O 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base do brasil – 2ª parte

Foto: Arquivo Pessoal/Frei Francisco Paixão

Já se passaram quase três semanas da missa de encerramento do 15º Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base do Brasil, em Rondonópolis – MT, mas ainda está vivo na minha memória auditiva os arroubos de alegria da multidão em festa pelo retorno desses encontros que nos dão esperança de uma Igreja em saída, tão desejada pelo Papa Francisco, e que continua presente nas comunidades dos pobres pelo Brasil afora. Que maravilha!

Neste segundo tempo do meu artigo, descrevo mais algumas informações deste que foi o meu 5º Intereclesial. Estive presente em Santa Maria RS, em 1992 (8º), em Ipatinga MG, em 2005 (11º), em Porto Velho RO, em 2009 (12º), em Londrina PR (14º), e este agora (15º), em Rondonópolis MT. Como dizia nos escritos passados, essa presença nos intereclesiais é reflexo do meu comprometimento com as Comunidades Eclesiais de Base por toda a minha vida franciscana e sacerdotal. Por isso eu digo: obrigado, Senhor!

O tema de reflexão do encontro, meditado e discutido pelas Comunidades do Brasil com bem antecedência, foi muito feliz e atual, acolheu o que o Papa Francisco tem nos pedido desde o início do seu pontificado: “CEBs: Igreja em saída na busca da vida plena para todos e todas” e o lema, “Vejam! Eu vou criar novo céu e uma nova terra” (Is 65,17a). De que Igreja se trata? Aquela que se faz povo de Deus com opção pelos pobres e opção de classe trabalhadora. E “em saída” para onde? Para as periferias geográficas e sociais, na busca da construção de condições objetivas e materiais que garantam vida plena para os seres humanos e para toda a biodiversidade. “Saída” que exige trabalho de base e formação bíblica, teológica, política, ecológica, etc. Dom Vital, bispo de Rondonópolis, na sua mensagem final, expressou um pensamento que traduz tudo que disse antes: “o clima do encontro com suas reflexões e discussões me fez sentir como se o Papa Francisco estivesse caminhando entre nós, pelos Biomas e Casa Comum”. O tema da sinodalidade foi uma realidade em todos os relatórios dos trabalho realizados nos Biomas e Regionais. Papa Francisco, presente!

Foi um encontro de oração e cantorias. Todas as manhãs, os momentos de oração iluminaram os trabalhos do dia, conectando com a Divina Ruah todas as formas de vivenciarmos nossa espiritualidade, de maneira libertadora e envolvendo a comunidade, a sociedade e todos os seres vivos da Casa Comum. A Equipe de animação e cantoria, ao longo dos dias, nos embalava com músicas libertadoras, letras e melodias críticas e entusiasmantes, todas do Cancioneiro do 15º Intereclesial das CEBs. “Quem canta uma música boa (libertadora), reza duas vezes!”

O Intereclesial, como de costume, seguiu o método do VER, JULGAR/DISCERNIR e AGIR. Deste modo todas as pessoas presentes tiveram oportunidade de se expressar desde os pequenos grupos, nos regionais, nas plenárias dos Biomas e na grande plenária, chamada de Casa Comum. Para o primeiro dia, que era o VER a realidade, o povo foi dividido em seis Biomas: Amazônia, Pampas, Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. No segundo dia as discussões dos Biomas foram socializadas em forma de mutirão na grande plenária; houve um aprofundamento com o assessor Pedro Ribeiro; em seguida foi introduzido o momento do JULGAR, com uma reflexão bíblica feita pela assessora Téa Frigerio. O terceiro dia, para o discernimento de como enfrentar as injustiças que impedem a irrupção do Reino de Deus, a assembleia foi dividida em cinco plenárias temáticas: CEBs, sinodalidade e poder na Igreja; CEBs e dimensão político-social; CEBs e Economia da Francisco e Clara; CEBs e Ecologia Integral; e CEBs e Educação. Em todas as plenárias foram consideradas a transversalidade de temas como: juventude, negritude, questão de gênero, migração, comunidades tradicionais (povos indígenas, comunidades quilombolas, ribeirinhos, etc.), projeto de sociedade e ecumenismo. Aqui foram criticados com intensidade as relações sociais que geram o clericalismo, o patriarcado, o machismo, o racismo, a homofobia, a devastação ambiental e outras violências que aviltam a dignidade humana e reduzem a mercadorias a terra, as águas e toda a biodiversidade.;

Durante o Intereclesial foram destacados três grandes clamores, com afirmação unânime de toda a assembleia: (1) os clamores dos povos negros diante das relações sociais escravocratas que reproduzem cotidianamente racismo estrutural; (2) os clamores dos povos indígenas vítimas de genocídios e de invasão de seus territórios e ainda sob ameaça da brutal tese do Marco Temporal já aprovado na Câmara Federal; (3) os clamores das Juventudes também vítimas de genocídio e da amputação de oportunidades para desabrochar seu infinito potencial de humanização.

Apesar de todas as dificuldades, a caminhada das CEBs persiste e resiste. E o Trem das CEBs segue avante. O 16º Intereclesial será acolhido no seu berço: Vitória do Espírito Santo, celebrando assim, 50 anos de caminhada. Suplicamos que a Divina Ruah e a Trindade Santa continuem guiando a caminhada das pequenas e pobres Comunidades Eclesiais de Base do Brasil, com muito amor no coração na utopia do Reino de Deus. Que os representantes e as representantes que vieram ao 15º sejam verdadeiros multiplicadores desse Pentecostes que foi o Intereclesial, fazendo ressoar essa Boa Nova nas Paróquias e Comunidades do meio do Povo. Que as forças contrárias às CEBs, na sociedade e na própria Igreja, não nos esmoreçam. Sigamos animados na construção de uma Igreja viva, em saída, sinodal, sempre a partir dos menores injustiçados.

Paz e Bem!

por: Frei Francisco Paixão, OFM

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