer coisa e nós frades não estamos isentos a isso. Nós temos crises, crises existenciais e eu acho importante essas crises, pois elas fazem parte do processo. Por exemplo, eu tinha a minha vida, estava construindo minha casa, tinha meu trabalho, tinha a vida que todo jovem quer. Aí você deixa tudo aquilo para morar na casa de formação, onde tudo é diferente, porque tem horário para tudo: para acordar, dormir, fazer isso e aquilo. E ainda tem a convivência com outras pessoas que você não conhece. É inevitável não aparecer as crises. Mas eu sempre acreditei que esta vida era a melhor vida a ser vivida, pois eu já tinha experimentado uma outra vida. Eu já tinha vivido a vida que todo jovem quer, mas me faltava algo e esse algo eu encontrei junto dos frades.
Eu acho que as crises acontecem, acho que são importantes para nossa caminhada porque nós aprendemos com as crises. Mas, se desistir foi uma opção, não é mais. Eu abracei essa vida, pois ela é a melhor vida a ser vivida.
Como o senhor discerniu a vocação presbiteral?
FEC:A opção presbiteral, não era uma opção em um tempo. Eu lembro que até no tempo do juniorato, eu tinha um pensamento, pois, eu tinha uma profissão de professor e sempre pensei que poderia ajudar a Ordem nesse campo da educação, ou até mesmo com a organização local. Era muito isso, eu me via como o Irmão Erlison, o Frei Erlison que não seria padre.
Aconteceu algo muito especial e importante na minha experiência entre os Munduruku. Eu penso que os Munduruku é um povo que estava acostumado com a figura do padre. Quando fui para lá e ensinava, e fazia formação e estava ali com eles me doando com meu melhor, me sentia muito amado por eles, mas sentia também que eles desejavam mais de mim. Eles também queriam que eu oferecesse o sacramento, que eu celebrasse o sacramento e tenho certeza que eles foram quem me ajudaram nesse discernimento. Aquele ano foi um grande retiro de discernimento e foi quando eu disse, quero ser ordenado padre.
Quais são os desejos para o futuro?
FEC:Meu desejo para o futuro é continuar partilhando alegria e continuar sendo a pessoa que eu sou. Esse é meu maior desejo. Onde me mandarem eu irei, pois eu entendo o mesmo caminho que farei para ir, vou voltar. Não quero me fixar a serviços e nem a lugares. Quero ser um frade que possa espalhar alegria, espalhar amor e ser um sinal de paz para as pessoas que servimos na Amazônia. Quero ser feliz e fazer as pessoas felizes.
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FEC:Rezem pelas vocações. Chegamos em um momento muito especial da vida do católico que é esse fato de não ter padres suficientes, religiosos suficientes para fazer a missão aqui na Amazônia. Então, meu convite é: Reze pelas vocações, reze por mim e sejam vocês também sinal de alegria, amor e paz para humanidade.