Posso remar por todo lugar…
Do mesmo modo como as ondas de um rio, nossa vida também é marcada por um constante ir e vir. É justamente nesse vai e vem da nossa vida que temos a oportunidade de reencontrar as pessoas que amamos e que fazem parte da nossa história. São esses momentos que nos fortalecem e nos enchem de esperança para continuarmos nossa jornada.
Após quase três anos vivendo nos Estados Unidos, tive a oportunidade de retornar ao Brasil para rever e abraçar meus confrades, familiares e amigos. Todo bom brasileiro sabe a importância de um abraço e como foi difícil ficarmos todo esse tempo sem poder expressar nosso carinho através deste gesto que nos caracteriza onde quer que estejamos. Certamente, esta foi uma oportunidade única e que me fez refletir ainda mais sobre a importância de desfrutar tudo de bom que a vida pode nos oferecer, especialmente as coisas mais simples.
Fazer a experiência desses reencontros em tempos tão incertos como os que estamos vivendo, foi realmente uma graça de Deus. Poder visitar, ouvir e consolar aqueles que perderam seus entes queridos foi doloroso, mas também, um aprendizado, afinal esta é nossa missão como frades menores, ser uma presença amiga e solidária para com aqueles que sofrem.
Depois de quase dezoito horas de viagem, finalmente chegamos a Manaus (AM) no dia 30 de maio. Desde então, experimentei momentos de grande alegria e fraternidade através da acolhida calorosa dos confrades que residem na capital amazonense. Ali, com toda a segurança necessária, visitei meus irmãos, minha irmã e outros parentes. Revi alguns amigos do tempo da faculdade e pude me “re-amazonizar” fazendo um passeio através da Floresta inundada pelas águas do Rio Negro na companhia de Frei João Messias. Segui viagem para Santarém (PA) e lá pude rever os confrades que residem na sede da Custódia. Mais sentimentos de boas-vindas e momentos fraternos. Acredito que um dos pontos positivos dessa pandemia foi exatamente este, nos fazer valorizar ainda mais esse aspecto da nossa vida franciscana. Estar reunidos como irmãos para partilhar, rememorar nossas histórias e sorrir juntos.
De Santarém segui viagem para a cidade de Monte Alegre (PA). Lá, junto com Frei Gregório, Frei Erlison, Frei Pedro e mais dois postulantes nos aventuramos em uma trilha pela belíssima Serra do Itauajurí. Naquele “Monte de Alegria” ainda visitei o Parque Estadual (PEMA), um verdadeiro tesouro arqueológico abrigado no meio da Floresta Amazônica. Retornei para Santarém e de lá, segui de lancha, para visitar os confrades que moram na cidade de Óbidos, minha terra natal. Além dos confrades, reencontrei amigos de infância e companheiros de caminhada dos tempos da Pastoral da Juventude (PJ). Também participei do encerramento da festa em homenagem a Santo Antônio. Mesmo com muitas atividades Frei Jacó e Frei Carlos me receberam de braços abertos e me proporcionaram bons momentos durante o tempo em que estive com eles.
Em seguida, viajei para a cidade de Faro (PA), onde meus pais residem atualmente. Uma longa viagem que logo foi recompensada ao ver meu pai no cais do porto debaixo de um sol intenso esperando por mim. Quando o barco aportou, pude finalmente receber seu abraço e pedir sua benção. Minha mãe e minha sobrinha me aguardavam para esse abraço em casa. Certamente estes foram os abraços mais gostosos e aconchegantes que recebi durante todo esse tempo. Foram quinze dias com eles recebendo todo cuidado e carinho, partilhando minha vida e minhas aventuras em terras estrangeiras. Ainda em Faro participei da festa de São João Batista, padroeiro da cidade e me deliciei com guloseimas da época: munguzá, vatapá, tacacá… E assim pude exclamar em meu peito: “Eita, saudade!”. Também fui convidado pelo Pároco local, Padre Antônio, para celebrar a palavra no dia da festa de São Pedro em uma pequena comunidade localizada às margens do Rio Nhamundá, um dos afluentes do Rio Trombetas.
Tudo muito bom, mas eis que chegou a hora de partir novamente. Desde criança aprendi que as despedidas são sempre difíceis. Porém, para quem mora na Amazônia elas parecem mais difíceis ainda. Porque, o barco demora a desaparecer no horizonte e os olhares marejados de quem fica no porto continuam a acompanhá-lo até que a embarcação, desapareça por completo na curva do rio. Mas, como falei no início deste texto nossa vida é um constante ir e vir e precisamos seguir adiante.
Lá vai canoeiro…
Retornei para Santarém e embarquei com destino a Itaituba (PA) onde fiquei uma semana ajudando a fraternidade local durante o novenário em honra a Senhora Sant’Ana. Como foi bom sentir a energia dos confrades e dos comunitários celebrando a festa da padroeira da cidade e da prelazia. Nas maravilhas que Deus têm realizado em minha vida, ainda deu tempo de voltar à Óbidos (PA) para passar a festa da Senhora Sant’Ana na minha cidade e agradecer por todas as bênçãos. De volta à Santarém a alegria foi tamanha ao participar da Assembleia Custodial, ainda que de maneira virtual. Um “pulinho” em Belém, só para tomar um açaí, e agora estava pronto para voltar.
Foi bom rever os irmãos e partilhar com eles essa maravilhosa experiência que estamos vivendo. Mostrar que mesmo distante fisicamente estamos irmanados a eles torcendo para que todos possam ter êxito em seus serviços junto ao povo de Deus. De volta aos Estados Unidos vou me readaptando a esta realidade. É hora de reiniciar a missão e minha missão por hora é estudar. Damos continuidade aos nossos estudos teológicos procurando aprender tudo o que podemos para, depois voltar para a nossa realidade amazônica. Sou grato a Deus pela oportunidade que tive de retornar ao Brasil e recarregar as energias para dar continuidade a minha missão. Minha sincera gratidão a todos pela acolhida e pelas orações de cada um. Nas idas e vindas da vida, nos reencontraremos, com certeza.
Frei Vagner Sena, ofm
Acadêmico de Teologia na Catholic Theological Union (CTU), Chicago – IL