Natal

Arte: Frei Fábio Vasconcelos, OFM

Todo ano temos o costume de montar o presépio em nossas igrejas e casas. Podemos olhar para o presépio e perguntar: o que de fato enxergamos? A cena é do nascimento de Jesus, aquilo que aconteceu 2000 anos atrás! Esta cena nos atrai, gostamos de olhar e contemplar. Mas, pensando bem, não foi nada de extraordinário. É simplesmente a cena do nascimento de uma criança e uma criança pobre, algo que acontece todos os dias. Mas, a cena do nosso presépio é especial e só pode ser compreendido com os olhos da fé. A fé enxerga para além das imagens no presépio, para algo que nos toca, pois é uma cena da manifestação do verdadeiro amor. Deus assumiu a nossa natureza, foi ao nosso encontro para nos indicar o sentido da vida e nos mostrar o caminho do amor e da verdade.

Foi justamente esta cena que Francisco de Assis queria contemplar e reviver quando no ano de 1223 ele queria lembrar o menino que nasceu, como foi posto no presépio e ver com os próprios olhos o menino deitado em cima da palha entre o boi e o burro. Vieram as Clarissas e frades de todos os cantos com tochas nas mãos para iluminar aquela noite não só com a luz do fogo, mas com a luz do menino que nasceu. O povo chegava e o mistério foi renovado com muita alegria, pois a voz do povo ressoava por toda parte: “Glória a Deus nas alturas e paz aos homens de boa vontade”.

Nesta noite em que nós celebramos e lembramos o fato do nascimento de Jesus, da encarnação do próprio Deus em nosso meio, podemos usar nossa imaginação para reviver o que passava no pensamento dos personagens daquela noite do Natal e as perguntas que faziam às pessoas que testemunharam os fatos, mas não só naquela noite, que fazem para nós que celebramos o nascimento de Jesus hoje.

O profeta, por exemplo, disse para o povo: vocês ouviram o que ouvi? Uma voz que ressoava no meu coração que dizia: “O povo que andava na escuridão, viu uma grande luz; para os que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu.” Foi este anúncio do menino que recebeu o nome “Príncipe da Paz” que fazia reacender nos corações a esperança e a certeza de que Deus acompanhava seu povo no caminho da vida para realizar a salvação e ser luz para todos.

Depois, podemos imaginar o que o menino pastor podia ter dito aos cordeirinhos: vocês viram o que vi? Uma estrela a brilhar lá no céu como um grande sinal, sinal de luz e de amor. O próprio Deus se fez carne e até os astros do céu brilham como luz para iluminar todos os homens e todas as mulheres e até os animais louvam a Deus.

E Maria o que ela deve ter dito a José: você conhece o que conheço? Um menino, um menino tremendo no frio, envolvi em panos e o deitei na manjedoura. Quem diria que este menino seria sinal de contradição e uma espada ia traspassar meu coração naquele dia quando eu recebi meu Filho nos meus braços depois de ser descido da cruz, ia ser envolvido em panos e deitado na sepultura.

O que o anjo disse aos pastores: Vocês cantam o que canto? Hoje nasceu para nós o Salvador, que é o Cristo o Senhor! Uma boa notícia trago para vocês que será uma grande alegria para todo o povo. Nasceu o menino que governará o mundo todo com justiça e os povos julgará com lealdade. “Cantai ao Senhor um canto novo, cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira! Cantai e bendizei seu santo nome! (Sl 95, 1).

E José, o que ele pode ter dito ao grande rei: Você faz o que faço? Um decreto publicado, um recenseamento por toda a terra e eu subi de Nazaré até Belém com Maria que estava grávida. Completaram os dias para o parto e ela deu à luz um lindo menino entre os animais e os pobres dos campos. Foi por amor que fiz, o amor que ultrapassa todo poder e prepotência.

Agora com os olhos da fé, olhamos para o presépio e fazemos aquelas mesmas perguntas para nós mesmos. O que ouvimos nesta noite? Não é somente a voz do profeta, mas os clamores de Deus que nos chamam a acreditar e permanecer na luz de Jesus que ilumina nossos passos na escuridão da noite.

O que vemos nesta noite? Não é só a estrela no alto do presépio e das nossas árvores de Natal, mas a verdadeira luz que brilha quando nós e até os animais louvam a Deus por tão grande mistério.

O que conhecemos nesta noite? Não somente uma doutrina ou uma devoção, mas o verdadeiro encontro de Deus que enviou seu Filho por meio do sim de Maria. O mesmo sim de Jesus, um sim que levou até as últimas consequências no alto da cruz e que continua sendo a manifestação do verdadeiro amor.

O que cantamos? Não cantamos somente os hinos tradicionais do Natal, mas deixemos penetrar nos nossos corações o canto de toda a criação que louva a Deus por tão grande mistério do Menino Deus presente entre nós.

O que fazemos? Esta pergunta deve ser respondida por cada uma de nós e, para responder, é preciso olhar para dentro de nós e recordar a experiência que nos leva a compreender que o presépio é o encontro de Deus conosco, que a Boa Notícia continua acontecendo hoje e que nós vivemos a experiência do presépio quando seguimos o mandamento do amor que Jesus nos ensinou. E para viver o amor que Jesus nos ensinou, não podemos separar o Natal da nossa vida – quem contempla o presépio contempla a vida e reconhece o compromisso de lutar em favor da vida das pessoas, da natureza e de toda criatura.

Por: Frei Gregório Joeright, ofm

Referências:

BORTOLINI, Padre José. Roteiros Homiléticos: Anos A, B, C, Festas e Solenidades. Brasil: Paulus Editora, 2014.

COSTA, Padre Antônio Geraldo Dalla. Buscando Novas Águas. Disponível em: https://www.buscandonovasaguas.com/index.php?menu=home. 

A Fé Compartilhada – Pe. Luís Pinto Azevedo

 

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