O amor na Querida Amazônia

Foto: Arquivo Custodial

Um poema de amor 

O nome da exortação pós-sinodal de 2019 chama atenção por usar a expressão “querida”. O Papa optou por utilizar um título que evoca a personificação da Amazônia como amada. A saudação querida exprime um forte bem querer e também uma intimidade. É o amor que deseja e quer ver o melhor para essa região. Francisco age poeticamente como assim como o irmão de Assis que chamou irmãs as criaturas, chamou de senhora santa a pobreza e nomeou como senhoras as virtudes. 

O teólogo Paulo Suess afirma que a Querida Amazônia é uma carta de amor com quatro sonhos. No texto, Francisco de Roma faz um diálogo amoroso com a amada Amazônia. Isso nos faz recordar também a profecia poética de Isaías quando diz: Nunca mais te chamarão “Desamparada”, nem se dirá de tua terra “Abandonada”; mas haverão de te chamar “Minha querida”… (cf. Is 62,5). A atitude de Francisco é de um apaixonado que busca cuidar e aprender com a sua amada. Segundo Suess a carta é ainda uma declaração de amor. 

O amor é certamente uma forte categoria teológica. A identidade cristã passa pelo gesto profundo do amor. Uma importante atitude cristã. Podemos ainda recorrer a várias definições do amor, para citar um exemplo temos a clássica tríade grega (Eros, Ágape e Philos) mas nenhuma delas anuncia mais que os gestos. Vejamos então em quais pontos e como a Querida Amazônia fala do amor. 

Amor e profecia 

A palavra amor aparece pela primeira vez no título chamado “profecia da contemplação” (QA, 55).  Nele se diz que com os povos nativos aprendemos a amar a Amazônia e não apenas usá-la. Aqui se propõe uma relação que não seja interesseira, mas profunda e sincera.  Como o amor materno, afirma o Papa, ao dizer que esse sentimento de união íntima fará com que a Amazônia seja para nós como uma mãe. Esse é o amor que preenche as criaturas e que origina no Pai de todos os seres. Celebraremos assim um fraternal amor cósmico. Os amorosos gestos de Deus nos conclama então a escutar os gritos da Amazônia (QA, 57). 

Na sua ação missionária na Amazônia a Igreja deve refletir o amor infinito de Deus. Esse anúncio deve ser encarnado de forma apaixonada manifestando a beleza do mistério pascal. Indispensável na Amazônia é evangelizar com o anúncio fundamental da fé cristã e na vivência do amor fraterno (QA 65). Uma proclamação amorosa do enlace entre fé e vida. A amizade, escuta e luta com os povos da Amazônia que brotam do amor cristão devem cada vez mais auxiliar no caminho da inculturação do evangelho. Sem amor não tem inculturação e nem verdadeira atividade missionária. Esse processo é “um amor ao povo cheio de respeito e compreensão” (QA, 78). 

Foto: Arquivo Custodial

Um amor amazônico 

No tópico sobre o dom das mulheres a exortação afirma que as mulheres na comunidade manifestam o amor de Deus, prolongando a força e ternura de Maria. Esse amor das mulheres da Amazônia pela Igreja fez com que estivessem sempre sustentando, cuidado e animando a vida das comunidades. O ardente amor materno de Deus, comunicado de muitos modos as comunidades cristãs, é um tesouro que deve também ser comunicado. Desse modo, as Igrejas são chamadas a testemunhar ecumenicamente a ternura divina na Amazônia, ajudando a construir uma civilização do amor. A paixão pelo reino impele então a muitos gestos comuns pelo bem viver da Amazônia. 

Na oração à Mãe da Amazônia que conclui o documento o amor é mencionado em dois trechos. No primeiro é um pedido para que o amor de Jesus seja derramado nos homens e mulheres que vivem na Amazônia, a fim de que saibam admirar e cuidar dela. E prossegue, suplicando que o Filho nasça nos corações dos fiéis e brilhe na Amazônia, em seus povos e culturas, com o conforto do seu amor. Deus é então a fonte de amor e nos conduz para uma vivência harmoniosa e amorosa no seio da querida Amazônia.

Fábio Vasconcelos, OFM

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