Maria na história da evangelização na Amazônia

Foto: Adobe Stock

Apesar do título acima remeter a algum possível estudo “histórico” sobre a presença de Maria na história da evangelização em nossa região, este pequeno texto não tem nenhuma pretensão neste sentido. Seria necessário uma pesquisa e um espaço bem maior para tratar do tema, sem dúvida, muito importante para nós católicos. Maria, Mãe de Jesus e de todos os seus discípulos e discípulas (cfr. Jo 19: 25-27), está presente em toda a história da evangelização, desde os inícios da Igreja (cfr. At 1: 12-14). Mas é evidente que na história da evangelização da América Latina e particularmente do Brasil, a presença dela é muito marcante. Do mesmo modo, ela está presente na história da evangelização na Amazônia, desde os inícios. 

Não é preciso fazer uma grande pesquisa para provar o que está afirmado acima. Basta lançar um olhar sobre os inúmeros santuários marianos que a devoção popular na Igreja, movida pelo amor e pela fé, fez erigir desde os primórdios da evangelização. Desde as primeiras décadas do século XVI, com a Virgem de Guadalupe, passando por todo o período colonial, com Nossa Senhora Aparecida e a Virgem de Nazaré (em Belém do Pará), no século XVIII, a devoção popular a Maria só cresceu por toda a América do Sul. Praticamente todos os países da América Meridional têm seus grandes santuários marianos. 

Em nossa região, o tradicional Círio de Nazaré, com mais de dois séculos de tradição, é muito emblemático como manifestação de devoção à Mãe de Jesus e Mãe da Igreja, reunindo a cada ano pelo menos dois milhões de devotos para o Círio.  Algum antropólogo ou cientista social já o definiu como “carnaval devoto”, talvez pela dificuldade de se encontrar um termo adequado para definir o fenômeno que é esta manifestação de devoção popular a Maria, em Belém do Pará. 

Os santos e santas padroeiros das nossas cidades, vilas e qualquer povoação na Amazônia foram escolhidos, provavelmente em sua maioria, por influência dos missionários que atuaram na região, desde o período colonial. Assim, onde estiveram os Jesuítas, será normal se encontrar Santo Inácio de Loyola; os Franciscanos, São Francisco de Assis; os Carmelitas, Santa Teresa d’Ávila etc.  Mas será também muito comum encontrar, por toda a região, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora do Carmo, Sant’Ana (que alguns chamam de “Senhora Sant’Ana”).  

Foto: Arquivo Custódia São Benedito da Amazônia

As maiores cidades da Amazônia têm Maria por padroeira, em diferentes títulos, mas predominam Nossa Senhora de Nazaré e Imaculada Conceição.  Por exemplo, Belém, Manaus, Santarém, Abaetetuba, Almeirim etc. Também existe o fenômeno da combinação de dois padroeiros na mesma Paróquia, como em Almeirim, onde a comunidade celebra a Imaculada Conceição e São Benedito. Uma das festas de santo mais populares da Amazônia, depois de Nossa Senhora da Conceição, é São Benedito, africano. Mas, se lançarmos um olhar mais apurado, vamos perceber que Maria, em seus diferentes títulos, é a preferida como padroeira do maior número de comunidades católicas na região amazônica. 

Apesar das transformações culturais trazidas pela urbanização e pelo fenômeno do crescimento avassalador do neopentecostalismo, que entre outras coisas combatidas com intolerância e violência iconoclástica, estão a devoção e o culto marianos, a presença maternal da Mãe de Jesus permanece no inconsciente coletivo, o que a gente vê escapar de vez em quando, em forma de interjeição: “ave Maria”, “Virgem Maria”, “Nossa Senhora!”, “minha Mãe do Céu”…   Expressões que podem sair espontaneamente da boca de qualquer pessoa, mesmo não católica nem devota.  Do mesmo modo, a grande devoção a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, com os santuários lotados o dia inteiro, nos dias terça-feira, por milhares de devotos cumprindo suas nove terças-feiras…  Há muitos sintomas que manifestam uma presença de Maria enraizada nas profundezas da alma de muita gente.

Podemos considerar sem dúvida que esta presença de Maria, consciente ou inconscientemente, vivida com fé e devoção ou simplesmente como uma reminiscência do passado religioso de alguém, se deve à presença terna e materna de Maria na Evangelização da América Latina, do Brasil e da Amazônia. Em cada lugar, Maria assume as feições de seus filhos e filhas, amados por ela como o Filho Jesus. Na Amazônia, pluriétnica e pluricultural, Maria assume um rosto materno indígena, como o assumiu em Guadalupe, no México.   

Nossa Senhora da Amazônia, rogai por nós e nos ensine a lutar pela Ecologia Integral! 

Frei Edilson Rocha, OFM

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