História

Os Franciscanos na Amazônia: Um olhar histórico

Assim como na história do Brasil, os Franciscanos estiveram presentes na história da Amazonia desde os primórdios da evangelização. Apesar de a Foz do Rio Amazonas ter sido visitada pelos exploradores espanhóis ainda na última década do século XV e de algumas célebres expedições descendo o grande rio desde os domínios espanhóis de além dos Andes, ainda durante o século XVI, somente na segunda década do século XVII foi iniciada a conquista da Amazônia pelos portugueses, iniciando por São Luis do Maranhão e Belém (1613-1616), mais de um século depois da chegada das caravelas de Cabral à Bahia. Também nos inícios da entrada dos europeus na grande região Norte do Brasil, inicialmente toda ela chamada de “Maranhão”, os filhos de São Francisco se fizeram presentes, sejam os Capuchinhos Franceses, em São Luis, ou os Franciscanos das Províncias de Portugal. Para uma visão bem detalhada desta presença franciscana no Maranhão e Grão-Pará, no período colonial, recomendamos uma visita à obra de Maria Adelina Amorim, Os Franciscanos no Maranhão e Grão-Pará. Missão e Cultura na metade de Seiscentos.  Edição do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, Lisboa 2005. 

A primeira época: presença franciscana na Amazônia Colonial

Os frades menores estiveram presentes na região amazônica – Capitanias do Maranhão e Grão-Pará – desde as expedições contra os franceses, no Maranhão, em 1614, até a segunda metade do século XVIII. Seguindo uma divisão dos territórios da região entre os grupos missionários, determinada pelo Rei D. Pedro II, de Portugal, em Carta Régia de 19 de março de 1693, os frades das três províncias portuguesas que atuavam na região, chamados à época de “Capuchos”, um dos ramos da reforma dos observantes, ficaram encarregados das missões situadas ao norte do Rio Amazonas e do Cabo do Norte. Um território que abrangia o arquipélago do Marajó, Cabo do Norte (Atual Amapá), Gurupá e as localidades da margem esquerda do rio Amazonas: Almeirim, Prainha, Monte Alegre, Alenquer, Óbidos, Faro, etc. topônimos que foram impostos pelo novo “Diretório de 1757”, maior expressão da política pombalina para os domínios coloniais lusitanos do Maranhão e Grão-Pará. Como resultado dos muitos conflitos entre os missionários presentes na região e o governo despótico do Marquês de Pombal, grande parte dos missionários que atuavam na região desde os inícios da colonização foram expulsos. A maior luta foi com os Jesuítas (Companhia de Jesus), mas também muitos Franciscanos foram expulsos e houve um desmonte e destruição geral do sistema missionário dos aldeamentos indígenas. Os frades das três províncias que atuaram na região até 1757 se retiraram das missões por não concordarem com o novo regime paroquial imposto pela legislação pombalina.  

Entre o final do período colonial e o início da época imperial, já com o Brasil independente, a presença franciscana continuou, pelo menos até 1830. Entretanto, as restrições e a política de sufocamento impostos pelo Estado à vida religiosa, junto a outros fatores internos à própria vida religiosa, os frades menores foram desaparecendo da cena. Quem se destacará em algumas missões na região, em meados do século XIX, serão os Capuchinhos, que também são presença franciscana na região. 

A segunda época: recomeço missionário na Amazônia do século XIX

Os frades menores retornaram à região na última década do século XIX, com tentativas frustradas de estabelecimento de novas missões no Amazonas. Frades italianos e holandeses, que diante do clima e das doenças endêmicas da época, acabaram migrando para os Estados do Sudeste e Sul. Uma nova presença, mais estável e duradoura, dos franciscanos na região, veio quando os frades menores foram chamados para assumir a Prelazia de Santarém. Erigida em 1903, a imensa Prelazia de Santarém abrangia cerca da metade do Estado do Pará. Diante de tal extensão territorial e da ausência de clero e de missionários, a Santa Sé recorreu aos frades menores para lhes lançar o desafio de cuidar da nova Prelazia. Foi assim que, a partir de 1907, a Província Franciscana de Santo Antônio do Brasil começou a enviar missionários para Santarém e região do Baixo-Amazonas. Entre 1907 e 1957, 77 frades daquela Província, grande parte deles alemães, passaram pela Prelazia de Santarém. Entre os frades missionários da primeira leva, dos inícios do século XX, junto com Dom Frei Amando Bahlmann, alguns vieram da Província da Imaculada Conceição do Brasil. Ambas as Províncias, do Nordeste e do Sudeste do Brasil, tinham sido restauradas com missionários provenientes da Alemanha. Quando as duas Províncias se encontravam totalmente restauradas e já com numerosas vocações brasileiras, os frades alemães, sempre movidos por forte espírito missionário, aceitaram o desafio de missionar nas terras amazônicas, enfrentando o clima diferente, as doenças endêmicas, as distâncias enormes, uma vida cheia de sacrifícios. Quando, na década de 1950, a Prelazia de Santarém já contava com um bom número de frades norte-americanos, da Província do Sagrado Coração de Jesus, dos Estados Unidos, os frades da Província de Santo Antônio, junto com Dom Floriano Lowenau, a partir de 1957, assumiram os cuidados pastorais da Prelazia de Óbidos, recém-criada, separando o extremo Oeste do Pará da Prelazia de Santarém. A história dos frades menores, ao longo do século XX, nesta parte da Amazônia, é muito marcada por um forte espírito missionário. Os frades não vinham dar alguns anos de sua vida na missão: vinham dispostos a dar todo o tempo de sua vida! 

A terceira época: novo sopro e ardor missionário na Amazônia

Desde a retomada da presença franciscana na região, a partir de 1907, até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Província de Santo Antônio de Brasil conseguiu prover a Prelazia de Santarém com frades missionários, a maioria deles de origem alemã. O contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) tornou muito difícil e até impossível o fluxo de novos missionários alemães em direção ao Brasil. As necessidades pastorais cada vez maiores da imensa Prelazia de Santarém exigiam mais mão-de-obra para assistir melhor as comunidades católicas espalhadas ao longo dos rios e lagos da extensa região. Havia também as populações indígenas, ribeirinhos e quilombolas, com presenças missionárias precárias desde os finais do século XIX. 

Frente a estas carências da Prelazia, Dom Anselmo Pietrulla, Bispo Prelado de Santarém desde 1941, fez um apelo ao Ministro Geral da Ordem dos Frades Menores, solicitando o envio de missionários para a região. Ele sugeriu buscar estes missionários nas províncias franciscanas dos Estados Unidos, àquela época muito ricas em número de vocações. Atendendo à solicitação de D. Anselmo, em inícios de 1943, Frei Mathias Faust, delegado geral da Ordem para a América do Norte enviou uma carta ao Provincialado dos Franciscanos da Província do Sagrado Coração de Jesus, dos Estados Unidos, apresentando o apelo do Ministro Geral para o envio de missionários franciscanos para assumirem responsabilidades por alguma área específica da imensa Prelazia de Santarém, no Norte do Brasil. O apelo foi lançado no dia 1º de março de 1943 e, em uma semana 28 frades apresentaram-se como voluntários para a nova missão. Nem todos chegaram a vir ao Brasil, mas grande parte daqueles jovens frades foram enviados para a região e alguns deles deram o melhor de suas vidas nesta missão. 

No dia 25 de junho de 1943 chegava o primeiro grupo de frades estadunidenses em Santarém. Eram eles: Frei Junípero Freitag, Frei Severino Nelles, Frei Tadeu Prost e Frei Conleth (Frei Tiago Ryan). A partir de então, sucessivos grupos de frades foram sendo enviados para o novo Comissariado dos Franciscanos do Rio Tapajós, que logo seria transformado em Custódia do Sagrado Coração de Jesus, vinculada à Província do Sagrado Coração de Jesus. Em pouco mais de dez anos – entre 1943 e 1955 – o Comissariado dos Franciscanos do Rio Tapajós, em crescimento constante em número de frades missionários, estaria apto para assumir os cuidados pastorais da Prelazia de Santarém. Em 1957, foi erigida a Prelazia de Óbidos, tendo como seu primeiro Bispo Prelado D. Floriano Lowenau. E junto com D. Floriano, os frades alemães e brasileiros pertencentes à Província de Santo Antônio assumiram os cuidados pastorais da nova prelazia, deixando as casas e paróquias da Prelazia de Santarém com os frades da nova Custódia Franciscana, erigida pela Província do Sagrado Coração de Jesus. Mesmo com a criação da Prelazia de Óbidos, a Prelazia de Santarém continuava com um território muito extenso, equivalente ao tamanho da Itália. A custódia do Sagrado Coração de Jesus continuou crescendo numericamente com o envio de novos frades missionários da Província-Mãe dos Estados Unidos e com as primeiras vocações brasileiras que foram surgindo. A Província de Santo Antônio continuou enviando frades para cuidar da Prelazia de Óbidos, que abrangia toda a parte noroeste do Estado do Pará, entre os municípios de Alenquer e os municípios da fronteira com o Estado do Amazonas. As duas Prelazias evoluíram para o “status” de Dioceses, desde a década de 1980 e hoje não dependem mais dos franciscanos para atender pastoralmente suas numerosas paróquias e comunidades urbanas e rurais. Um clero diocesano autóctone surgiu e cresceu ao longo das últimas décadas. Assim, as antigas Prelazias cumpriram sua missão de implantar e construir as Igrejas Locais na região, entre o início de século XX e início do século XXI, com a participação ativa dos frades menores, que aos poucos foram se retirando e dando lugar a novos grupos, sobretudo ao clero diocesano local. 

A Custódia do Sagrado Coração de Jesus foi erigida em Vice-Província, com o título de São Benedito da Amazônia, em 10 de março de 1990. Depois de cerca de 15 anos como Vice-Província, retornou ao status de Custódia, passando a se chamar Custódia Autônoma de São Benedito da Amazônia, por não ser mais dependente de uma Província da Ordem, mas diretamente vinculada ao Ministro Geral. 

Esta entidade franciscana, erigida há 31 anos, tem a sua Cúria Custodial em Santarém, no Pará. Atualmente, está presente nas Igrejas locais da Arquidiocese de Santarém, Arquidiocese de Belém, Arquidiocese de Manaus, Diocese de Óbidos, Diocese de Roraima e Prelazia de Itaituba. A Custódia tem 40 membros, entre frades professos solenes, professos temporários e noviços, além de 8 jovens postulantes. A Custódia compõe-se atualmente de nove casas. Uma fraternidade interprovincial, da Conferência dos Frades do Brasil e Cone Sul, em Boa Vista (RR) e uma missão entre o povo Munduruku do Alto Tapajós (PA). Os noviços da Custódia fazem o ano de noviciado na casa de noviciado São Benedito o Mouro, em Montes Claros (MG), pertencente à Província Franciscana de Santa Cruz. 

 

Frei Edilson Rocha da Silva, OFM*

Cronologia da Custódia

O Começo
Desde o início, o trabalho dos frades concentrou-se em Santarém e nos centros maiores dos Rios Amazonas e Tapajós, tais como: Óbidos, Monte Alegre e Alenquer. Para as regiões mais distantes de Santarém, como Amapá e do Xingu, Dom Amando procurou outras congregações religiosas para assumirem os trabalhos. Desta forma, 7 das 20 Paróquias já existe no ano de 1907, dentro em breve passaram aos cuidados das congregações. O restante das paróquias, 13 no total, tornaram-se área de residência e trabalho franciscanos.
1911
Dois frades da Província Imaculada Conceição e mais um da Prelazia, subiram o Rio Tapajós até o Rio Cururu, onde fundaram a Missão São Francisco entre a nação Munduruku. Foram eles: Fr. Hugo Mense, considerado o “paím”, líder espiritual entre os indígenas, Fr. Luís Wand e Fr. Crisóstomo Adams.
1911
A Missão
O trabalho pastoral nos centros maiores consistia em fundar e espalhar associações religiosas (irmandades) para garantir a frequência entre o povo cristão aos atos religiosos e aos sacramentos. O trabalho na zona rural e comunidades ribeirinhas se chamava de “desobriga”, visitas periódicas e infrequentes para realizar os sacramentos de batismo, eucaristia, matrimônio, extrema unção e, principalmente, horas e horas de confissão. Segundo Dom Amando: “...era necessário cuidar também do progresso material”: aquisição de alguns edifícios, construções de igrejas, conventos, colégios, hospital e orfanato. A construção do Convento São Francisco, em Santarém, se deu em 1916, tendo no porão a primeira Escola de São Francisco.
1939
O Encontro
Poucos dias depois da eleição do Papa Pio XII, morreu Dom Amando na cidade de Nápoles, na Itália, em 05 de março. Ele estava de viagem “ad limina” para o Vaticano.
1939
1940
Milhares de “soldados da borracha” foram encaminhados para os seringais do rio Tapajós e de seus afluentes, região onde alguns anos antes, a Companhia FORD tinha implantado uma cultura racional de seringueiras, em duas grandes plantações no Rio Tapajós: Fordlândia e Belterra. A Igreja de Santarém situada nesse contexto contemplava meios de ampliar seus quadros para atender as novas frentes de serviços criados pela chamada “mobilização econômica da Amazônia”, que o governo brasileiro promovia com ajuda financeira e técnica dos Estados Unidos.
1940
1941
Mons. Anselmo Pietrulla chegou para substituir o falecido bispo D. Amando como Administrado Apostólico. Foi sagrado bispo em 08 de fevereiro de 1948 e transferido para Diocese de Campina Grande, no Estado da Paraíba, em 1949.
1941
1943
Diante da dificuldade da vinda de frades alemães para o Brasil, por causa da Guerra, o Mons, Anselmo conseguiu frades franciscanos da América do Norte para vir e abrir residência na Tapajônia. A Província Franciscana do Sagrado Coração de Jesus da América do Norte recebeu instrução da Cúria Geral da Ordem de enviar 4 Padres, a fim de iniciarem os trabalhos da cura d´almas no Rio Tapajós. Foram eles: Fr. Junípero Freitag, Comissário Provincial, Fr. Severino Nelles, Fr. Tiago Ryan e Fr. Tadeu Prost. Chegaram em Santarém no dia 25 de junho de 1943. Os primeiros dois não permaneceram por muitos anos no Comissariado, porém os outros dois foram eleitos bispos, Dom Tiago assumiu a Prelazia de Santarém em 1958 e Dom Tadeu, em 1963, tornou-se Bispo-auxiliar de Belém. Logo os cuidados pastorais das comunidades da Tapajônia, também das plantações caiu para os frades norte-americanos. Porém, aí foi que eles enfrentaram seu primeiro conflito. As plantações foram gerenciadas por técnicos americanos, de religião protestante, e consequentemente, não permitiam a presença dos padres, a não ser somente nos domingos. A situação e o protesto logo foram enviados ao Provincial dos Estados Unidos, que sua parte fez contato com o então Cardeal-arcebispo de Detroit, sede da Companhia FORD. O cardeal mui-conhecido do velho Henry Ford, o fez entender que, se não resolvesse a caso imediatamente, o escândalo seria levado à imprensa americana. Não demorou em conseguir uma solução. A Tapajônia, entregue a seus cuidados pastorais, os frades norte-americanos logo fixaram residências em Belterra, Boim, Fordlândia e Itaituba.
1943
1956
Mudança
Sentido necessidade de uma casa de procuração na capital de Belém, Fr. Tadeu Prost à procura de uma residência que, enfim, foi encontrada na Praça Batista Campos. Ao lado da casa, construiu-se uma pequena capela ao redor da qual formou a grande Paróquia de Santo Antônio de Lisboa.
1956
1957
III Desmembramento – com a criação da Prelazia de Óbidos.
Quando se processou a criação da Prelazia de Óbidos, aconteceu também a separação dos dois comissariados franciscanos, ficando o comissariado dos frades alemães com a nova Prelazia de Óbidos e o dos frades norte-americanos com a Prelazia de Santarém.
1957
1958
A posse dos dois Bispos:
Enquanto Dom Frei Tiago Ryan, do Comissariado do Sagrado Coração de Jesus, foi consagrado o quarto Bispo-prelado de Santarém, Dom Frei Floriano Loewenau conduziu seus conterrâneos para Óbidos e assumiu a nova prelazia como seu primeiro Bispo-prelado. Durante vinte anos Dom Floriano liderou a Prelazia de Óbidos, até sua renúncia em 1973. Ele foi substituído por Dom Frei Constantino Luers, cuja permanência no cargo foi apenas de quatro anos, quando foi transferido para a Diocese de Penedo no Piauí. Em 1979 foi nomeado o terceiro bispo-prelado de Óbidos, Dom Martinho Lammers, franciscano que já vinha trabalhando na Prelazia desde 1965 e que assumiu como Administrador Apostólico, em 1977, até ser eleito bispo-prelado. No momento, ele permanece no cargo, mas aguarda a nomeação de seu sucessor. Desde a chegada de Dom Amando Bahlmann e os primeiros frades franciscanos, a cidade de Óbidos e as cidades dos arredores foram atendidas pelos frades da Província de Santo Antônio do Brasil. Até quando houve o desmembramento, a nova Prelazia de Óbidos continuou a ser servida pelos fardes da mesma província. Porém, com a passagem dos anos, principalmente na época em que foi criada a Vice-província São Benedito da Amazônia, os fardes de Santo Antônio se reduziram muito, e o número de frades da nova entidade foi pouco demais para atender a todos os lugares de antigamente. Hoje, então, há apenas uma única fraternidade de 4 frades na prelazia, e está na cidade de Óbidos.
1958
1958
O envio de estudantes franciscanos dos Estados Unidos para o Brasil.
Em respostas aos apelos de Dom Tiago, que já visava um corpo docente para o ensino e cultivo de vocações sacerdotais, o Provincial Fr. Pio Barth, dos Estados Unidos, determinou um novo processo de adaptação e enculturação para os missionários-professores, destacados para o Brasil. A partir do ano de 1958 seriam enviados anualmente dois frades, depois do primeiro ano de teologia, para completar seus estudos de teologia no Brasil e antes de assumir sua nova função na Prelazia de Santarém.
1958
Formação Sacerdotal
Foi Dom Tiago que completou um dos sonhos de Dom Floriano, de iniciar a formação de vocação autóctones para servir a Igreja da prelazia. Para este empreendimento, foi construído, fora dos limites da cidade, o Seminário São Pio X, em homenagem ao Papa que criou a Prelazia de Santarém.
1962
Nesse ano Dom Tiago abre as portas do novo seminário, que recebeu o nome de São Pio X, para a primeira turma de 39 seminaristas, sendo o primeiro reitor o Fr. Alexandre Dowey, com um corpo docente de seus confrades. Ao iniciar a formação de candidatos ao sacerdócio diocesano, o bispo solicitou entre os franciscanos sua colaboração, dando preferência em estabelecer um clero nativo antes de promover a vida religiosa franciscana. E assim foi feito durante a primeira fase do funcionamento do seminário. No final do ano de 1976, Dom Tiago ordenou o primeiro sacerdote diocesano, Padre Valdir Sôares Serra, para a Prelazia de Santarém. A sua primeira função foi de Reitor do Seminário. Nesta mesma época, dois padres franciscanos solicitaram dispensa da Ordem para assumir como sacerdotes diocesanos e fortalecer as primícias de um clero nativo: Padre (Frei) Edilberto Sena e Padre (Frei) Luís Azevedo.
1962
1963
A Custódia viveu sua primeira tragédia com a morte do Fr. Othmar Rollman. Levando cimento e tijolos em sua voadeira, entre a Vila de Prainha e Monte Alegre, foi despencado da lancha quando entrou em águas turbulentas. Como era o seu costume, ele estava vestido de hábito franciscano.
1963
1964
Neste ano começou a funcionar a Rádio Educadora de Santarém, hoje conhecida como a Rádio Rural, criada principalmente para a evangelização e a educação base. A montagem da rádio foi fruto dos trabalhos de dois entendidos no assunto: Fr. Nestor Windolph e Fr. Roberto Mizicko.
1964
Desenvolvimento
Um dos primeiros empreendimentos após a celebração do Vaticano II foi a organização e estruturação da Catequese Rural. Seu primeiro coordenador foi Fr. Ricardo Duffy, frade carismático, pois, apesar da língua que falava, todos o entendiam na sua. Através das Semanas Catequéticas anuais, realizada pela primeira vez em 1966, ele e sua equipe preparavam multiplicadores para voltarem a suas comunidades do interior ou de ribeirinhas, para ajudar na formação de seus comentários. Tendo agora um esquema para a Celebração da Palavra, surgiram equipes locais para dirigir os Cultos Dominicais em todos os lugares. Mais tarde com a instituição de Ministro Extraordinários da Eucaristia, as comunidades começaram receber com frequência a comunhão, sem ter que esperar a visita do padre.
1970
Depois de sua ordenação sacerdotal, Dr. Frei Lucas Tupper iniciou seu trabalho de médico-sacerdote por abrir a “Clínica dos Pobres” no bairro do Caranazal. Impressionado com tantos casos de doenças endêmicas ele resolveu aumentar a equipe de assistentes de enfermagem e começar campanhas de imunização, tanto na cidade como no interior. Para atingir as comunidades ribeirinhas, ele conseguiu uma lancha grande da Marinha dos Estados Unidos, que foi convertida num verdadeiro hospital fluvial. Depois de oito anos de serviço, voltou a seu país de origem para fazer cursos mais especializados sobre doenças tropicais. Foi neste período que ele morreu tragicamente, em 1978, numa colisão de motocicleta com um carro.
1970
1971
O coordenador da nova “ Pastoral Urbana”, Fr. Miguel Kellet iniciou seu trabalho na cidade de Santarém, procurando em todos os bairros líderes entre o povo. Com estes, começaram a aparecer “Grupos de Vizinhos”: grupos de pessoas que moravam numa mesma vizinhança, que reuniam semanalmente no quintal de alguém e refletiam sua vida e caminhada À luz da Palavra de Deus. Foram os precursores das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), que se desenvolveriam mais tarde.
1971
1971
Com a chegada, de uma só vez, de cinco neo-sacerdotes no mês de fevereiro, Fr. Edilberto Sena, Fr. Estevão Csotty, Fr. João Schwieters, Fr. Luís Azevedo e Fr. Miguel Grawe, começou-se uma nova forma de vida fraterna. Formaram-se duas pequenas fraternidades na então periferia da cidade, nos bairros de Fátima e Santíssimo. Foi uma tentativa de viver a vida mais simples e de aproximar-se mais do povo. Desta experiência nasceu um plano de Formação inicial da Custódia. Casas de candidatos surgiram na periferia, o Noviciado foi levado para o mato, os professores simples passaram a morar perto das capelas servidas nos bairros. Mesmo depois das casas mais estruturadas, mantém-se hoje o espírito que incentivou a convivência daqueles novos tempos de ser Igreja.
1971
1972
Outro momento histórico vivido neste tempo foi o famoso “Encontro de Santarém”. Pela primeira vez os Bispos da Amazônia se encontraram em Santarém para discutir em cima dos desafios e caminhos da Igreja da Amazônia, à luz do Vaticano II. O documento que foi redigido do encontro foi: “Linhas prioritárias para a Pastoral da Amazônia”. Um dos bispos que chegou para participar foi Dom Pedro Casaldáliga, da Prelazia de São Félix do Araguaia, que vinha escondido da polícia, pois foram tempos em que se viviam as repressões da Ditadura Militar. 25 anos depois, em 1997, os Bispos da Amazônia reuniram-se novamente, desta vez na cidade de Manaus, para avaliar e celebrar a caminhada. Desse encontro saiu o documento: “A Igreja se faz carne e arma sua tenda na Amazônia”.
1972
1973
O ano começou com uma tragédia. Fr. Vicente Fuerst voltava da Fazenda Maloquinha (Itaituba-PA) para Santarém, no dia 23, quando o avião pequeno em que ele viajava encontrou maus tempos perto de Boim e caiu, matando-o junto com mais duas pessoas.
1973
1974
A Abertura das Rodovias transamazônica e Santarém-Cuiabá.
A cerimônia das duas grandes rodovias aconteceu no mês de agosto, no local onde depois se construía a cidade de Rurópolis. A abertura das Estradas marcou uma nova era para a prelazia e a pastoral, pois abrangia agora numerosas comunidades e colônias, conforme as “glebas” cedidas pelo Governo Federal aos migrantes vindos de toda parte do brasil. Fr. Pedro Amen, que foi o primeiro missionário das Estradas, se tornou também funcionário do MOBRAL, visitando e avaliando o progresso dos alunos durante suas visitas pastorais.
1974
1981
Luzes
No dia 15 de agosto, na Praça Barão de Santarém foi ordenado Bispo-auxiliar, Dom Frei Lino Vombommel. Ele veio da Província da Imaculada Conceição do Brasil, onde servia de Vigário provincial. Depois de dois anos como auxiliar, foi eleito Bispo-coadjutor, com direito de sucessão. Em 1985, D. Lino assumiu como Bispo-titular da Diocese de Santarém. Ele ficou na chefia da Igreja até o ano de 2007, quando foi substituído pelo primeiro Bispo-diocesano, Dom Esmeraldo Barreto de Farias, que foi empossado Bispo de Santarém dia 22 de abril.
1981
1981
Os tempos foram agitados por cousa da situação política no país, e a Igreja, como os fardes também, foi rachada entre “militares” e “pelegos”, na tentativa de tomar posição cada vez mais firme quando às questões de justiça. Os estudantes de teologia, ligados ao curso no Instituto regional dos Bispos do Norte II, o IPAR (Instituto Regional da Pastoral) dividiu o tempo de estudos entre momentos acadêmicos e prática. Por isso, três deles moravam no interior de Monte Alegre, na comunidade de Açu das Três Bocas. Sobre seu envolvimento entre os movimentos populares, lia-se numa crônica da Custódia: “Uma série de artigos no Jornal de Santarém, onde vários membros do PDS local acusam o trabalho da Igreja de subversivo, comunista e agitador. As acusações pesaram principalmente sobre Frei Gregório Joeright e os Seminaristas, acusados de estarem insuflando os agricultores para deixarem de pagar a mensalidade do Sindicato da categoria” e assim por diante.
1981
1982
No meio de muitas complicações na Custódia, o Provincial dos Estados Unidos nomeou Fr. Miguel Kellet o novo Ministro Custodial. Naquele momento ele se encontrava no meio do povo Munduruku da Missão Cururu. Mas no espírito de obediência veio de lá e assumiu a liderança da Custódia, conduzindo-a com sabedoria e serenidade, como era de seu costume. Ele foi capaz de conciliar os dois lados e unir novamente as forças, qualidade de liderança que o fez permanecer no cargo durante onze anos. Sua morte, como sua vida, foi inspiração para todos seus confrades, pela maneira que acolheu e abraçou a Irmã Morte, em 14 de abril de 2007.
1982
1988
IV Desmembramento com a criação de Itaituba.
No ano do desmembramento, a igreja na região de Itaituba tinha completado 130 anos de caminhada, pois passou por várias etapas de assistência: de Capuchinhos, Jesuítas, Agostinianos e de Diocesanos. Depois de ser criada a Prelazia de Santarém, a Igreja de Itaituba começou a ser administrada pelos Franciscanos Comissionado de Santo Antônio do Brasil, sendo entregue aos frades norte-americanos depois de 1944.
1988
1988
Ano da nomeação do primeiro bispo-prelado de Itaituba, Dom Capistrano Hein, frade franciscano da Custódia do Santíssimo Nome, de Anápolis – Goiás. O novo bispo tomou posse na festa de São Francisco, na presença Bispo da Região Norte II, os fardes da região e sua Custódia de origem, e povo vindo das estradas, as margens dos rios, dos garimpos, das aldeias indígenas e da área urbana, representando a Igreja diversificada da nova prelazia.
1988
1988
Mediante as recomendações do Ministro Geral, fr. John Vaughn, iniciaram-se reflexões na Custódia sobre a eventual criação de uma nova entidade franciscana na Amazônia. Os membros seriam derivados das três entidades já existentes na área: da Província Santo Antônio do Brasil, da Província do Sagrado Coração (USA) e da “Custódia de Santarém”. Fr. Dario Campos foi designado a apresentar e conduzir o processo. No ano seguinte, em 1989, quando o processo já estava bem encaminhado, ele veio novamente pregar o retiro da Custódia, frisando o espírito do novo começo” a partir da instalação da nova entidade. Foi um tempo de expectativa, de ânimo e de coragem para embarcar para o futuro.
1988
1990
Nova Entidade Franciscana do Brasil – Custódia São Benedito da Amazônia
Na crônica do novo provincial, Fr. Miguel Kellet foi gravado o momento da inauguração da nova entidade franciscana. “No dia 10 de março, Frei Roberto karris (Provincial dos EUA), leu a declaração da fundação da Vice-Província de São Benedito da Amazônia; foi assinada a Aliança entre a Província do Sagrado Coração e a Vice-Pronvícia de São Benedito; Frei Irineu Wilges [Vigário Geral] anunciou o novo definitório: Frei Miguel Kellet. Ministro Provincial, Frei Gregório Joeright, Frei Francisco Paixão, Frei João Schwieters e Frei Francisco José da Silva, definidores. Frei Dario, o Visitador Geral, leu que o nome da nova entidade seria São Benedito da Amazônia com sede em Santarém, Pará. Frei João Vaughn [Ministro geral] fez o pronunciamento”. Desde a sua fundação, os seguintes irmãos serviram como provincial: Frei Miguel Kellett, (1990-1993), Frei Edilson Rocha, (1993-2002), Frei João Schwieters, (2002-2010), Frei Paixão (2010-2019) e novamente, Frei Edilson Rocha (2020...)
1990
De 10/03/1990 a 31/01/1993
Frei Miguel Kellett foi o primeiro custódio eleito.
De 10/03/1990 a 31/01/1993
De 31/01/1993 a 20/01/2002
Frei Edilson Rocha da Silva foi eleito como provincial. O frade, com então 37 anos, foi o primeiro brasileiro a assumir o governo da então Vice-província.
De 31/01/1993 a 20/01/2002
De 20/01/2002 a 08/11/2010
Fr. João Schwieters, natural de Saint Cloud, Minessota (EUA), na época com 58 anos, foi eleito o terceiro provincial de São Benedito da Amazônia. Com o passar do tempo a Ordem decide não adotar mais organização em vice-províncias, deixando apenas a divisão em Custódias e Províncias. Assim, dia 08 de dezembro de 2004, foi canonicamente erigida como Custodia Autônoma São Benedito da Amazônia.
De 20/01/2002 a 08/11/2010
2007
2007
Nesse ano uma intensa programação comemorativa marca o ano do centenário da chegada de Dom Amando e dos primeiros frades a região do Baixo-amazonas e Tapajós.
2007
De 08/11/2010 a 25/10/2019
Frei Francisco de Assis Paixão foi eleito como Custódio. O frade, que tinha na primeira eleição 52 anos, passou nove anos coordenando a entidade. Dentro do governo de Frei Paixão destacamos 2012, a celebração do centenário da presença junto ao Munduruku. E em 2014 o início da reforma do Convento São Francisco, sede custodial.
De 08/11/2010 a 25/10/2019
De 25/10/2019 até 15/11/2022
Atual governo da Custódia São Benedito da Amazônia é composto: custódio, Frei Edilson Rocha; vigário, Frei Gregório Joeright e conselheiros: Frei Marcos Bezerra, Frei John Araújo, Frei Rodolfo Pimentel e Frei Rômulo Canto.
De 25/10/2019 até 15/11/2022
De 16/11/2022 até os dias atuais
O governo da Custódia São Benedito da Amazônia é composto: custódio, Frei Edilson Rocha; vigário, Frei Gregório Joeright e conselheiros: Frei Marcos Bezerra, Frei John Araújo, Frei Rodolfo Pimentel e Frei Rômulo Canto.
De 16/11/2022 até os dias atuais